Colombano,
o monge irlandês que
entre tantas outras igrejas
e monastérios, construiu também a abadia
e o monastério de Bobbio, na província de Piacenza (abadia em
torno da qual
se desenvolveu a cidade) era cercado por lendas e mistérios,
apesar do seu
rigor monástico.
As
lendas que
resistem até hoje:
Uma
vez concluída, Colombano jogou sobre a ponte um pedaço de pão
e deixou que um
cão que
ele trouxera corresse para
abocanhar o pão. Com amargura e desilusão, o diabo
rangeu os dentes e procurou com os olhos em chamas o autor do odioso
engano. Viu o monge,
seguiu-o e insultou-o. E o santo, paciente, prosseguiu o seu
caminho como
se nada tivesse acontecido. O que só piorou a
raiva do outro
que aumentou os insultos
e injúrias.
Quando chegaram em um caminho que
conduz ao Monte Penice, encontraram uma mulher que
carregava um pouco
de arroz no avental.
Sem dizer nada, Colombano pegou um
punhado e jogou contra
o seu perseguidor. “Oh!
milagre!” os grãos
de arroz invés
de o atingirem, se transformaram em pedras pretas e, maravilha!
As pedras formaram grutas
assustadoras e cresceram quase a precipitarem.
Essas rochas pretas existem ainda e se chamam “pedras
do diabo”.
Algum tempo depois, entre os bobbienses espalhou-se de boca em boca essa outra grande novidade: “O santo fabricou um moinho branco, transparente, um belíssimo moinho branco que parece de gelo.” O demônio se uniu aos curiosos e foi vê-lo. Ficou admirado e propôs ao proprietário: “Façamos uma troca, você me dá o moinho e eu lhe dou a grade que nenhum ferreiro jamais conseguirá imitar.” Colombano, que desejava a grade há tempos, concordou e o contrato se concluiu.
Por que
sim ou
por que
não, o certo
é que um
vento quente
começou a soprar e o moinho,
que era
realmente de gelo,
quebrou e derreteu entre o estupor geral. O diabo, ofendido, riu sarcasticamente ao monge:
“Eu te
darei a minha grade
do mesmo jeito,
se você conseguir
transportá-la somente com
a ajuda do teu
asno.” Aquela obra-prima
era muito
pesada e constituída de uma única peça, mas o santo a
dobrou miraculosamente em quatro partes e, sem a
menor fadiga,
a carregou sobre a garupa
do seu paciente
burrico.
No
meio do caminho
Colombano encontrou um velho camponês que semeava ervilhas.
Olhou-o com benevolência,
fechou-lhe os olhos em
um sono
profundo, fez brotar
e amadurecer as ervilhas
e prosseguiu tranquilamente o seu caminho. O demônio, ao contrário,
seguia com crescente
irritação os rastros
que o asno
tinha deixado sobre
o terreno, mas
seguia uma pista falsa,
pois o santo,
para fazer perder
as suas pegadas,
havia virado ao contrário
as ferraduras do asno.
A um certo
ponto, contudo,
o diabo percebeu o engano
e retornou sobre seus
passos, cego
de ira e correndo. Encontrou o velho camponês
e perguntou: “Você viu um
homem com
um burrico
carregando uma grade?” Ao que
o camponês respondeu: “Sim, eu os vi enquanto semeava estas ervilhas.”
E com prazer lhe indicava que
a ervilha era
já madura.
O diabo, então,
para poder correr
mais veloz,
jogou com raiva
no lugar do milagre
as enormes pedras
pretas que carregava para
atirar contra
Colombano e correu, correu, esperando poder alcançá-lo para arrancar com a força a sua grade. O diabo
nada conseguiu pois
a legendária grade
já tinha
sido religiosamente escondida no subterrâneo do convento,
onde, muito
admirada, se encontra até hoje. Se
diz que, por
cerca de um
século, a grade
servia de custódia ao precioso
espólio de San Colombano.
O
diabo não venceu uma. A grade existe ainda e a ponte é uma das atrações da
região. Estudiosos de arte a identificaram como sendo uma das imagens de fundo da
obra prima de um certo pintor, um quadro chamado Monalisa.
1 comment:
Que interessante! Contada por você, então, fica mais pitoresco ainda!
abraço, garoto
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