Na parede do vestiário do Palmeiras havia uma foto do “Grande Torino”, time italiano de grandes estrelas que colecionava títulos e troféus. O treinador palmeirense, Claudio Cardoso, notou a semelhança do jovem José com Valentino Mazzola, camisa 10 do Torino e da seleção italiana e o apelido ficou. José não era mais José, mas Mazzola.
Valentino Mazzola foi vítima de um acidente aéreo, em 1949, em que morreu todo o time, naquela que ficou conhecida como Tragédia Superga. O mau tempo, a escassa visibilidade – de apenas 40 metros – e uma provável rajada de vento, levaram o avião que retornava de um jogo amistoso em Lisboa a chocar-se contra a catedral Superga, no topo do morro homônimo, já próximo ao pouso. Comoção na Itália e em toda a Europa. A federação Italiana de Futebol decretou o Torino como campeão italiano, 4 rodadas antes do final, mesmo faltando a certeza matemática do título. Os 4 jogos restantes foram disputados pela equipe júnior do Torino. Em sinal de respeito, os adversários também convocaram os juvenis e o Torino sagrou-se campeão com 60 pontos, 5 à frente da Inter, segunda colocada e a 10 do Milan, o terceiro.
O valoroso capitão do Torino e da Azzurra não deixou
apenas torcedores órfãos. Os dois filhos, Sandro e Ferruccio, com 6 e 4 anos,
precisaram aprender por conta própria o oficio do pai. Ferruccio, o caçula,
rodou alguns times jogando no centro-campo até iniciar a carreira de treinador.
Sandro (Alessandro) jogou apenas em dois clubes: no Torino, onde iniciou a
carreira e na Inter (Internazionale di Milano). Assim como o pai, Sandro jogava
seja como meio-campista que como atacante. Os irmãos jogaram juntos na Inter e
na seleção italiana, honrando o sobrenome. Ferrucio faleceu em 2015. Sandro é,
talvez, o comentarista esportivo mais respeitado na Itália.
E o nosso Mazzola, o José?
Mazzola - da seleção brasileira campeã de 1958
Bem, o Mazzola brasileiro tornou-se um atacante de
todo respeito e, com pouco mais de 17 anos, estreou no time principal do
Palmeiras, num amistoso contra o Catanduva, quando marcou dois gols (o mais
jovem de toda a história do Verdão). Ao todo foram 85 gols em 114 jogos com a
camisa verde, numa média de 0,74 gol por partida. Convocado para a seleção,
participou da Copa Roca e dos amistosos em vista do Mundial da Suécia. Em
especial, na excursão italiana, quando jogaram contra Fiorentina e Inter. Foi
nessa ocasião que os dirigentes do Milan se maravilharam pelo jovem José e
decidiram pela sua contratação. Antes, porém, Mazzola jogaria o mundial de
1958, sendo o segundo jogador mais jovem do time, com 20 anos. Foram 4 gols em
8 jogos com a camisa canarinho, entre amistosos, Copa Roca e Copa do Mundo.
Partiu para a Itália logo após sagrar-se campeão em
58. Em sete estações com o Milan, venceu dois campeonatos italianos e uma Champions
League, a primeira de um time italiano, diga-se de passagem. Ainda jogou no
Napoli, Juventus (vencendo outros dois campeonatos), na Itália e no
Mendrisiostar e no Chiasso, da Suíça, antes de pendurar as chuteiras, aos 42
anos e tornar-se comentarista esportivo mais simpático da Itália. Ah, claro,
jogou também pela seleção italiana, tendo participado do Mundial de 1962. Como
na época a Seleção Brasileira atuava somente com jogadores que jogavam no
Brasil, José não foi mais convocado. Sendo descendente de italianos, teve a sua
cidadania italiana facilmente reconhecida, o que o permitiu defender a Azzurra.
Infelizmente a culpa da eliminação da Itália na Copa de 62 caiu sobre o nosso
Mazzola e ele nunca mais seria convocado. José detém o quarto lugar entre os
artilheiros da Série A, o campeonato principal da Itália, com 216 gols, e ainda
marcou 5 gols em 6 jogos com a camisa da Itália.
Não se assuste se algum brasileiro vivendo na Itália
nutrir antipatia por Sandro Mazzola. Muitos acreditam ser ele o nosso Mazzola e
ficam com raiva quando Sandro se refere à
seleção italiana como “i nostri ragazzi” (os nossos garotos). Como
norma, jogadores italianos devem ostentar o sobrenome na camisa do time e não o
apelido, como é comum no Brasil. O nosso Mazzola ficou conhecido, respeitado,
amado e idolatrado em terras italianas como Altafini. José João Altafini é o
nome da fera. Mazzola é o outro, o italiano.
Sandro Mazzola
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