Thursday, June 17, 2004

Burocracia

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Frequentemente recebo e-mails contando absurdos da burocracia. Decidi escrever o meu. São casos reais. Juro.

1) Na escola onde estudam minhas filhas, a entrada do refeitório fica ao lado de uma das classes e até pouco tempo não tinha porta. Agora tem: a Prefeitura mandou instalar. Mas, (e não teria graça sem um “mas”) a porta foi instalada de modo que, ao abri-la, corria-se o risco de machucar quem saísse da sala ao lado. Na reunião de pais que estava agendada para o dia seguinte, minha mulher sugeriu a mudança da posição da porta. Uma das mães explicou que a medida para a medida já estava sendo tomada, ou seja: um advogado estaria fazendo uma correspondência à prefeitura, informando que se a instalação da porta não fosse mudada em seis dias, a prefeitura seria processada. Minha mulher espantou-se e perguntou se não seria melhor solicitar diretamente ao órgão responsável a execução do serviço. Uma outra mãe, sob a aprovação e constrangimento geral, esclareceu que se tal pedido fosse feito, levaria no mínimo seis meses e poderia nunca ser feito, pois implicaria na mudança do projeto (sic) de instalação da porta. Decidiu-se pela entrega da correspondência para o dia seguinte.
A porta foi reinstalada no último dia do prazo.

2) Exame médico: no total, são cerca de quinze minutos. Você chega, retira um ticket de ordem de chegada e aguarda. Quando chega a sua vez, entrega a carteira de saúde à atendente e espera ela localizar sua ficha. Ela pergunta se você mudou de função e confirma seu endereço atual. Esclarece que se você manipula alimentos deve fazer exames médicos (e só nesses casos). Pede pra aguardar a chamada. Outra atendente chama seu nome e o leva até a sala do médico, na porta ao lado. O médico olha pra você e pergunta se nesse período teve algum problema, você responde que não (não sei o que acontece se respondesse que sim, mas pelo entusiasmo do médico creio que ele nem me escutaria) e ele recomenda o seu retorno para o próximo ano. Nova espera até que a primeira atendente receba da segunda o seu atestado, que esta última levou em uma outra sala para ser assinado. Ela lhe pergunta para que dia gostaria de marcar sua nova visita, no ano seguinte, que é obrigatória. Eu lhe respondo que segunda-feira é um bom dia. Ela olha no calendário e marca na carteira de saúde o dia escolhido. De brincadeira, pergunto o que acontece se chover ou se eu ficar doente. Ela me olha com uma expressão enigmática e começa a folhear um livro surrado e enorme sobre a mesa. Torna a me olhar, dessa vez meio sem jeito e responde: “Essa pergunta não está prevista no nosso procedimento padrão...”

3) Aqui, os carros só podem ser desmanchados (“demolidos”) com autorização e documentação, caso contrario você continua a pagar o imposto de propriedade. E você deve pagar pela demolição. E mais: deve guardar todos os documentos antigos e comprovantes de pagamentos por dez anos, sob pena de ser responsabilizado se o seu carro ou os documentos dele vierem a ser utilizados em algum ato criminoso. Na falta de comprovante, pode ter que pagar com correção alguma taxa já paga, caso o pagamento não conste nos registros. O mesmo vale para contas de água, luz, limpeza urbana, telefone, gaz, escola e assinatura da tv oficial (obrigatória para quem possui ao menos um aparelho de televisão ou um rádio).

4) Vacinação infantil: Quinze dias antes, a escola lhe manda um aviso para ser devolvido assinado, informando que a criança deverá se ausentar dos estudos. Se a criança faltar na vacinação, a polícia vai buscá-la em casa no dia seguinte. Não sei de nenhuma que tenha faltado.
São quatro salas e cinco pessoas. A sala de vacinação tem uma maca e duas atendentes. Uma segura a criança deitada na maca e a outra aplica a vacina. Na perna, pra não marcar e porque dói menos, segundo elas. Mas antes precisa passar na recepção e aguardar na sala de espera, enquanto uma outra atendente leva a carteira de vacina à médica, em outra sala, que irá verificar o estado de saúde da criança antes da vacinação. Essa mesma pessoa leva a carteira de vacinas à sala de vacinação e depois de volta à recepção, para marcar a data do retorno, que pode ser depois de quinze dias, em um ou dois meses para o reforço da vacina ou para a data da próxima dose. Na carteira de saúde da minha filha tem a data da próxima dose de uma vacina: daqui a sete anos.

O texto acima é propositadamente confuso: foi elaborado de forma a fazer você entender que a burocracia serve somente para confundir e constranger e, quem sabe, convencer você de que existe a necessidade de tanta gente para lidar com ela. Ainda que lhe pareça desnecessário.


Ciao.

2 comments:

Anonymous said...

cara, teu blog tah muito chato. teus testos sao longos e nao tem nenhuma imagem. mete uma foto do coliseu aih!
pedroluis

Julie said...

vale salientar que tudo isso acontece tao organizadamente se voce nao estah no sul da italia. por aqui, nao existe ticket de ordem de chegada, a funcionaria demora 15 anos para encontrar sua ficha (porque eh claro que nao existe computador) e por aih vai... burocrazia serve para tudo o que voce citou, a italiana consegue superar toda expectativa. ps: discordo do comentario anterior, fotos ajudam muito mas quando os textos sao bem escritos sao soh contorno.