sábado, agosto 31, 2013

Ali di farfalla

Este post foi publicado originalmente em 18 de Dezembro de 2011 e republicado especialmente para um casal de amigos.

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Pelos idos dos anos oitenta, era moda dizer que o bater de asas de uma borboleta poderia causar um vendaval no outro lado do mundo. Um modo para ilustrar como todas as coisas estão relacionadas. Hoje sabemos que não é exatamente assim. Na realidade não são apenas as borboletas que têm essa capacidade: tudo e todos somos delicadamente interligados, responsáveis uns pelos outros e pelos acontecimentos em todo lugar, presentes e futuros. A passividade, a anuência e a indiferença causam vendavais.

Do mesmo modo que viajantes do tempo não interferem no passado pela consciência das consequências, quando observamos nosso próprio passado podemos apenas reviver as emoções, pois não podemos modificá-lo para não modificar todo o presente e colocar em risco todo o futuro. O nosso passado é o passado de todos. Os nossos presente e futuro são presente e futuro da história. Somos todos asas de borboletas, frágeis e responsáveis pelo destino do universo
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terça-feira, agosto 20, 2013

Paciência tem limite



Numa publicidade do café Lavazza, a cena inicial explora características típicas femininas e masculinas: a mulher que faz um monte de perguntas e o homem que se impacienta.

Meu limite para questionários vai até a primeira pergunta. Na realidade, termina um pouco antes, mas consigo me controlar. Ou que falso calmo eu seria? Com o cérebro sempre em ebulição, preciso de pausas longas para absorver perguntas e elaborar respostas. Não é raro eu dar uma resposta absurda e sem sentido a alguma pergunta:

▬ O que você pretende fazer a respeito disso?

▬ O brasão da ferrovia tem um urubu amarelo.

Mas eu também posso simplesmente responder “amanhã eu vejo isso.” Como não gosto de procrastinar, “amanhã eu vejo isso” significa somente que não haverá uma resposta. Lá pela terceira ou quarta pergunta, quando o funeral da minha paciência terá terminado faz tempo, a fuzilada visual pode ou não ser acompanhada de um breve “amanhã”. Nesses momentos, não insistir e me deixar em paz é o caminho mais seguro para evitar o apocalipse.

Quer me ouvir falar a noite inteira? Evite começar o bate-papo com uma pergunta fechada (daquelas que só permitem uma resposta: “essa parede verde ficou uma maravilha, não é?”). Converso sobre tudo, até sobre assuntos que não domino, só não gosto ter de concordar com a opinião alheia nem de me sentir obrigado a tomar posições. Sou um bom observador que não gosta de ser observado. E sou prático. Normalmente já decidi o que fazer a respeito daquilo e tenho uma opinião sobre aquele verde horrível na parede, mas prefiro não me exprimir. Para não ser contestado ou para evitar ser diplomaticamente hipócrita: “lindo, esse verde!” Quando eu quero a opinião alheia – o que não é um crime –, eu peço. “Amanhã eu vejo isso” costuma ser uma resposta suficientemente absurda  e silenciadora na maioria dos casos.

Mas tem o lado divertido: observar a expressão de quem ouve uma das minhas respostas absurdas. Diante do meu ar sério e da minha segurança, poucos entendem na hora o que está acontecendo. A cara de “oi?”, “...hein?”, “não entendi” e “será que ele tá me gozando?” desarma o gatilho cerebral da próxima pergunta. E se, na semana seguinte, a pessoa volta ao assunto dizendo que não entendeu a minha resposta, fico olhando sem responder [fingindo uma expressão de “oi?”, “...hein?”, “não entendi” e “será que ele tá me gozando?”] e pergunto depois de uma pausa mais longa que o normal: “do quê você tá falando?”

Quer saber? Se eu tivesse uma irmã como aquela da propaganda da Lavazza, eu não iria terminar no paraíso.

sábado, agosto 17, 2013

Numa praia italiana

Ela [observando a camisa que ele ganhou da sogra]:

- Fucsia...!???


Ele [sem a menor ideia do que ela está falando] olha para o copo quase vazio e responde:

- Caipirinha com suco de maracujá.

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segunda-feira, agosto 12, 2013

Dicas sobre o verão na Itália - II

Antes de enfrentar Ferragosto, o feriado mais esperado do ano (AQUI, AQUI, AQUI e AQUI), lembrei de algumas outras dicas que podem melhorar o seu verão na Itália.

Bermuda, saia curta e ombros de fora impedem a entrada em qualquer igreja e em muitos museus na Itália. No Vaticano, nas vizinhanças da Basílica de São Pedro – por exemplo – existe um comércio rentável de camisetas, chales e calças (de papel) para o turista desavisado; em outras cidades, nem sempre. Melhor não arriscar.

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Observe se o museu permite fotos e não insista. Flashes são sempre proibidos. Ao contrário da Inglaterra, onde são grátis, os museus italianos cobram ingresso, exceto na última quinta-feira do mês.

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Viajar de trem ou alugar um carro? Em cidades como Roma e Milão, a melhor transporte é o público. Você não perde horas procurando estacionamento nem tendo que fazer um mapa de onde deixou o carro. Mas se você for para uma cidade a beira mar como Nápoles, o carro he permite rodar pelos arredores e conhecer a Costa Amalfitana, por exemplo. Em viagens longas, prefira o trem e a possibilidade de apreciar a paisagem.

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Evite o deserto que é Milão (nos dois sentidos: quente e vazia) durante o verão. A época do shopping é mais tarde.

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Se você optou por alugar um carro durante o verão italiano, prepare-se para enfrentar horas de congestionamento nas autoestradas (Autoestrade). Os aneis viarios que circundam as grandes cidades são um prato cheio para que gosta de mau humor. De Milão ao Mar Adriático, por exemplo, o trecho que passa por Bologna vai ficar impresso na mente como o segundo pior momento das férias. Atrás somente do trecho da volta para Milão. Eu avisei: vá de trem.

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E se você estranhou a proibição do uso de tamancos em Capri (por causa do barulho), saiba que existe um universo de leis bizarras: em Eraclea, próximo a Veneza, é proibido fazer castelos de areia; em toda a Itália “é proibido exercer a profissão de charlatão” e “um homem que usa saia é passível de prisão”; nas proximidades de uma feira ou evento público, as bicicletas devem ser conduzidas a mão; muitas cidades proibem comer pela estrada, sentar-se nas escadas de igrejas e monumentos públicos e consumir bebida alcoólica pela rua; dar comida aos pombos? Nem pensar!

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O calor está insuportável e você está longe da praia? Procure uma piscina pública e refresque-se. Pública não significa grátis. A entrada é paga, mas sem burocracia: pagou, entrou. E se não correr na borda da piscina nem perturbar os outros, vai poder aproveitar até o horário de fechamento. Na maioria das piscinas é permitido levar comida e bebida, mas algumas proibem as caixas térmicas duras. Compre uma bolsa térmica e aproveite. O verão não dura pra sempre.
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domingo, agosto 04, 2013

Cutucada verbal



Italiano gosta muito de parecer mais europeu do que já é, como se a Itália estivesse mais ao norte, ali pros lados da Holanda e da Bélgica e, apesar de orgulhar-se por ser a Itália o berço do latim, mãe de outras línguas,  deixa claro que o italiano é uma língua única. Concorda?

Uma das diferenças entre brasileiros e italianos está no contato físico. Apesar do italiano ser festeiro e de gesticular teatralmente, os contatos no dia a dia na Itália respeitam uma certa formalidade, sabia? Já o brasileiro gosta mesmo é de um abraço apertado, tapinha nas costas e beijinhos no rosto, não é mesmo? Mas esse tipo de comportamento não deve ser repetido por aqui, ok?

O mesmo vale para quem gosta de cutucar, entendeu? Sabe aquela pessoa que cutuca com o cotovelo ou com a ponta dos dedos? Pois é, aqui também tem. Mas como o contato físico nem sempre é apreciado, usa-se a cutucada verbal, fui claro? E se você ficou na dúvida sobre o que eu chamo de “cutucada verbal”, vou logo esclarecendo: hein?, não é mesmo?, hum?, entendeu?, fui claro?, né?, e aí?, concorda comigo?, ok?, então?, sabe? ...(A lista é longa). Pior quando a cutucada é dupla, física e verbal.

Quem cutuca espera uma resposta, obriga a uma tomada de posição ou ponto de vista. A cutucada verbal tem sempre uma interrogação e a resposta deve concordar com a opinião do cutucador. Caso contrário a cutucada pode virar um soco, uma agressão: “Ah, você não sabe de nada!” [“non capisci un cazzo!”] Minha tática para evitar atrito e mal estar: basta um sorriso. O silêncio costuma falar mais, nessas horas. Entre a cutucada física e a verbal, prefiro a distância. Também fujo das perguntas fechadas (aquelas que só permitem uma resposta: “você não vai fazer isso, vai?”) e me defendo no silêncio. Afinal, a pergunta já se respondeu e o interlocutor só espera que eu concorde.

Se o tempo não me trouxe sabedoria, ao menos se ocupou de transformar a minha elegante diplomacia num gélido silêncio. Aprendi que não preciso responder nem ter opinião sobre tudo. Hoje sou mais zen: que cada um fale a besteira que quiser e será reribuido com um sorriso. Basta calar e sorrir, que sorrir foi das poucas coisas que restaram do jovem dândi. 
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quinta-feira, agosto 01, 2013

Luz de Agosto






Linearidade interrompida, do Mississipi ao Po.
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