Dario vira a cabeça instintivamente
quando a moça passa. Sequer a viu, mas um hábito é um hábito. As duas senhoras,
estrategicamente sentadas numa das mesas externas do bar, reprovam com olhares
e acenos negativos de cabeça. Elas estão sempre ali, patrulhando a vida alheia no
vilarejo de Vescovato, na província de Cremona.
A verdade é que Dario foi sendo
obrigado a murchar, com a idade. Sempre espontâneo, abraçava os amigos e beijava
com carinho as novas amizades. Demorou anos para perceber o incômodo em alguns; parou de esbanjar afeto. Também começou a economizar sorrisos e guardou sua
alegria em gargalhadas imaginárias. Piadas? Jogou fora uma imensa coleção, junto
com a ironia que sempre o caracterizou. Costumava pedir em casamento as esposas
dos amigos, sempre em tom de zombaria. Deixou, que poucos entendiam a
brincadeira elogiosa.
Mas quando a neta de três anos
contava à mãe, nora de Dario, que o vovô tinha sido carinhoso com ela,
pegando-a no colo e beijando-a na bochecha, e a nora lançou um longo e
silencioso olhar a Dario, ele decidiu evitar contatos físicos com as pessoas. E
pensar que era uma das poucas vezes que vira a neta, nascida e crescida em
Roma. Dario não toca mais nenhuma criança, apesar de adorá-las.
Algumas pessoas continuam as mesmas, não envelhecem. Apenas entristecem. Ah, Dario. Onde foram param suas expressões faciais, aquele sorriso fácil, o jeito brincalhão e amigável de sempre? Sempre, não, que tudo aconteceu muito lentamente. Talvez nem se dê conta do quanto tornou-se triste, de como os moradores mais velhos do lugar sentem falta do amigo extrovertido, que só volta a ser brincalhão em raras ocasiões e nunca diante de estranhos. Ninguém consegue mais identificar o sorriso nesse teu rosto inexpressivo. Quanto tempo é necessário para aprender a esconder sentimentos? O único hábito que resistiu é acompanhar com o olhar o vai e vem das moças de Vescovato. Talvez por nunca ter se dado conta de ter envelhecido, e que para a sociedade “não fica bem” um velho apreciar a juventude; talvez por ser apenas um hábito inofensivo e – que diabos! – porque um hábito é um hábito.
Algumas pessoas continuam as mesmas, não envelhecem. Apenas entristecem. Ah, Dario. Onde foram param suas expressões faciais, aquele sorriso fácil, o jeito brincalhão e amigável de sempre? Sempre, não, que tudo aconteceu muito lentamente. Talvez nem se dê conta do quanto tornou-se triste, de como os moradores mais velhos do lugar sentem falta do amigo extrovertido, que só volta a ser brincalhão em raras ocasiões e nunca diante de estranhos. Ninguém consegue mais identificar o sorriso nesse teu rosto inexpressivo. Quanto tempo é necessário para aprender a esconder sentimentos? O único hábito que resistiu é acompanhar com o olhar o vai e vem das moças de Vescovato. Talvez por nunca ter se dado conta de ter envelhecido, e que para a sociedade “não fica bem” um velho apreciar a juventude; talvez por ser apenas um hábito inofensivo e – que diabos! – porque um hábito é um hábito.
E as fofoqueiras do bar que vão às
favas!
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