Diário 16.4.2021
Estamos todos irritados, irritáveis e irritantes.
Até uns vinte anos atrás, a nossa possibilidade de interlocução se restringia prevalentemente ao círculo de pessoas com quem mantínhamos contato oral. Eram, na maioria dos casos, pessoas que conhecíamos pessoalmente. As comunicações não verbais estavam limitadas a uns poucos e-mails, a correspondências entre amigos, parentes e as de caráter profissional.
Com o surgimento das redes sociais a situação mudou completamente. Passamos a interagir por escrito muito mais do que estávamos acostumados. Tal mudança nos expõe ao confronto e ao julgamento alheio, que podem chegar de até mesmo de algum desconhecido do outro lado do planeta.
A partir de então, nos sentimos obrigados a ter opinião sobre quase tudo, a tomar posição, defender bandeiras, justificar a ideologia que escolhemos como correta e a fragmentar as relações como nunca acontecera. Sentimos a necessidade de preservar e defender nossos pontos de vista, de nos declararmos “do lado certo da história” e condenar quem discorda. Precisamos estar sempre do lado da verdade.
A polarização de qualquer debate não nos fortalece. Apenas mostra a nossa dificuldade em aceitar diferenças, em discernir, em praticar a diplomacia e preservar contatos. Contatos que podem divergir, mas que as compatibilidades mantiveram intactos até então.
As redes sociais têm um ritmo muito dinâmico, os fatos e as interpretações nos alcançam muito rapidamente. Temos pouco tempo para reagir e tomar posição.
Toda essa ansiedade, o medo de não acompanhar as mudanças e a incerteza de não saber se estamos realmente do lado certo – e não digo que exista um lado certo para estar – cria uma angústia que vai endurecendo dentro de nós, que coloca em dúvida as nossas crenças, que transforma o que pensávamos ser. Um muro alto e rígido que nos afasta do que de fato conta: as nossas afinidades.
Algumas perdas não farão falta e continuam onde estão. Perdemos tanto, desde então. Perdemos muito mais nesses tempos sombrios. Por que não salvar o que pode e merece ser salvado?
1 comment:
Olá!
Fiquei encantada pelo seu texto, essa é uma reflexão extremamente importante. Realmente perdemos tanto, perdemos demais e ainda mais nesses tempos que estamos vivendo e precisamos pensar o que realmente vale a pena. O que podemos salvar.
Precisamos também refletir e mudar essa ansiedade de responder tudo na hora, a internet é algo que muitas vezes exige imediatismo e precisamos cada vez mais dosar isso para não afetar tanto ou mais do que deveria a nossa vida.
Beijos.
https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/
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