Os esquimós saberão o nome da neve desses dias. É uma neve fininha, fininha, que cai de madrugada. De tão fina, derrete assim que toca o asfalto. “Chuviscou”, dirão os que se levantam depois das sete.
Nas
primeiras semanas de novembro ainda dormíamos com ventilador. O resto do mês
foi reservado ao inverno, prepotente que não nos permitiu o outono. E agora,
neve. Fininha, mas sempre neve é. Ah, e ainda tem o vento. Aquele vento pelo
qual rezamos no verão e que chega sempre atrasado. Esta semana a temperatura
subiu e atingimos os oito graus positivos. Não sob o sol, que não dá as caras
tem dez dias. Chás, vontade de chocolate quente e aquecimento ligado.
Piacenza
não é uma cidade de pouco mais de cem mil habitantes. Tampouco uma região.
Piacenza é um mundo à parte, capaz de sobreviver isolada do planeta. Se a
neblina autóctone decidisse isolar a província perenemente, ainda assim
Piacenza sobreviveria. Sim, a neblina – assim como não poucas uvas – são
produtos exclusivos daqui.
O
resto do mundo deveria viver como em Piacenza e não teríamos os problemas
climáticos que enfrentamos hoje. Os bosques são preservados e a caça é
regulamentada (não que eu aprove a caça, não aprovo); mel não falta; a pecuária
de leite funciona a todo vapor; o pequeno agricultor é um dos pilares da
economia local; temos frutas e verduras frescas, queijos, grãos, carnes e
ensacados; o vinho, ...Ah, o vinho!
O
risco de ver tudo isso desaparecer, porém, tem assustado o povo daqui. Com o
verão invadindo o que deveria ter sido o outono as montanhas não congelam. O
frio chegou tarde. Se a temperatura não diminui no momento certo, a neve acaba
isolando a montanha que, desse modo não congela mais. Pode nevar o quanto for,
vai tudo derreter logo no início da primavera, privando o verão – e a
agricultura e o abastecimento das casas e... – de água. Os muitos riachos,
córregos e o nosso amado rio Trebbia permaneceram secos no verão passado. E, é
claro, a neve derretida toda de uma vez causou danos.
Caso
as montanhas não congelem, teremos que racionar água novamente. A seca aqui foi
braba, esse ano. Mais de duzentos dias sem chuva e nada de neve derretendo para
suprir as nascentes. Precisamos de água para o nosso mundo não perecer.
Por
tudo isso eu peço a vocês, que não fazem parte desse mundo perdido entre a
planície nebulosa e as montanhas vinícolas: não desperdicem água. Bebam vinho.
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