Jamais pensei em viver fora do Brasil e, no
entanto, lá se vão 19 anos. A vida vai mudando e nós mudamos junto com ela. Mas
que dá uma saudade, ah!, isso dá. Só não sei se um dia terei vontade de voltar.
Viver na Europa não é chique nem há glamour algum nisso. Sim, é diferente e
existem muitos pontos positivos. Só sugiro nunca colocar na balança os prós e o
contras para não se frustrar. Por aqui existe todo tipo de gente: culta,
ignorante, amável, chata, educada, analfabeta e tudo o mais que precisar (mesmo
que você não precise). Aquela sensação de viver no primeiro mundo passa logo;
tem quem não aguenta e volta na primeira oportunidade. Quem fica, mata dois
leões por dia.
Tenho uma amiga que morou por anos na Itália e
escrevia “no interior do Zaire é assim”,
quando contava sobre o dia a dia da cidade em que vivia. Voltou para o Brasil e
prometeu que “na Vaticália só a turismo.”
Diferenças à parte, sentimos falta dos costumes que nos acompanharam desde o
nascimento. Talvez, o pior é a falta do calor humano, a distância de amigos e
parentes, a cerveja gelada, a comida. E a língua. Porque – como disse Caetano –
“minha pátria, minha língua”. Ou, para
citar um escritor italiano que vivia seis meses por ano em Lisboa (e seis na
Toscana), quando lhe perguntaram qual era a sua casa, respondeu: “a minha casa é a minha língua”. Antonio
Tabucchi, escritor e professor de Língua e Literatura Portuguesa na
Universidade de Siena, sentia-se à vontade na própria língua. Assim como eu me
sinto confortável com o português.
Esse – da língua, da cultura – é um dos preços
a pagar. O vocabulário, vai diminuindo, as novas gírias ou ditados são sempre
novidade e os idiomas se misturam. No início até ouvia rádios brasileiras na
Internet, mas o mau gosto de certas músicas, o pouco tempo livre, e um monte de
motivos banais me fizeram perder o hábito. Por outro lado, aprendi a gostar de
Lucio Battisti, Vasco Rossi, Zucchero; a reconhecer um Culatello di Zibelo, a
distinguir o bom pisarei e fasò do
ruim e a beber vinho bom.
Em um ano politicamente tão complicado (aqui como
aí), lembro que uma caraterística que nos une é essa torcida ideológica
agressiva e obtusa. A Europa xenófoba não será os Estados Unidos da Europa que
muitos sonhavam. O Brasil corre o risco de se esfacelar, de deixar de ser o país
cordial e tolerante que encantava o mundo. Nossos umbigos estão cada vez
maiores. Aqui como aí. E nem isso assusta mais.
11 comments:
Quando moramos fora, melhor nem fazer muitas comparações. Encontramos o negativo sempre em cada lugar, mas há muito de bom. pra mim, tenho medo de voltar pra Roma, onde morei pra não perder a magia que vivi lá, vendo tudo mudado como tenho ouvido , lido ... Mas aqui a coisa TÁ FOOOOOOOOOOOOOOOGO, posso te dizer! Acho que pior é impossível... Teremos eleições e nenhum candidato que mereça nem menos nosso deslocamento pra ir votar! Tá feio o panorama! Mas... abraços, chica
" Vida leva eu " ...
Allan,
Excelente texto, vou compartilhar aos ventos, porque muitos sofrem de ilusoes. Por exemplo, muita gente foi para Portugal. Lá há paz, se vive bem porque não há violencia e há infraestrutura. Contudo, não tem emprego, assim como toda Europa inchada de tanta gente que foi para um país ou outro atrás de uma nova vida. Minha familia materna mora em Berlin, e como voce disse minha irmã repetiu "não é chique nem há glamour". Sentem saudades do Brasil, mas sabem que estão vivendo com mais tranquilidade na Alemanha.
Eu estou muito preocupada com tudo que estamos passando no Brasil, o Rio de Janeiro deixou de ser uma cidade maravilhosa, eu tenho medo de sair, até de passear na praia. Trabalho Casa Casa Trabalho. Isso não é vida. E ficará pior se votarem naqueles que saquearam as contas.
Que Deus nos proteja, mas as vezes acho que até Ele cansou.
Bjs
Ser estrangeiro é um dos desafios culturais que mais amo viver, com todos os prós e cons. Seja onde for. :)
Eu não sabia que tinha tão pouco tempo que você vivia aí quando comecei a ler o Carta da Itália.
Tenho a impressão de que seria muito bom viver fora se eu fosse rico e não precisasse trabalhar. Precisando — ainda mais alguém que vive da última quenga do Lácio—, eu fico com a Dorothy e seu “there’s no place like home”, mesmo se o lar é o Kansas, que deve ser uma merda.
E quanto ao futuro, eu sou um otimista, sempre. Não acho que o país venha a se esfacelar. Ou pelo menos espero.
Chica,
Às vezes o banzo fala mais alto. Só às vezes. Continuo dando mais importância ao que tem de legal e positivo.
Roma mudou? Sim, como o resto do mundo. E continua linda.
:)
Mauro,
"Oi leva eu, eu também quero ir"
Sissym,
Fica triste não. A Alemanha é mais tranquila que o Brasil, mas eles comem repolho azedo.
:D
Querida Lucia querida,
A Lua minguante me deixou melancólico. Pode acontecer uma vez a cadas dois, três anos. No final das contas, me divirto muito sendo estrangeiro.
:)
Rafa,
Tenho notícia boa e ruim.
A boa é que estou tentando ficar rico. Muito rico. Como treino há muitos anos, cedo ou tarde eu consigo.
A ruim é que - cedo ou tarde - o mundo inteiro vai esfacelar. E aí eu fico com John Maynard Keynes: "a longo prazo, estaremos todos mortos."
;)
Gostei do que disse. A um tempo conheci uma pessoa da Itália. Tenho entrado em contato com ela. Tenho medo de me envolver e se isso acontecer não sei se estou preparada para sair do meu Brasil para ir para aí. Apesar das dificuldades ainda prefiro ficar aqui. Tenho medo das diferenças culturais serem muitas e eu não conseguir me acostumar. Viajar para passear é bom mas sei que a vida de estrangeiro não é as mil maravilhas. Então por enquanto quero ficar por aqui. Conheci hoje seu blog e quero acompanhar para conhecer mais a visão de Brasileiros sobre a Itália.😊
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