Thursday, April 28, 2016

A lenda de San Colombano







Colombano, o monge irlandês que entre tantas outras igrejas e monastérios, construiu também a abadia e o monastério de Bobbio, na província de Piacenza (abadia em torno da qual se desenvolveu a cidade) era cercado por lendas e mistérios, apesar do seu rigor monástico.

As lendas que resistem até hoje:

Um dia o diabo, talvez para chamar a atenção, colocou em mostra na vizinhança de Bobbio, uma belíssima grade de ferro. Muitos ferreiros correram para ver e tentaram produzir uma grade igual, mas o segredo na confecção dos nós e a fineza do trabalho era impossível de imitar. O diabo sorria. Colombano, então, idealizou a construção de uma ponte sobre o rio Trebbia, em cujas margens se encontra a cidade. Infelizmente o monge não conseguiu coletar todo o dinheiro que necessitava para construir a ponte – que por si era considerada uma coisa do diabo, pois ousava unir duas partes divididas por Deus e pela natureza. Naquele momento o diabo se apresentou: “se você me prometer deixar a primeira alma que passar sobre a ponte, eu te ajudo a construi-la”. Ao que o monge retrucou: “o primeiro ser que passará sobre a ponte será teu.” Assim o demônio, acreditando ter derrotado o seu adversário, meteu a mão na massa e construiu a ponte.


Uma vez concluída, Colombano jogou sobre a ponte um pedaço de pão e deixou que um cão que ele trouxera corresse para abocanhar o pão. Com amargura e desilusão, o diabo rangeu os dentes e procurou com os olhos em chamas o autor do odioso engano. Viu o monge, seguiu-o e insultou-o. E o santo, paciente, prosseguiu o seu caminho como se nada tivesse acontecido. O que só piorou a raiva do outro que aumentou os insultos e injúrias.

Quando chegaram em um caminho que conduz ao Monte Penice, encontraram uma mulher que carregava um pouco de arroz no avental. Sem dizer nada, Colombano pegou um punhado e jogou contra o seu perseguidor. “Oh! milagre!” os grãos de arroz invés de o atingirem, se transformaram em pedras pretas e, maravilha! As pedras formaram grutas assustadoras e cresceram quase a precipitarem. Essas rochas pretas existem ainda e se chamam “pedras do diabo”.

 


Algum tempo depois, entre os bobbienses espalhou-se de boca em boca essa outra grande novidade: “O santo fabricou um moinho branco, transparente, um belíssimo moinho branco que parece de gelo.” O demônio se uniu aos curiosos e foi vê-lo. Ficou admirado e propôs ao proprietário: “Façamos uma troca, você me dá o moinho e eu lhe dou a grade que nenhum ferreiro jamais conseguirá imitar.” Colombano, que desejava a grade há tempos, concordou e o contrato se concluiu.


Por que sim ou por que não, o certo é que um vento quente começou a soprar e o moinho, que era realmente de gelo, quebrou e derreteu entre o estupor geral. O diabo, ofendido, riu sarcasticamente ao monge: “Eu te darei a minha grade do mesmo jeito, se você conseguir transportá-la somente com a ajuda do teu asno.” Aquela obra-prima era muito pesada e constituída de uma única peça, mas o santo a dobrou miraculosamente em quatro partes e, sem a menor fadiga, a carregou sobre a garupa do seu paciente burrico.


No meio do caminho Colombano encontrou um velho camponês que semeava ervilhas. Olhou-o com benevolência, fechou-lhe os olhos em um sono profundo, fez brotar e amadurecer as ervilhas e prosseguiu tranquilamente o seu caminho. O demônio, ao contrário, seguia com crescente irritação os rastros que o asno tinha deixado sobre o terreno, mas seguia uma pista falsa, pois o santo, para fazer perder as suas pegadas, havia virado ao contrário as ferraduras do asno. A um certo ponto, contudo, o diabo percebeu o engano e retornou sobre seus passos, cego de ira e correndo. Encontrou o velho camponês e perguntou: “Você viu um homem com um burrico carregando uma grade?” Ao que o camponês respondeu: “Sim, eu os vi enquanto semeava estas ervilhas.” E com prazer lhe indicava que a ervilha era já madura. O diabo, então, para poder correr mais veloz, jogou com raiva no lugar do milagre as enormes pedras pretas que carregava para atirar contra Colombano e correu, correu, esperando poder alcançá-lo para arrancar com a força a sua grade. O diabo nada conseguiu pois a legendária grade já tinha sido religiosamente escondida no subterrâneo do convento, onde, muito admirada, se encontra até hoje. Se diz que, por cerca de um século, a grade servia de custódia ao precioso espólio de San Colombano.



 O diabo não venceu uma. A grade existe ainda e a ponte é uma das atrações da região. Estudiosos de arte a identificaram como sendo uma das imagens de fundo da obra prima de um certo pintor, um quadro chamado Monalisa.

1 comment:

denise rangel said...

Que interessante! Contada por você, então, fica mais pitoresco ainda!
abraço, garoto