domingo, janeiro 30, 2011

Sorteio no "A Janela Laranja" e blogs de italianos

O Márcio do blog A Janela Laranja está promovendo um sorteio para os seguidores do Brasil através do Twitter: “Siga o @ajanelalaranja e o @suicadetrem. Envie uma frase bem criativa para o perfil @ajanelalaranja nos contando porque você gostaria de conhecer Zurique, Genebra e Lugano de trem.

A frase mais criativa leva um kit cheio de souvenir da Suíça, tem até relógio Swatch no Kit.

As frases devem ser enviadas de 27/1 a 6/2. O resultado sai no dia 9/2. Confira o regulamento neste link.

Você ainda não conhece o blog A Janela Laranja? Trata-se de um dos melhores blogs sobre viagens e fotografia da rede! :)

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Alguns blogs de italianos que vivem, viveram ou gostam do Brasil:

- A Lunna muitos já conhecem. É uma italiana que vive, escreve e agita no Brasil (quando não vem matar a saudade na Itália).

- A Sandra morou no Brasil e já voltou. Mas acho que deixou um pedaço por lá.

- O Franco chegou há pouco no Brasil e já sente na pele o preço de expatriar. Mas não perde o bom humor. Para os interessados, ele decidiu montar um blog com as receitas clássicas italianas em português.

- O Marco está há tanto tempo que podemos considerá-lo brasileiro. E se você tiver interesse em aprender a língua italiano, ele ministra um curso de italiano.

- Já o Vincenzo se interessa pelas coisas do Brasil, possui um olhar muito atento e um bom gosto admirável.

- O Antonio vive na Itália, na deliciosa e movimentada cidade de La Spezia e está aprendendo o português. Acho que ele está se preparando para uma viagem que poderá durar… Quem sabe?

Acho interessante conhecer o próprio país pelos olhos de estrangeiros, mesmo que alguns desses já não sejam tão estrangeiros assim. É divertido descobrir que as dificuldades que encontramos aqui, quando chegamos, são as mesmas que alguns deles enfrentam no Brasil. Com o tempo vamos nos sentindo em casa e esquecemos as diferenças, para nos concentrarmos em aproveitar a ventura. E você? Possui uma lista de estrangeiros interessantes como esses?
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terça-feira, janeiro 25, 2011

Quando o presidente é uma presidenta

Estive lendo a respeito do tratamento reservado à nova ocupante do Palácio do Planalto. Muita controvérsia e muitas bandeiras foram levantadas. Há quem prefira continuar usando o termo sem flexão, Presidente Dilma, com a mesma veemência de quem encontrou argumentos para adotar o termo flexionado, recém criado, Presidenta Dilma.

Uma língua é como um ser vivo, que se modifica e se adapta. Contudo, é preciso buscar a etimologia e evitar criar modismos ou expressões pouco convincentes. Mesmo assim, às vezes, basta a convicção de que uma nova expressão deve ser criada para suprir uma falta. Dos textos que andei lendo, cito apenas dois, ambos interessantes e escritos por mulheres, como a Dilma. O da Denise Arcoverde defende o uso de presidenta, enquanto o da Cláudia Antonini não deixa claro (mas sugere) o termo que adotou.

Decidi perguntar ao oráculo, que responde pelo nome de Aldo Pereira, jornalista, ex-editorialista e colaborador especial da Folha de São Paulo, com muitos, mas muitos anos de jornalismo sério, além de excelente redator. A resposta do Aldo à minha pergunta veio em um e-mail, que reproduzo abaixo:

“Meu caro Allan

Em minha opinião (que não vale nada), presidenta é extravagância desnecessária, mas -- que fazer? -- já acolhida em dicionários. Paciência.

Presidente deriva do latim, præsidens "[aquele ou aquela] que senta adiante, à frente"; "o/a que vigia"; "o/a que guarda". Por sua vez, præsidens é particípio presente do verbo præsideo, "presido". (Embora exista præsidere, flexão válida nos modos imperativo e infinitivo, os verbos são convencionalmente referidos, em latim, na flexão da primeira pessoa do presente do indicativo, e não, como os do português, no modo infinitivo.) Præsidens virou presidente porque, em geral, substantivos e adjetivos originários do latim entraram no português a partir da flexão do acusativo, caso correspondente ao objeto direto dos verbos transitivos. Ou seja, a rigor presidente não provém de præsidens, mas de præsidentem (forma do acusativo).

Lembro-me (um tanto vagamente, já faz aí uns 65 anos) de ter visto o "particípio presente" reconhecido numa gramática, se não me engano o Português Prático do Marques da Cruz, uma das edições da década de 1940, quando era bíblia gramatical de muitos ginasianos. Não me lembro tampouco de todos os paradigmas; apenas que, nessa gramática, ou nalguma outra da época, tenente era o particípio presente de ter, assim por diante. O particípio presente figurava ao lado do "particípio passado" (hoje meramente "particípio") e nada tinha a ver com gerúndio. (Gerúndios e gerundivos são duas outras urticárias da complicadíssima gramática do latim.) Mas os exemplos corresponderiam decerto, respectivamente, a "presidente", "presidido" e "presidindo".

Voltando ao latim, veja como seria declinado o particípio presente de præsideo (sim, particípios presentes dos verbos eram formas nominais, e, nessa condição, declinados como se fossem adjetivos da terceira declinação, com a importante diferença, note, de não ter formas de gênero distintas para o feminino e o masculino, apenas flexões correspondentes a gênero neutro, a caso e a número).


Número
Singular
Plural
Caso\Gênero
Masc. e fem.
Neutro
Masc. e fem.
Neutro
nominativo
præsidens
præsidens
præsidentes
præsidentia
genitivo
præsidentis
præsidentis
præsidentium
præsidentium
dativo
præsidenti
præsidenti
præsidentibus
præsidentibus
acusativo
præsidentem
præsidens
præsidentes
præsidentia
ablativo
præsidente
præsidente
præsidentibus
præsidentibus
vocativo
præsidens
præsidens
præsidentes
præsidentia








 Quod erat demonstrandum.

Do particípio presente das quatro conjugações de verbos regulares do latim provieram muitos substantivos e adjetivos do português. De particípios presentes da primeira conjugação latina (desinência do infinitivo presente ativo, are) temos adjetivos e substantivos terminados em ante. Da segunda e da terceira conjugações (desinências respectivas: ēre, no qual o mácron do primeiro e indica sílaba longa, e com isso torna o infinitivo paroxítono, e ĕre, no qual a braquia do primeiro e indica sílaba breve, o que torna proparoxítono esse infinitivo) provêm substantivos e adjetivos terminados em ente. E da quarta conjugação, desinência ire, provêm os poucos terminados em inte. Há exceções, porque, no passar dos séculos, as linhas de evolução etimológica se entrecruzaram, especialmente a da 2ª com a da 3ª, mas até mesmo na primeira: por exemplo, apesar do sufixo ente, demente e consulente derivam de verbos da 1ª conjugação, dementare e consultare. Mesmo nos derivados da primeira conjugação, portanto, a correspondência não é perfeita.

Não conheço tentativas de diferençar os gêneros de adjetivos que descendem do venerável particípio presente latino. Que eu saiba, ninguém ainda tentou dizer que Fulana não fica *eleganta em sua roupa aliás *chocanta" etc. Entre substantivos, o neologismo especioso presidenta talvez tenha tido inspiração no vernáculo e necessário infanta. Mas não me lembro de outras analogias afora essa e, ainda, governanta, e parenta. Afora isso, a língua parece dar-se muito bem sem *gerenta, *comandanta, *almiranta etc. E, que eu saiba, ainda não há lugar para uma *centro-avanta no futebol feminino.

Veja na listinha que preparei abaixo como predominam substantivos de dois gêneros terminados em ante, ente e inte (muitos deles também adjetivos, quando o contexto determina). Nenhum deles requer flexão anta, nem enta e nem inta. Tanto faz dizer o adolescente ou a adolescente, assim por diante.
adolescente, agente, almirante, amante, ambulante, assaltante, assistente, atacante, atendente, comandante, combatente, concorrente, confidente, consulente, convalescente, correspondente, crente, crescente, delinquente, demente, dependente, descendente, diletante, dirigente, dissidente, docente, estudante, figurante, fumante, gerente, ignorante, infante, informante, manifestante, militante, mutante, nubente, ouvinte, palestrante, participante, pedinte, penitente, pretendente, regente, remanescente, remetente, repetente, representante, residente, retirante, simpatizante, sobrevivente, suplente, tenente, tripulante, viajante, vidente, vigilante, visitante, volante.

E como foi que aprendi todo esse latim? Ora, nunca aprendi, juro, mea culpa, mea culpa.

Por fim, você me perguntará se não tenho mais o que fazer de meu tempo. Tenho sim, uma lista de tarefas que, acabei de rever, está em 132 itens, e que continua espichando, enquanto o tempo disponível encolhe preocupantemente. Mas estudar ainda não saiu da lista. Nem divertir-me com gracinhas como estas. No lado sério, que toda piada tem, /.../ acredite em quem vive de escrever há umas cinco ou seis décadas: conhecer a língua ajuda, mesmo que não baste nem se esgote.

Abraço avuncular*,

A.

*(avuncular: "referente a tio ou tia"; avunculus, "irmão da mãe", era diminutivo de avus, "avô").”

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Acho um absurdo que em italiano os títulos e tratamentos sejam quase todos sem flexão e no masculino: avvocato, medico, arbitro, etc. (o meu “advogado” é uma mulher), mas confesso que não gosto do termo “presidenta”. Vou continuar usando “presidente”, a não ser num eventual e nada provável encontro com a Sra. Dilma Roussef, quando usaria “presidenta” sem nenhum problema. Respeito a vontade dela em ser tratada assim e prefiro tratar as pessoas como elas gostam. Os argumentos do Aldo, porém, me fazem sentir aliviado. Afinal, oráculo é oráculo.
:)

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sexta-feira, janeiro 21, 2011

A Confraria

O Gordo estava tramando alguma coisa e fazia tempo. No trabalho, passava a pausa para o café ao lado da máquina de salgadinhos observando os colegas. Murmurava com seus botões, sacudia levemente a cabeça, franzia as sombrancelhas, dilatava as pupilas. E sorria. Na rua, observava as pessoas nos bares enquanto devoravam brioches recheadas no café da manhã, escolhiam produtos supérfluos hipercalóricos nos supermercados, empanturravam-se gulosamente nas pizzarias e restaurantes. Observava e acompanhava. Fast foods? Uma universidade.

Foi durante o jantar da empresa que ele reuniu os amigos mais chegados para apresentar-lhes a proposta. No início, todos esperavam uma notícia ruim ou um convite embaraçante. O discurso formal do Gordo foi recebida com um cair de ombros aliviado: sugeria a criação de um grupo de ajuda, os “Gulosos Anônimos”. Mais que sugestão, foi uma convocação. Que todos receberam com muito bom humor.

Passado o momento dos sorrisos e olhares trocados, o Gordo continuava a manter a atenção da turma com o ar solene de uma ideologia política proferida por um político profissional. Ele falava sério e as pessoas da roda começaram a perceber isso. Propunha reuniões semanais, convocações de urgência, atas, registros e estatuto. Tudo de forma anônima (acreditem). Ele falava sério!

Os amigos começaram a olhar a própria barriga e descobriram que o grupo estava fora de forma. Sim, todos concordavam que os prazeres da mesa exerciam forte atração e que algo poderia ser feito. “Poderia”, mas não necessariamente “deveria”. Ao menos não seriamente. Depois, quem está fora de forma tem sempre uma desculpa pronta, como se fosse um crime irreparável estar acima do peso. Algumas testas começaram a franzir e havia quem argumentasse contra a idéia de ser inserido em um grupo de auto-ajuda. Quem disse que os participantes queriam mudar? Mas o Gordo seguia adiante, rebatendo cada crítica com argumentos mais que válidos: ele tinha se preparado.

Quando, finalmente, o Gordo informou que havia descoberto uma possibilidade de ter a proposta financiada com dinheiro público, todos balançaram a cabeça. Ninguém se sentia em culpa com o próprio peso o suficiente para aceitar ser curado. Argumentaram que os psicólogos lhes fariam se sentir mal, que a felicidade típica dos gordinhos chegaria ao fim, que ninguém se submeteria a tratamentos medicamentosos e se recusaram a fazer regime. “Regime?”, perguntou o Gordo, olhos arregalados. “Eu estou buscando quem financie nossos jantares.”

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segunda-feira, janeiro 17, 2011

Se a neblina substitui a neve...



...Boneco de feno!
[4 metros de altura]

sábado, janeiro 15, 2011

Poente com neblina

O Inverno por aqui costuma ser bem frio e com dias ensolarados. Normalmente neva por toda parte, mas não em Piacenza. Neste Inverno nevou somente nos últimos dias de Novembro. A neblina da manhã começou em meados de Dezembro e… Bem, ainda não foi embora. Poucos momentos de sol e uma temperatura mais alta que nos Invernos anteriores criam cenários dignos de um pintor. Nas poucas ocasiões em que foi possível ver o sol, a neblina deu uma esfumada na paisagem.

Fontana Pradosa é uma fração de Sarmato, na zona de Val Tidone (o vale do riacho Tidone), na província de Piacenza, região produtora de bons vinhos. Foi em Fontana Pradosa que parei para apreciar o por do sol, que apreciava o meu prazer contemplativo.







sexta-feira, janeiro 14, 2011

Duas conclusões:

1) Não é entre o Natal e o Revéillon que se engorda, mas entre o Revéillon e o Natal.


2) Suco de caju tem gosto de saudade.



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terça-feira, janeiro 11, 2011

O caso Battisti - II

O jornalista Davide Giacalone culpou o desfecho da decisão brasileira à péssima imagem que o mundo tem da Itália e à falência do sistema judiciário italiano. Segundo Giacalone, falar contra Battisti e contra a decisão de Lula está na moda.

Continua AQUI.

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segunda-feira, janeiro 03, 2011

Armonia - Cantina Valtidone


Tenho uma certa resistência com vinhos brancos. Entre um vinho branco desconhecido e uma cerveja, escolho a última. Já apreciava um bom tinto muito antes de vir morar na Itália, mas o efeito osmótico me empurrou a experimentar novos sabores. Definitivamente a palavra vinho é sinônimo de vinho tinto. Raramente tomo um branco, à exceção de um bom verdicchio e dos espumantes (servidos durante o antipasto em qualquer refeição). No fim de ano escolho com carinho o Champagne com o qual iremos brindar a chegada do novo ano, mas champagne e espumante são produtos à parte no argumento vinho.

Como não ficaria bem tomar cerveja na exclusivíssima ceia do dia 31 e o prato principal era à base de camarão, optei por um Ortrugo DOC (Denominação de Origem Controlada) das Colinas Piacentinas, o Armonia, da Cantina Valtidone, em Borgonovo Val Tidone, província de Piacenza. Foi uma feliz descoberta, o que colabora para reduzir a minha resistência aos brancos. Trata-se de um vinho produzido com uvas ortrugo – uma qualidade autóctone das colinas piacentinas – de sabor frutado, seco, de muita personalidade e cor palha (paglierino), tendente ao verde. Frisante, e não espumante. Os enólogos o aconselham como aperitivo e combinado com primeiros pratos delicados, peixe de água doce e verduras, mas não dou muita bola para conselhos e ficou ótimo com o camarão.

Se tiver a oportunidade, não deixe de degustar. Tin, tin!