O sol filtra
pelas frestas entre as tábuas e pela porta entreaberta. A poeira move-se num
lento e desordenado movimento dentro dos fachos de luz. Sombras pelos cantos,
silêncio no ar. Metade da manhã já se foi, como tudo, de resto. O calor não
chega a incomodar, só as lembranças.
Aproximando o
nariz, as pranchas que formam as paredes cheiram a madeira velha. Madeira de
muitos anos, de uma árvore que morreu e deixou o melhor de si como abrigo. Foi
sendo consumida pelo tempo até perder todas as farpas e arestas para, apesar da
rigidez, tornar-se macia ao tato, rachaduras arredondadas.
O chão de terra
batida, tantas vezes pisado, parece cimento. Nenhum sinal de cascos ou botinas.
Nenhum sinal. Só a rigidez desse chão que – cedo ou tarde – tudo cobre. A superfície que nunca esteve em outro lugar senão aqui e
que, ao mesmo tempo, nos liga uns aos outros. Acima e abaixo dela. Um jovem
passa correndo lá fora. Não, não é real. É só uma dor que paralisa a respiração
e cria mais uma sombra nesse dia ensolarado.
Tudo cheira a
esterco e, talvez até por isso, é agradável. Depois de hoje, não será mais
possível apreciar novamente esse cheiro, tenho certeza. Como o perfume
agradável que se mostra insuportável após o primeiro minuto. Madeira, esterco,
suor de cavalo, palha seca e feno. Movendo-se os cheiros se alternam, ora mais
nítidos, ora só a memória.
Fardos desfeitos
de palha seca, espalhados para impedir a umidade e dar aconchego aos bichos. É
uma palha dura que espeta e acolhe ao mesmo tempo. É possível passar uma tarde
largado sobre ela, partindo os talos secos com os dedos, se questionando sobre
dores e perdas, torcendo para que o coração pare de repente. Quem sabe se a
palha protege e conforta? É provável que exista um momento em que não se
precise mais de conforto nem consolo, a palha se torna inútil e desapareça
pelos ventos, absorvida pelo solo, destino do mundo, destino das ideais que
levam jovens para longe das palhas e dos estercos que não os trazem de volta.
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1 comment:
Estou rindo, lembrando de coisas passadas. Uma vez brincamos feito crianças num sítio, os rapazes pareciam meninos. Entao tinhamos que correr para nos arrumar. Tinha seresta na pequena cidade perto e era adoravel como até hoje. Um deles... não dava para chegar muito perto. Trocou a roupa mas não tomou banho (poucos banheiros para muitos e hora apertada). Ele cheirava a curral. Tinha caído no feno e tem cheiro e este passou a ser o perfume que impedia de chegarmos muito perto. hahahahahhah
bjs
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