Diário de um mundo novo – dia 181
Acho que as pessoas não entenderam bem o motivo de termos passado da zona amarela àquela laranja. Por via das dúvidas, deixo registrado: É para ficar em casa! Hoje é domingo, todo o comércio está fechado, bares e restaurantes, idem. É para ficar em casa!
*
Neblina, frio, calor, dias ensolarados, chuva, neblina de montão, frio e calor. Decida-se, outono.
*
Vou dormir cedo que tenho que acordar de madrugada para transportar uma joia da coroa inglesa. Literalmente.
*
Em tempo: É para ficar em casa!
Diário de um mundo novo – dia 182
Claro que notei que algumas vezes esse diário sai no dia seguinte. Acontece por alguns motivos, como eu ir dormir e esquecer de postar, parar pra fazer outra coisa e esquecer, começar uma conversa ou atender o telefone e esquecer de publicar... Basicamente, esquecer. Escrevo no Word, que pelo menos corrige alguns – mas não todos – erros. E se a eleição dos Estados Unidos pode atrasar, eu mais que posso.
*
Acordei de madrugada e fui levar a Lu ao aeroporto (não contei ontem que teria que transportar uma joia da coroa inglesa? Pois a essa hora ele já deve ter desfeito as malas, tomado banho, dormido, cochilado um pouco e, contrariando a quarentena obrigatória para quem volta à Londres, já deve ter tomado chá com a Betty e colocado em dia as fofocas da corte.
*
A laranjada dessa zona vai bem, se isso é possível. Cedo ou tarde, e se alguém tiver juízo, passamos à vermelho e ao lockdown total.
*
A Itália faz parte do bloco de países que apoiaram desde o início o desenvolvimento da vacina da Pfizer. Apoiou inclusive todas as outras. Isso significa que no segundo semestre do ano que vem deve ter uma salada de vacinas para imunizar inicialmente os operadores médico-sanitários e idosos mais vulneráveis. A população em geral deve esperar mais um pouco. A estimativa é de que será necessário mais de 70% da população vacinada para formar a tal imunidade de rebanho. Vacina chinesa? Os italianos tão topando até vacina marciana.
Diário de um mundo novo – dia 183
Com o frio a vontade de tomar algo mais quente vem naturalmente. Não bebo com assiduidade. Não mais. Tomava muita cerveja, até por força do ofício e gosto de um destilado vez ou outra, mas bebo cada vez menos. Esfriou e fui procurar uma grappa, que o conhaque prefiro deixar para o meio do inverno. Semana passada já tinha comprado uma grappa, mas a bichinha é tão ruim que vou usar na cozinha. Pode acontecer de uma garrafa de grappa permanecer fechada por mais de um ano. Pode acontecer de durar uma semana. Depende da temperatura. Achei uma garrafa de “Graspa Miele” (assim mesmo, “graspa”. Um nome convidativo para uma grapa com mel) e resolvi pegar. Por via das dúvidas, peguei uma de grappa de moscato envelhecida. Cheguei em casa e provei a com mel. Que besteira eu fiz, nunca mais compro outra. A danada é tão boa que iria viciar.
*
Lu está em isolamento. É a regra para quem volta a Londres. Não tomou chá com a Betty, mas um martini. Tin-tin.
*
Bia deve estar viva. Estava muito bem até ontem. Home office e polenta taragna. Tão pensando que ela é besta, é?
*
Eu e a Eloá? Graspa Miele.
Diário de um mundo novo – dia 184
No dia 1º de janeiro de 2025 duas notícias estarão nas primeiras páginas de jornais do mundo inteiro: A divulgação oficial do resultado das eleições americanas e o anúncio da eficácia de 101% de todas as vacinas contra o coronavirus, que já terá desaparecido por conta própria.
Com a nanotecnologia do 5G chinês do Bill Gates inalado pelas máscaras e ativado pelo termoscanner de lojas e supermercados, os rastros químicos dos aviões agirão sobre os negacionistas e a Terra plana será uma realidade comprovada. Chega dessa baboseira de viagens à Lua que nunca existiram! Produtos orgânicos de mentira e ciência furada sairão das nossas vidas. Ninguém mais vai usar máscaras, evitar aglomerações nem ouvir música com volume baixo. Estamos nesse mundo para consumir. Tudo o que não for industrializado será banido de nossas vidas para sempre, sairemos às ruas todas as noites para dançar o ritmo do momento, o Pancadão Universitário.
Os anti-racistas, anti-homofóbicos, feministas, intelectuais, poetas e demais anti-conformistas, serão isolados em algumas ilhas com suas bibliotecas e seus movimentos de libertação. Que se reproduzam por lá.
Vai torcendo aí.
*
PS – Viu? O post de ontem tava prontinho quando tive que atender o telefonema de um amigo. Pra não incomodar a Eloá na sala, fui pro quarto. E fiquei por lá.
Diário de um mundo novo – dia 185
Nesta mesma data do século passado (ou foi há um mês, não lembro direito), ganhei uma pequena caixa de caquis que a Bia colheu na casa da Sara. Estavam verdes, ainda, e cuspi marimbondos. “Num tinha maduro, pai. Quando eu for pra casa daqui uns dias, levo mais.” Coloquei a caixa no balcão e cansei de tentar amadurecer caqui com os olhos. Quando encontro caqui quase estragando no supermercado, compro e devoro. Essa semana estou me esbaldando com os caquis que ganhei da filinha do coração. Brigadão, Bi.
Grazie, Sara.
Bacioni.
*
Por falar em supermercado, eu começo a latir quando encontro com alguma criança em supermercados. Sabe aquela criança espoleta ou que faz birra? Elas piram quando me ouvem latir. Não é raro receber em troca um sorriso agradecido da mãe, do pai ou de ambos. A Eloá morre de vergonha. Tô nem aí. Sei latir igualzinho cachorro. O Chopp quem me ensinou.
*
Vou terminar essas mal traçadas linhas porque quero escrever uma petição solicitando um aumento na época de caqui.
Diário de um mundo novo – dia 186
Zona amarela, laranja ou vermelha não muda muito no quesito saúde mental. A tensão, a expectativa e a insegurança permanecem altas. A certeza de que ser classificado em determinada zona é apenas o passo anterior àquela seguinte fica cada vez mais evidente. Mesmo que a situação melhore e as restrições diminuam, tenho a sensação de que a situação só voltará à normalidade – nova, mas sempre normalidade – após uma vacinação de massa. Que ainda deve demorar. Esperar que a gente entenda a importância das medidas de proteção e controle é inútil e causa gastrite. O estresse mora aqui sim. Entra, fica à vontade.
*
Os dias têm sido tão curtos, as noites tão mais longas do que eu estou disposto a suportar.
Diário de um mundo novo – dia 187
Como se não bastasse tudo o que estamos passando, ainda temos que descobrir que atendentes de asilos para idosos maltratam os pacientes. Felizmente as denúncias desse tipo são averiguadas. A polícia instala equipamentos para registrar os abusos e toma providências. Essa semana outro caso foi noticiado. E envolve pessoas que fazem serviço voluntário, além de funcionários. Pelo que li, as redes sociais das pessoas envolvidas estão cheias de “bons dias” com flores e passarinhos, além de agradecimentos e parabéns pelo caridoso e difícil trabalho prestado. Só tolero bons dias floridos de parentes idosos. Tenho ódio da hipocrisia de quem faz o bem em troca de reconhecimento, tanto quanto de quem posa de alma santa pra estranhos e transforma em inferno a vida dos que estão próximos. Vão para inferno!
*
Se você leu o perfil da Eloá hoje, já soube. Vou contar pra quem não leu. Ela olhou o calendário que trouxe pra casa, daqueles grandes onde há espaço para anotar as coisas que não podemos esquecer – e que vamos lembrar de olhar no calendário no dia seguinte – e disse que precisava de um pra levar pro trabalho. Disse pra pegar o que já estava na cozinha, atrás do calendário deste ano e que a loja chinesa me deu essa semana. Reclamou que não tinha evidenciado nem os domingos, imagine os feriados. Peguei o evidenciador e comecei a marcar, enquanto ela ia dizendo os feriados. O dia 6 de janeiro, feriado aqui, caia em dias diferentes nos calendários. Só então nos demos conta que a loja chinesa tinha dado um calendário deste ano. Lembro de ter ido comprar produtos de limpeza e que a caixa de calendários estava no balcão da caixa, com a moça entregando um a cada cliente.
Ela morreu de rir. Distribuíram um calendário vencido. Eu, confuso, comecei a ficar puto: estão desejando um 2020 de novo? Sério?
Diário de um mundo novo – dia 188
Um grau. 1 ºC. Putaquepariu, pra mó di quê percisa fazê ‘sse friu nessa época? Mais um pouco e neva.
*
Shivinha Paz e Amor era um outro animal. Esse aqui é o Deus da Destruição, um cão endiabrado da muléstia doido pra me morder. E morde. E traz o osso de borracha pra me provocar. E ignora o osso pra me morder. E corre, e pula, e rosna, e me deixa cheio de marcas de dentes. Isso é pecado, Shiva. Ou deveria ser.
*
Fiz biscoito português, que é o mais fácil que conheço. O Claudio, se frequentasse o Facebook, morreria de vergonha de mim. Taí, fiquei com vontade de fazer stollen. Sabe quantas noites passei acordado fazendo stollen? Na verdade, já estou atrasado. Normalmente fazíamos stollen em outubro, que é pra curtir até o Natal. E tinha quem fosse procurar stollen nos primeiros dias de janeiro. Ofereciam o peso em ouro, pois sabiam que tínhamos deixado os nossos pra mais tarde. Stollen e espumante.
1 comment:
Vc falando do chip do Bil Gates...me lembrei do Silvio Santos hahaha olha como este homem é além do seu tempo, um visionário. No programa na TV ele brincava que a mão dele era um telefone com um chip e que o conectava com o diretor do programa! Show hein! hahaha E olha que isso tem décadas hahahaha
Post a Comment