Meus
avós viviam na roça, quando a roça era um lugar longe, inascessível e de
escassos recursos. A casa não tinha luz, água encanada ou chaves; as portas
eram trancadas com tramelas. O único rádio era ligado uma vez por dia, à
noitinha. Tudo era feito em casa, da farinha ao sabão; só o querosene dos
lampiões e lamparinas, o sal e pouca coisa mais, eram comprados no armazém em
frente à parada do trem. Muita coisa era adquirida num sistema de trocas com os
vizinhos, nem sempre tão vizinhos.
Os piacentinos consideram Piacenza “um grande
vilarejo”, e não uma cidade. Mais pelos costumes que pela arquitetura. Em
apenas cinco minutos de bicicleta, vou do centro – onde moramos – à zona
urbana. Mais cinco minutos e a paisagem é de autêntica campagna (roça), com rolos de feno nos campos e tratores no lugar
de carros. Mas os tempos são outros e a roça é cada vez menos roça nesse mundo
de modernidades.
O italiano médio tem que se esforçar muito para não
perder a forma física. As bicicletas tradidionais estão perdendo espaço para aquelas
elétricas; todos os modelos de automóveis são desprovidos de manivelas para os
vidros, hoje elétricos, mas possuem ar-condicionado, aquecedor e GPS. Nas casas
as máquinas tomam conta dos afazeres e poupam tempo para que todos possam se
descobrir sem tempo. Robô para varrer a casa, máquina de lavar e secar louça,
de lavar roupa e uma ucraniana, filipina ou sulamericana para passar;
ar-condicionado, ventilador e aquecedor, tudo com timer; micro-ondas,
geladeiras, gás encanado ou fogão elétrico; batedeira, mixer, liquidificador;
máquinas para fazer pão, sorvete, massas, arroz; interfone com vídeo, portão
automático, elevador. E a comunicação, então? Computador, lap top, tablet, smart phone, wi-fi, wireless, sms, e-mail,
fones de ouvido. Para não ir da cozinha ao quarto, trocam sms: “o
almoço está pronto”; tv, rádio, internet, 3D,
HD, painéis luminosos espalhados pela cidade, que também oferece zonas wireless
free; nas escolas calculadoras, quadro-negro interativo e até a velha cola é
eletrônica.
…Ufa!
Cada um
vive o próprio tempo, mas creio que meus avós não conseguiriam apertar tantos
botões, com todos os afazeres da velha casa de Itaquira.
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18 comments:
Alan,
Que coisa, esta noite sonhei que estava na roça, como era antes, sem tecnologia.
Não sei se viver com tantos botões é o ideal, mas temo que um dia, as máquinas pifem e não saibamos como substituí-las.
abraço, garoto
um mundo sem botões seria como uma sobremesa salgada.
É por essas e outras que quando saio de férias nao levo nada, nenhum botao, se calhar nem os botoes da roupa, rs.
Belíssimo o texto. Parabéns!
Um lindo restinho de semana pra você.
Um grande abraco
ah como eu gostaria de viver como antes na roça!!!!!
beijao
Romanceamos a vida na roça, mas a vida ali não era muito fácil.
depois que me aposentei, passei a viver eu também na roça aqui de casa. Tento seguir a receita da minha mãe, que morreu lúcida e ativa aos 90: cozinhando, lavando, passando. tirando mato do quintal, ajoelhada na grama. Não sei se a receita funciona, mas trabalhando como trabalho, pelo menos não tenho tempo de ficar (muito) preocupada com esta vida selvagem de hoje...
abração
É uma outra época, mas as lembranças são deliciosas esse "Não tão vizinho" foi ótimo isso ainda fica nos dias de hoje rs!!!Mas essa nossa vida moderna é muito boa também nos ajuda e muito.Me vi pensando agora o que será que minha filha vai falar do tempo que vivo hoje hein, fiquei pensativa.Quando ela tiver uns 30 rs.Beijocas.
Não sou ludista ou tecnofóbico, tampouco tecnocrata.
Adoro café expresso, mas hoje mesmo preparei um molho em que usei tomates frescos, tirando-lhes a pele, fervendo-os, peneirando-os, temperando-os até obter um molho espesso e saboroso; o resultado foi bom, porém não me atrevo a afirmar que quem usa um vidro de Bolognese, Napoletana ou Basilico da Barilla não tenha um molho tão bom.
O que me agonia é ver as pessoas usarem máquinas para ganharem tempo e utilizarem o tempo que ganham da forma que utilizam.
Manoel Carlos
Eu to cansada de tanta modernidade, queria uma casinha, uma hotinha e 2 galinhas...isso com certeza iria me fazer muito feliz.
bjs
Tio, tio, tio, tio, achei itaquira no mapa. fica em carapebus né tio? tio, tio, tio, tio, tio?
pedroluis
Concordo com a Lili... romanceamos a vida na roça. Tem que haver um equilíbrio. Eu gosto da modernidade, mas não gosto de comida industrializada. Gosto de simplicidade aliada ao conforto.
Dizem que só sentimos falta daquilo que já temos. No passado, as pessoas se contentavam com o que tinham por que não tinha outro jeito.
Beijus,
Allan, ainda usam pessoas para passar roupas por aí? (rs*)
e quanto mais botões, menos tempo a gente tem!! mas me conta onde eu arrumo o robo que varre a casa???? to precisando muito de um desses...kkk
A Filipina eu já tenho! Amen.
Caro Allan
Lembrei-me da minha avò, que esquentava a àgua para tomar banho na bacia e o cheiro de querosene antes de dormir! No interior do Goiàs, onde morava, era assim e tenho certeza que fui muito mais feliz do que os meus sobrinhos hoje que sò ficam na frente do video game:(
Meu sogro passou a infància na "roça" em Nàpoli e quando ele conta como viviam eu "viajo"! O carro dele só fica na garagem, pois ele anda de bicicleta até mesmo para ir ao tribunal na cidade vizinha - hehehe!
Léia
Procurei no mapa e não encontrei. No Google maps existe apenas um ponto. pesquisei e descobri que não sobrou quase nada de Itaquira. E eu nem vou poder conhecer pra sentir saudades.
:(
Mayra
Eu já estou lhe seguindo por email...la la la la la la! :)
Beijos
Ei Linda sexta pra nós!
Venho conhecer esse espaço maravilhoso, vou passear entre suas palavras
e depois sim, venho comentar,
combinado?
Enquanto isso passa la no Espelhando pra conhecer a escrita do Palhaço poeta e de outro comunistas que postam comigo
nesse espaço democratico.
Ja seguindo aqui,
bjs entre sonhos e delírios
Catiaho Reflexo d'Alma
muito legal Itaquira...Maria
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