Foi a Kamani, quando ainda morávamos em Lauro de Freitas,
cidade colada a Salvador, a me ensinar a caminhar sob o Sol. A rua onde
morávamos era de chácaras, sítios e casas com grandes terrenos, num bairro chamado
Granjas Reunidas Ipitanga. Não tinha calçamento, eram ruas de terra. Quando a
levava para passear – sim, ela passeava e eu apenas a acompanhava, guia bem
segura na mão. Ela decidia o itinerário –, escolhia a parte com mais sombra da
rua, favorecida pelas árvores das chácaras. Na sombra, diminuía a velocidade,
que aumentava, e muito, quando passávamos por trechos sob o Sol. Muito
inteligente a nossa akita fujona.
Vinte e um anos depois, levo o Shiva para passear em
Piacenza e procuro a parte sombreada das ruas, quando o calor é sufocante. As
ruas do centro não têm árvores, mas os muros são altos o suficiente para formar
um caminho mais fresco, com o pavimento com temperaturas que não queimem as
patas do meu amigo.
Acontece que o verão aqui é muito quente, o clima da Planície
Padana é um dos mais inóspitos do mundo, cercado por montanhas (Alpes e
Apeninos) que impedem correntes de vento e muita umidade, por conta dos rios,
riachos e torrentes. Andar na rua depois do almoço, durante o verão, é a
certeza de uma sauna a céu aberto. Não é para os fracos.
Ao meio-dia o Sol está à pino e a temperatura deixaria
o inferno ruborizado. Mas por volta das três, quatro da tarde, quando o Sol
aqueceu os muros e as casas rentes à rua (característica da cidade) fica
realmente impossível caminhar. Melhor sair depois do pôr do Sol, pelo menos
para não ter a estrela de fogo cuspindo fogo sobre a cabeça. E aí tem um outro
truque: é necessário saber a posição do Sol durante a tarde, ou atravessar a
rua para verificar qual lado é mais fresco. A parte que foi aquecida pela manhã
terá muros e paredes mornas, enquanto a parte ensolarada à tarde, estará com
paredes refletindo todo o calor acumulado. Isso lá pelas dez da noite. A
diferença – medi, não duvide – chega a ser de até quinze graus. E faz uma
grande diferença.
No inverno o Sol só passa pela parte de trás do nosso
prédio, mas no verão o Sol quase roda por todos os lados. Certo, no inverno nós
procuramos a parte ensolarada. Mas se você vier para a Itália nos meses de
verão, use a sabedoria da nossa saudosa Kamani. Você vai me agradecer. Em
dinheiro, de preferência.
1 comment:
Allan,
Eu achava que o calor infernal do Rio era unico, infelizmente o mundo é uma estufa, cada vez mais quente, os periodos de frio mais curtos e muito diferentes do que já foram.
Bjs
Post a Comment