Wednesday, June 30, 2004

Bicicleta

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Um famoso filme italiano intitulado “Ladrões de Bicicleta”, de Vittorio de Sica, só faz sentido depois de conhecer a Itália. Aqui todo mundo anda de bicicleta.

Nos dias frescos de primavera, início e fim de verão e no outono, eu prefiro ir trabalhar de bicicleta. As outras pessoas, também. Em casa somos em quatro e quatro são as nossas bicicletas. Isso porque demos uma usada de presente. Mesmo no inverno, muita gente prefere a bicicleta. É sinônimo de saúde e é elegante, além de ecológico e econômico.

Senhoras de casacos de pele, advogados em ternos Armani, a mãe que leva a criança para a escola, o pedreiro, a vizinha gorda indo às compras, pessoas que passeiam com cachorros, o passeio dominical da família. Todos, pobres ou ricos, bem vestidos ou menos, a passeio ou a negócios, com ou sem guarda-chuva, vão de bicicleta.

Nomes como Marco Pantani, Mario Cipollini ou o legendário Gino Bartali são tão conhecidos aqui como os nossos Oscar Schimidt, Gustavo Kuerten ou o legendário Ayrton Senna. O ciclismo é o segundo esporte da Itália, só perdendo para o futebol, apesar da bola ter muito menos praticantes que a bicicleta. Giro d’Italia, Vuelta d’España e Tour de France são algumas das competições que aquecem a crônica esportiva no verão europeu.

Os centros históricos não podem ser demolidos nem modificados (algumas casas são reestruturadas por dentro e podem ser restauradas por fora, desde que mantenham à vista a estrutura e as telhas originais – na medida do possível, é claro) e, portanto, possuem as mesmas ruas estreitas da época em que foram projetadas para serem transitadas por pacatas carruagens. A maioria das antigas casas não possui garagem e estacionamento é uma necessidade que surgiu depois do excesso de veículos. Resumo: não há onde estacionar! Ou se vai de bicicleta, ou alguém terá de dar voltas no quarteirão enquanto a mulher vai no cabeleireiro. E reze para o salão estar vazio.

No inverno, em frente às estações de trem (toda cidade tem uma), as bicicletas acorrentadas umas às outras, nos postes, placas de trânsito, ou simplesmente a si próprias, transformam a paisagem em algo surreal depois da primeira neve. Um manto branco cobre a praça, congela o chafariz e transforma as bicicletas em esculturas de gelo, brancas e imóveis, como em uma cena arqueológica.

Um rapaz argelino, que trabalhava num supermercado vizinho, aparecia sempre com uma bicicleta e uma estória diferente. A sua havia quebrado e o vizinho emprestara a dele; a namorada pediu para levar a dela para o conserto; não pôde recusar uma pechincha…

Sobre o filme do primeiro parágrafo, me recordo que o protagonista decide roubar uma bicicleta, depois que alguém roubara a sua. E ele, pobre, dependente dela para trabalhar e tocar sua vida, sem dinheiro para repor aquela que fora furtada, manda o filho ir para casa. Mas o pequeno intui tudo e segue o pai, terminando por salvá-lo, quando passantes frustram a sua tentativa de roubo e se comovem com o menino que chora em silêncio pelo miserável que acabam de prender. Decidem soltá-lo e o mandam à casa.

Se nos dias de hoje o argelino do supermercado me faz lembrar de acorrentar minha bicicleta a um poste e que já não há espaço para romantismos, por outro lado posso assegurar que a bicicleta continua sendo a paixão nada secreta de todo italiano.

Um conselho útil: Se tiver a oportunidade, nunca, jamais tente andar de bicicleta sobre a neve.

Ciao.

Sunday, June 27, 2004

Notícias

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Algumas curiosidades encontradas entre as notícias:

Um jovem britânico envia um sms a um amigo: “Tommy Gun? Ok – então combinamos o preço e decidimos que um jato de linha vale dez prisioneiros”. Alguns dias depois, a polícia anti terrorismo invade o escritório dele. Os agentes de Sua Majestade querem saber o significado daquela mensagem. O rapaz explica que é uma citação de uma música do grupo Clash, mas convencer os investigadores foi um pouco difícil. Após as desculpas, a única certeza que restou é que na Inglaterra sms, e-mail e telefonemas são filtrados por um super computador capaz de individuar palavras suspeitas (“avião”, “pistola”, “reféns” etc.) em detrimento da tão propalada lei que regula o direito à privacidade. (Marco Pratellesi)

A cidade de Faluja, no Iraque, foi palco de um verdadeiro massacre civil no início de abril deste ano com mais de setecentos iraquianos mortos, entre os quais, muitas mulheres e crianças, numa desproporcional represália americana. Segundo Washington, “terroristas estrangeiros” refugiados na cidade sunita haviam assassinado quatro civis americanos e arrastado seus corpos pelas ruas da cidade, aparentemente com o apoio da população. O que se sabe agora é que os tais civis não eram tão civis assim. Durante missões de patrulhamento na região, algumas mulheres foram presas para averiguações e interrogatórios. Os civis participavam ativamente das prisões e dos interrogatórios. E dos estupros que se seguiram. Uma vez soltas, algumas daquelas mulheres, grávidas, não puderam esconder da família a situação de vergonha e violência por que passaram. Os indignados chefes das tribos de Faluja decidiram, então, lavar a honra com sangue. Possivelmente as próprias mulheres estupradas, além dos quatro civis, foram mortas. Essa hipótese já circulava e Bagdad antes que viesse à tona o escândalo na prisão de Abu Ghraib. E agora algumas confirmações indiretas a tornam plausível. (Eri Garuti)

A figura de Buda sobre biquinis ofende a moral e o sentimento da maioria da população do Sri Lanka. A corte suprema daquele país acolheu os argumentos do monge budista Daranaagama Kusaladhamma, proibindo a importação e o uso de roupas de banho com a imagem de Buda. Desse modo, as senhoritas cingalesas e turistas americanas e européias não poderão usar a peça que começava a tornar-se o trendy do verão. Os monges se empolgaram com a vitória e decidiram apresentar outra proposta de lei, proibindo a conversão não ética (obtida com dinheiro ou outros meios sutís de persuasão) para tentar evitar a proliferação de diversas “igrejas” que pipocam naquele país. No entanto desobedecem as últimas vontades do líder morto há pouco, Malwatte Maha Nayaka Thero, histórico líder budista que, pouco antes de morrer, havia feito uma recomendação aos monges para que vivessem mais nos templos e menos nos corredores do poder. (Paolo Affatato)

Hope Clarke, uma professora de Riverton (Wyoming) estava fazendo um cruzeiro no Caribe quando foi acordada às seis e meia na sua cabine, algemada e levada diante um juiz em trajes de dormir. O crime? No ano passado não teria jogado fora um doce e um chocolate quente antes de entrar no Parque de Yellowstone e recusou-se a pagar uma multa de cinquenta dólares pela desobediência. Naquele instante, a simples sanção transformou-se em crime federal. (Casper Star Tribune)

Uma foto. A dedicatória: “To: Luigi Nono, Thank you for early commitment and dedication as a Charter Member of the campaign in California. Grassroots leaders like you are the key to building a winning team. Best Wishes, Laura Bush, George W. Bush”. Detalhes: Luigi Nono, compositor italiano jamais morou nos Estados Unidos (esteve algumas vezes a passeio ou para apresentar-se), não recebeu o direito de voto daquele país, sempre foi conhecido por suas posições extremamente comunistas e faleceu há algum tempo. Típico mico eleitoral americano. (Luca Fontana)

Aliona Pisklova é uma adolescente de Domodedovo (próximo a Moscou). Sessenta quilos, um metro e sessenta e quatro, medidas: 90-75-100. Um colega de escola resolve fazer uma brincadeira e envia uma foto dela a www.miss.rambler.ru, o site que seleciona on line as candidatas russas. No primeiro dia a página de Aliona recebe mais de dez mil visitas e quase todos dão a garota a pontuação máxima. Logo a fofinha estudante vira um símbolo da luta feminista, no global e todos os tipos de contestadores contra o “mundo Barbie” onde somente as bonecas 90-60-90 têm cidadania. Sem saber, Aliona vira uma star. Quando a notícia finalmente chega na escola de Domodedovo, a garota visita o site na internet para descobrir que com quarenta mil votos é a vencedora da seleção russa de Miss Universo. Bem-humorada, entra na brincadeira e se deixa fotografar com a frase “Barbie no pasaran!” estampada na camiseta. A agência americana que organiza o concurso, a Firebisrd Productions está aterrorizada. Mas a salvação vem do regulamento: podem participar somente maiores de idade, e Aliona tem apenas quinze anos. No lugar dela, em Quito desfila Xenia Kustova, cinquenta e cinco quilos divididos em um metro e oitenta. Barbie venceu, mas a internet lhe provocou uma bela diarréia. (Stefano Montefiori)


* * *

Recado ao amigo Vitor: Fiz uma besteira e lembrei de você. Não pela besteira em si, mas por ser na tua esfera profissional não pude evitar a lembrança, além da certeza de que se tivesse lembrado de você antes, não teria feito a besteira: comprei uns cds para as meninas e aproveitei para trazer algumas novidades. Escutei o “Mil Verões” do Carlinhos Brown e, em seguida, “Musicology” do Prince. Não pude deixar de tentar uma comparação entre os dois e me arrependi. Se tivesse lembrado antes de você teria feito o caminho inverso. Há muito Prince estava devendo um trabalho a altura da qualidade do soul que fez a fama dele, e este cd resgata um pouco do Prince dos velhos tempos. Mas Carlinhos Brown é incomparável. Depois de ouvir o cd dele, qualquer outro músico perde o brilho.

Ciao.

Thursday, June 24, 2004

Televisão

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Se o quitandeiro da esquina disser: “Vou destruir o Brasil!” você dará pouca ou nenhuma importância a ele. Mas se a mesma frase for dita pelo presidente dos Estados Unidos, …bom, aí a coisa muda de figura. E, provavelmente, você começará a sondar o mercado imobiliário da Nova Zelândia.

Depois de influenciar você com o parágrafo anterior, posso afirmar que a importância da notícia está, também, em quem a divulga.

Hipotizando uma situação, imagine um telejornal apresentado por um barbudo de fazer inveja ao Lula dos velhos tempos. Ou por um jovem repórter que fala num tom malemolente, displicentemente deitado na cadeira que ele gira de um lado pro outro. Ou, ainda, por uma apresentadora com dois quilos de maquiagem, um batom vermelho carmim e cabelos penteados para uma festa, que faz biquinhos e lança olhares pretensamente fulminantes para a câmera. Ou uma apresentadora com roupas de estampas imensas e chamativas, decotes profundos, brincos e jóias enormes. Imagine, ainda, que esses apresentadores demonstrem raiva, nervosismo, briguem e interrompam bruscamente os próprios correspondentes, declarem suas posições em relação às matérias apresentadas e conduzam o jornal num estilo extremamente personalizado.

Abusando da sua paciência para o exercício mental, imagine um telejornal onde a crônica policial ocupe 50% do tempo, com acompanhamento dos casos por até vinte anos, procurando explorar todos os ângulos e possibilidades, até o fim do cumprimento da pena do acusado e onde as vítimas tornam-se detalhes das matérias apresentadas. E, por último, imagine um jornal que se repete em todas as emissoras, mudando apenas os apresentadores, com as mesmas matérias exibidas em cinco edições diárias.

Se você superou a prova de paciência a que eu acabo de lhe submeter, terá um retrato fiel dos telejornais italianos.

Mas a TV italiana não é só isso: aqui, os atores (e qualquer um que queira trabalhar na TV) cantam, dançam e fazem humor. E, na maioria das vezes, o fazem com qualidade. Ou seja: para aparecer na televisão, basta ter uma carinha bonitinha. Mas para permanecer nela, não.

Outra diferença são os filmes e seriados: americanos, é claro! Mas, também, franceses, alemães, poloneses, ingleses e até italianos! E mais: nos seriados muitos protagonistas morrem e são substituídos e tudo acontece numa sequência cronológica. Inclusive os episódios. E novelas brasileiras, argentinas, mexicanas, italianas…

Para evitar a saturação dos espectadores, os programas e séries tem um ciclo de vida pré-estabelecido, que pode ser encurtado. Com raríssimas exceções os programas não duram mais de uma temporada - do outono à primavera - e existem produções feitas para durarem quatro ou cinco edições (domingos.)

Os seriados costumam apresentar dois ou até três episódios num mesmo dia, como forma de garantir a audiência no auge da série.

Outro sucesso garantido, ainda que limitado, são os documentários e programas sobre ecologia e afins (Mundo Animal e National Geographic). Talvez esse relativo sucesso explique a nova moda que consiste em levar os próprios animais aos programas dos seus donos. Nestes casos, o índice de audiência tem sido maior que apresentar-se de cuecas, outra moda por aqui.

Por outro lado, não conheci ninguém que tenha conseguido assistir a mais de cinco minutos do único curso de formação escolar em rede nacional. O seu horário é por volta das duas da manhã, quando uma grande massa de jovens torna à casa e liga a tv e, por vinte, trinta minutos, assistem de tudo. Menos o bendito programa. Aconselho-o a quem tiver graves, gravíssimos distúrbios de insônia.

A última: aqui eles não conhecem os Três Patetas. Um politico local, que morou no Brasil e conhece a série, garante que é melhor assim e sugere que poderia suscitar comparações subliminares.

Ciao.

Monday, June 21, 2004

Invasão verde-ouro

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Tem sandálias Havaianas,
Que vendem pra xuxu!

A impressão que se tem por aqui é que o verão começou há dois anos e ainda não terminou. Carros conversíveis misturam-se às bermudas coloridas que passeiam pelas ruas sob um sol de até trinta e cinco graus. Bicicletas, bandanas e óculos escuros. Os italianos inventaram o verão. Para aproximar um pouco mais os sonhos tropicais do cotidiano, as ruas e lojas foram invadidas por roupas verde-amarelas com as escritas Brasil, Brazil e Brasile. Uma ou outra Jamaica, mas de forma muito tímida. As sandálias Havaianas, que já tinham feito grande sucesso no verão passado, voltaram de forma avassaladora. Pecado que em uma das lojas da cidade, onde é possível encontrá-las pela ninharia de vinte e cinco euros, colocaram uma pequena placa junto às sandálias: “As cores da Califórnia”.

Não deixa de ser intrigante como um povo que faz questão de preservar as próprias tradições de forma tão ostensiva, se deixe seduzir tão facilmente pelos ideais ou qualidades de um país mais distante. Por outro lado, a rivalidade entre vizinhos é sempre maior. Assim como em São Paulo ou no Rio podemos encontrar um certo preconceito velado pelos nordestinos e, em contrapartida, os nordestinos se mostrem desconfiados em relação a paulistas e cariocas que vão morar no Nordeste, também na Europa iremos descobrir antigas rivalidades entre nações, regiões, cidades e vilarejos. Somos absolutamente semelhantes nas pequenas idiossincrasias.

Porém, quando chega o verão (e ninguém se recorda das baixas temperaturas que enfrentávamos no início de maio) acreditar que o Brasil é logo ali ou que basta vestir uma camiseta com as palavras mágicas para transportar o paralelo quarenta e cinco ao trópico do sul, ao menos faz com que a neve do inverno passado derreta do telhado da memória.

O sonho torna-se transgressivo quando se tem consciência de que a imagem que sempre vendemos do nosso país é o Carnaval do Rio, com mulatas seminuas rebolando sobre qualquer câmera que as focalize. E eu disse sobre. Somos o país do sexo fácil e barato. Somos o país dos cheiradores de cola, onde tudo custa um e noventa e nove. O chato é que estamos habituados a oferecer como desculpa a idéia de que não existe pecado do lado debaixo do Equador. Não fôssemos uma república de bananas e esses caras iam ver só…

Uma teoria ufanista me sugere que a adoção das cores da nossa bandeira sirva, também, para substituir falta provocada pelo êxodo dos jogadores brasileiros, de volta ao Brasil para as merecidas férias de verão. A julgar pelos resultados pífios da Seleção Italiana no atual Campeonato Europeu, acredito que eles pagariam muito para ter alguns dos nossos no time deles. Mesmo recebendo salários estratosféricos, ou talvez por isso mesmo, os jogadores italianos estão mais preocupados com o atual compra-vende do mercado europeu de futebol, que com a criação de um espírito de grupo que os permita um mínimo de coesão necessário a quem espera obter bons resultados. É cada um por si. A humildade dos gregos (aqueles que, humildemente, deram um cavalo à Tróia) pegou todos de surpresa e os classificou, desbancando Espanha e Rússia.

Verão, futebol e mulatas. Ora, se não estamos no Brasil onde estamos? Falta só o churrasco no fim-de-semana e a cerveja gelada. Sim, porque a música brasileira há tempos faz sucesso por aqui. Desde Águas de Março (ou, talvez, antes disso). E é justamente no verão que chegam as novidades musicais, nem sempre de qualidade. Quanto a cerveja eles têm muito que aprender, pois continuam tomando Corona com limão ou misturam cerveja pesada com churrasco. Aos adeptos da carne, sugiro recusar-se a participar do churrasco alheio. A menos que, como eu, tomem posse da churrasqueira e não permitam que se coloque sálvia, um fio de azeite ou alecrim sobre a carne. Uma boa picanha argentina custa muito mais caro aqui, e o gosto do alecrim a torna intragável.

Mesmo não abrindo mão do vinho ou de um prato de massa antes da carne, os amigos italianos começam a compreender a essência do verão brasileiro e vão, aos poucos, vencendo as resistências contra as culturas diversas que os circundam. Como a migração tornou-se um advento impossível de conter, o melhor é aproveitar para experimentar coisas novas. Assim como aconteceu com o tomate americano e as laranjas orientais, que hoje se tornaram símbolos da boa mesa italiana, quem sabe se no futuro o churrasco não será, também ele, parte da culinária italiana?

Com a chegada do verão italiano, onde cada um tem direito a quinze dias de férias, veremos um desfile de roupas coloridas, sandálias Havaianas e carros conversíveis. A televisão se ocupará quase exclusivamente das fofocas e festas dos famosos, ajudando a prolongar o sonho do verão a quem volta das férias. O futebol fará uma pausa até agosto e os calendários de modelos nuas invadirão as bancas de jornais (pois é! Neste período!). E nós, sádicos, iremos nos divertir vendo a italianada misturar vinho com cerveja e se empanturrar de macarrão, com tanta carne no fogo.

Ciao.

Thursday, June 17, 2004

Burocracia

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Frequentemente recebo e-mails contando absurdos da burocracia. Decidi escrever o meu. São casos reais. Juro.

1) Na escola onde estudam minhas filhas, a entrada do refeitório fica ao lado de uma das classes e até pouco tempo não tinha porta. Agora tem: a Prefeitura mandou instalar. Mas, (e não teria graça sem um “mas”) a porta foi instalada de modo que, ao abri-la, corria-se o risco de machucar quem saísse da sala ao lado. Na reunião de pais que estava agendada para o dia seguinte, minha mulher sugeriu a mudança da posição da porta. Uma das mães explicou que a medida para a medida já estava sendo tomada, ou seja: um advogado estaria fazendo uma correspondência à prefeitura, informando que se a instalação da porta não fosse mudada em seis dias, a prefeitura seria processada. Minha mulher espantou-se e perguntou se não seria melhor solicitar diretamente ao órgão responsável a execução do serviço. Uma outra mãe, sob a aprovação e constrangimento geral, esclareceu que se tal pedido fosse feito, levaria no mínimo seis meses e poderia nunca ser feito, pois implicaria na mudança do projeto (sic) de instalação da porta. Decidiu-se pela entrega da correspondência para o dia seguinte.
A porta foi reinstalada no último dia do prazo.

2) Exame médico: no total, são cerca de quinze minutos. Você chega, retira um ticket de ordem de chegada e aguarda. Quando chega a sua vez, entrega a carteira de saúde à atendente e espera ela localizar sua ficha. Ela pergunta se você mudou de função e confirma seu endereço atual. Esclarece que se você manipula alimentos deve fazer exames médicos (e só nesses casos). Pede pra aguardar a chamada. Outra atendente chama seu nome e o leva até a sala do médico, na porta ao lado. O médico olha pra você e pergunta se nesse período teve algum problema, você responde que não (não sei o que acontece se respondesse que sim, mas pelo entusiasmo do médico creio que ele nem me escutaria) e ele recomenda o seu retorno para o próximo ano. Nova espera até que a primeira atendente receba da segunda o seu atestado, que esta última levou em uma outra sala para ser assinado. Ela lhe pergunta para que dia gostaria de marcar sua nova visita, no ano seguinte, que é obrigatória. Eu lhe respondo que segunda-feira é um bom dia. Ela olha no calendário e marca na carteira de saúde o dia escolhido. De brincadeira, pergunto o que acontece se chover ou se eu ficar doente. Ela me olha com uma expressão enigmática e começa a folhear um livro surrado e enorme sobre a mesa. Torna a me olhar, dessa vez meio sem jeito e responde: “Essa pergunta não está prevista no nosso procedimento padrão...”

3) Aqui, os carros só podem ser desmanchados (“demolidos”) com autorização e documentação, caso contrario você continua a pagar o imposto de propriedade. E você deve pagar pela demolição. E mais: deve guardar todos os documentos antigos e comprovantes de pagamentos por dez anos, sob pena de ser responsabilizado se o seu carro ou os documentos dele vierem a ser utilizados em algum ato criminoso. Na falta de comprovante, pode ter que pagar com correção alguma taxa já paga, caso o pagamento não conste nos registros. O mesmo vale para contas de água, luz, limpeza urbana, telefone, gaz, escola e assinatura da tv oficial (obrigatória para quem possui ao menos um aparelho de televisão ou um rádio).

4) Vacinação infantil: Quinze dias antes, a escola lhe manda um aviso para ser devolvido assinado, informando que a criança deverá se ausentar dos estudos. Se a criança faltar na vacinação, a polícia vai buscá-la em casa no dia seguinte. Não sei de nenhuma que tenha faltado.
São quatro salas e cinco pessoas. A sala de vacinação tem uma maca e duas atendentes. Uma segura a criança deitada na maca e a outra aplica a vacina. Na perna, pra não marcar e porque dói menos, segundo elas. Mas antes precisa passar na recepção e aguardar na sala de espera, enquanto uma outra atendente leva a carteira de vacina à médica, em outra sala, que irá verificar o estado de saúde da criança antes da vacinação. Essa mesma pessoa leva a carteira de vacinas à sala de vacinação e depois de volta à recepção, para marcar a data do retorno, que pode ser depois de quinze dias, em um ou dois meses para o reforço da vacina ou para a data da próxima dose. Na carteira de saúde da minha filha tem a data da próxima dose de uma vacina: daqui a sete anos.

O texto acima é propositadamente confuso: foi elaborado de forma a fazer você entender que a burocracia serve somente para confundir e constranger e, quem sabe, convencer você de que existe a necessidade de tanta gente para lidar com ela. Ainda que lhe pareça desnecessário.


Ciao.

Saturday, June 12, 2004

O ocaso da dinastia italiana

Caros e Caras,
Paz e saúde!

A família Agneli está para a Itália assim como… Bem, assim como a família Agneli está para a Itália. É difícil uma comparação, neste caso. Poderia dizer “assim como os Kenedy para os Estados Unidos”, mas seria minimizar o poder político da família italiana. Poderia, ainda, compará-la à família real brasileira, mas seria forçar um glamour que nunca tivemos. Muito do que a Itália é hoje, deve aos Agneli. Assim como Chatô fazia aprovar leis no Brasil que o beneficiavam, os irmãos Gianni e Umberto Agneli contaram com o auxílio do Congresso Italiano cada vez que a empresa fundada por Edoardo Agneli (pai de ambos) necessitou. A morte de Umberto há quinze dias, dezesseis meses após a morte do grande líder da Fiat, o irmão Giovanni, encerra a saga da mais importante e influente família italiana contemporânea. As irmãs, filhos sobreviventes e sobrinhos não têm força para manter a hegemonia herdada. Os irmãos Agneli transformaram a empresa de família no maior e mais importante grupo industrial do país. O vazio deixado pela perda de Umberto provocou uma enorme dúvida quanto a condução da empresa, já cambaleante, minimizada, em parte, com a escolha relâmpago de Luca Cordero de Montezemolo como novo presidente. Montezemolo, além de eterno presidente da Ferrari, acabara de ser eleito presidente da Federação Industrial Italiana. Mas a saída de cena do último Agneli abalou de forma definitiva o ânimo da nação italiana.

Outro fator que tem contribuído para a sensação de fim de festa que vem enfrentando a Itália é a atual penúria econômica causada pela valorização do euro. Aqui se diz: “Nevou? Governo ladrão!” Não se pode creditar a queda das exportações italianas somente aos erros do Governo, mas é mais divertido aproveitar a oportunidade para criticá-lo. Neste momento o primeiro-ministro Silvio Berlusconi parece indefeso como um sapo levando pauladas: buscando uma brecha para escapar, nem se lembra de criticar os hábitos de consumo da população. O italiano gosta de afirmar que consome alimentos genuinamente italianos, mas todo o resto deve ser produto estrangeiro. Americano, de preferência.

Além disso, é difícil levar a sério um país onde haja leis que permitam o falimento de times de futebol. Principalmente em se tratando do país que inventou a filosofia do “pão e circo”. O time da Fiorentina faliu e o nome oficial não pode ser utilizado pelo time que se formou a partir do seu espólio. O time do Napoli acaba de depositar um pedido de auto-falência. E para meter o dedo na ferida, gostaria de lembrar que os grandes craques do futebol italiano ainda são os estrangeiros. Os jovens talentos italianos têm muito pouco espaço para crescer no mar de estrelas de outras nacionalidades. Além da avalanche dos kakás brasileiros que continuam chegando, outros sul-americanos e estrangeiros de toda a parte vêm jogar aqui. Saadi Kadafi, o filho do coronel líbio, joga no Perugia (“joga” é bondade da minha parte).

O último escândalo do futebol nem chega a ser novidade: Jogadores, dirigentes e até um árbitro estão sendo investigados pela temível Guardia di Finanza por manipulação de resultados em algumas partidas. O medo da Finanza se justifica quando se sabe que ela só entra em ação após ter recolhido provas do delito. A investigação é mera formalidade. A lembrança da Copa de 82 vem à tona, com Paolo Rossi que tornava aos campos após dois anos impedido de jogar por ter participado numa maracutaia idêntica, à época. Jornais e televisão aproveitam o atual caso como treino para o verão, quando a diversão será flagrar jogadores e outros vips em locais badalados em companhia de outros(as) vips ou candidatos(as), em situações comprometedoras. O corre-corre dos jornalistas só será menor que o corre-corre dos vips que terão pouco tempo para serem flagrados.

O último grande ídolo do futebol italiano aproveita para engrossar o caldo que entristece o prato do quotidiano italiano: Roberto Baggio garante que desta vez é adeus. A participação dele num amistoso entre a seleção italiana e a da Espanha serviu como cenário para a sua despedida, anunciada ao fim de cada campeonato nos últimos anos. A certeza de que não seria convocado para o Campeonato Europeu, que começou nesta semana, nem chegou a influenciar a sua decisão. Há muito o treinador é obrigado a trabalhar com os jogadores escolhidos pelos patrocinadores, numa prática muito conhecida por nós, brasileiros. E ele, Baggio, sabe ter se distanciado do perfil traçado pelos grandes anunciantes.

Outro grande ídolo do esporte italiano já havia se despedido de forma mais trágica: o ciclista Marco Pantani (o Pirata) morreu sozinho em um flat na cidade de Rimini no início do ano, em condições suspeitas, após ter abandonado carro e celular em Milão. A indiscrição de agentes que investigavam o caso deixou escapar que um pó branco teria sido encontrado próximo ao atleta. Tentou-se abafar o caso, procurou-se um culpado e a mãe recusou-se a falar com a imprensa. Especulou-se sobre suas viagens à Cuba, tentativas de desintoxicar-se, a perda da auto-estima e a sua fuga dos amigos que tentavam ajudá-lo. A imprensa sempre procurou informar de forma dúbia, oferecendo uma oportunidade de resgate da imagem do ex-campeão. Até mesmo a Guardia di Finanza (sempre ela!) contribuiu para melhorar a imagem desgastada do ídolo, não encontrando nada na blitz anual no Giro d’Italia deste ano. Tudo em vão. Cristina, a ex-namorada suíça de Pantani, por quem ele tinha enorme devoção, declarou numa entrevista recente (coagida sob sabe-se lá quais argumentos) que distanciou-se do ídolo quando, após três meses consumindo drogas ao lado dele, deu-se conta do tamanho do abismo em que caía. Declarou: “Eu usava droga com a euforia dos novatos. Marco as consumia em doses industriais.” Pobre Pirata…

Os Agneli eram os verdadeiros reis da Itália, muito mais que aqueles da Casa Savoia. Berlusconi pretende sê-lo. Paolo Rossi e Pantani ocuparam o trono por breves períodos. Hoje, o rei é Kaká. Ex-atleta de Cristo brasileiro, bem dentro dos padrões do marketing das multi. Aos Agneli, resta o glamour.



Ciao.

Wednesday, June 09, 2004

Celular

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Na Itália a epidemia do celular já passou. Ou transformou-se. Transformou-se numa ode à incomunicação. O uso indiscriminado do telefone celular já foi objeto de muita reclamação e não pretendo ser redundante. A minha atenção vai para um fenômeno que se difunde na mesma velocidade do consumo de celular pela camada mais jovem: a solidão coletiva.

Em longas caminhadas para fumar meu charuto ou simplesmente para admirar a secular arquitetura italiana, tenho observado cada vez mais a ocorrência de uma atitude bizarra: grupos de jovens que conversam animadamente… com outras pessoas, pelo celular! É triste e ao mesmo tempo divertido. Noutro dia reparei num rapaz que fingia estar falando com alguém ao celular, enquanto controlava com o canto do olho a conversa animada do seu amigo, também ao celular. Quando o amigo acabou de falar e desligou a sua pequena maravilha, o primeiro também desligou a sua, esquecendo-se de despedir-se do amigo imaginário. Infelizmente não é uma cena rara.

Existe um frenesi muito grande em torno da pergunta: “O que a gente vai fazer hoje à noite…?” Opções não faltam: discotecas, bares, restaurantes, shows, cinemas, ópera, teatros, quermesses de paróquias, etc. Em todo lugar, jovens que falam ao celular. Não que eu me sinta velho ou não tenha um celular, mas o meu telefone serve somente para o indispensável: avisar que vou me atrasar, chamar o guincho às quatro da manhã ou pedir a lista do supermercado que esqueci sobre a mesa da cozinha.

Na impossibilidade de serem famosos, visto a alta concorrência desses dias, os jovens italianos (e não somente eles) procuram sentir-se importantes transmitindo pelo celular uma euforia típica de pré-festa, que, pelo jeito, nunca chega. Essa euforia é retransmitida pelos seus amigos e pelos amigos dos seus amigos, numa corrente de Santo Antônio que já deu oito voltas ao redor do mundo, como aquelas da internet.

Isso sem falar nas terríveis musiquinhas! É simplesmente impossível ouvir o mesmo som em dois celulares diferentes, assim como ouvir o mesmo som no mesmo celular por mais de quinze dias. Minhas filhas inseriram a melodia de “Atirei o Pau no Gato” no celular da minha mulher.

E, assim, para delírio de psicólogos e médicos que estudam os efeitos dos campos magnéticos no ser humano, o final de semana se aproxima na Itália e, com ele, a pergunta “O que a gente vai fazer essa noite…?” se espalha pelos cafés, portas de escolas, ruas movimentadas e qualquer outro lugar onde haja um jovem e um celular. O que segue depois, é a barbárie.


Ciao.

Monday, June 07, 2004

Turismo

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Quem nunca sonhou em fazer uma longa viagem…
Talvez você seja alguém que gostaria de visitar a Itália e ainda não teve a oportunidade.

Se é o seu caso, aqui vão umas dicas:
Em primeiro lugar, venha! A Itália é bonita, rica em História, arquitetura, culturas diversas e sabores maravilhosos. Um pouco de estudo antes da viagem, pode proporcionar um melhor aproveitamento.

Você pode alugar um carro e dirigir com a sua habilitação brasileira, desde que acompanhada do passaporte.

Compre um bom guia, um pequeno dicionário e aventure-se num roteiro pessoal. De um modo geral, as informações contidas nos guias são atualizadas. Só tem um problema: você vai precisar se adaptar à sinalização e à falta dela. Algumas placas de trânsito são desconhecidas no Brasil e sugiro conhecê-las rápido. A maior dificuldade será a falta de sinalização complementar.

No meu caminho para o trabalho, tem uma placa enorme: “AUTOSTRADA DEL SOLE” com uma seta à esquerda. Na mesma direção existem seis estradas e você tem duas opções: ser italiano e saber a que se refere a placa, ou adivinhar. Não existe nenhuma outra referência a tal estrada. Há pouco tempo descobri que a tal “AUTOS…” é a “Autostrada A1”, a mais importante da Itália.

As informações turísticas são evidenciadas por placas de fundo marrom, que você encontra antes das referidas atrações. Mas só antes! Você pode passar em frente a um museu ou outro monumento e não conseguir localizá-lo pela absoluta falta de sinalização. Nada que identifique aquele prédio antigo, de arquitetura maravilhosa, igualzinho a todos os outros ao seu lado. Do mesmo modo, durante o dia descobre-se uma cidade diferente daquela que você conheceu na noite anterior, pois a grande maioria das lojas cerram suas vetrines à noite e não tem placas. Assim, quem não é morador e frequentador do seu próprio bairro, terá dificuldades em localizar um sapateiro, por exemplo. Para um turista, então… (Sugiro comprar outro sapato).

Outra coisa: certifique-se, antes, do trajeto a percorrer. As placas indicatórias se localizam exatamente na rua em que se deve virar, na esquina posterior. Não espere encontrar uma placa alguns metros antes, como você está acostumado. Mais uma vez: ou você é da área ou terá que adivinhar.

A biblioteca, a peixaria, o alfaiate. Tudo tem que ser descoberto, o que não deixa de ser uma aventura, às vezes divertida. As exceções são os cafés, farmácias e tabacarias: os cafés tem sempre uma placa, por pequena que seja. As farmácias tem uma cruz verde (da esperança de não precisar usar). As tabacarias, obrigatoriamente tem uma placa padrão, pequena, com fundo escuro e um “T” em branco. O comércio de tabaco na Itália é monopólio de Estado.

Você vai descobrir que tem polícia pra todos os gostos: Carabinieri, Vigili Urbani, Vigili del Fuoco, Polizia Postale, Polizia Florestale, Polizia di Stato, Guardia di Finanza e Polizia Carcerária além das divisões internas e a polícia investigativa que trabalha à paisana. Portanto, cuidado! Com tanta polícia assim, podemos imaginar duas hipóteses: ou é provável que o país tenha um índice de criminalidade que justifique toda essa segurança, ou, o que é pior: podem acreditar na necessidade de se protegerem dos turistas. No caso, você!

Outra curiosidade é a diferença entre norte e sul: o Norte é um pedaço da Europa. O Sul, uma mistura de interior do Nordeste Brasileiro com a malandragem dos morros cariocas. A pobreza e as lamentações políticas com o descaso das autoridades em relação ao Sul, são cenas que lembram os nossos candidatos a qualquer eleição no interior do Nordeste. O hábito de roubar, burlar, fraudar e outras enganações é uma verdadeira instituição. Mas isso já é assunto para outra carta.

Ciao,

Allan Robert P. J.

Saturday, June 05, 2004

Quatro anos

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Lá se foram quatro anos de Itália; às vezes parecem dez, às vezes um mês.
Quando alguém decide ir morar em outro país, acaba promovendo as inevitáveis comparações. Depois de certa idade, quando as descobertas escarceiam e as novidades são como revival de um filme antigo, o melhor modo de avaliar o novo é compará-lo ao velho. Podem surgir sentimentos controversos, como a euforia pela novidade e a saudade pelo que ficou, mas, aos poucos, a gente se habitua. Porém, não se consegue evitar as permanentes comparações. Prometo não ser a exceção.

Neste período procurei manter-me informado e conhecer de modo mais intenso os hábitos e costumes italianos. Diversas notícias publicadas nos jornais demonstram traços de uma cultura latina que nos une, mas as gafes e equívocos (como chamar o iatista Robert Scheidt de alemão, entre tantas outras) me permitiram intuir a pouca seriedade com que somos tratados, apesar de uma bizarra relação de amor e ódio entre os dois países.

Muitas vezes tenho a impressão de que as pessoas na Itália irão começar a falar português, tamanha pode ser a semelhança com o nosso país. Futebol, escândalos políticos, excesso de impostos, tudo, mas tudo aquilo a que estamos habituados a reclamar no nosso endividado país pode ser revivido aqui, no Bel Paese de Dante. Contudo, a precisão no ato de informar não é uma das qualidades italianas.

Uma coisa, porém, precisa ser reconhecida: os políticos daqui não tem vergonha de serem políticos, de possuírem casa nas Bermudas, de serem empresários de sucesso e nem escondem o fato de serem milionários. A diferença é que aqui eles (e só eles) se levam a sério.

A comparação agora é sua.

Ciao.