Monday, August 15, 2016

Espírito Olímpico



Aproveitei o feriado na Itália (15 de agosto – Ferragosto) para dar uma volta de bicicleta na cidade vazia. Com o fone de ouvido, ouvia o rádio pelo celular. Música e notícias: “Usain Bolt venceu a terceira final dos 100 metros rasos pela terceira olimpíada consecutiva. Fez festa, foi simpático como sempre e até tirou selfie com as atletas do pentatlo feminino. Depois, foi embora, consciente de ter entrado para a história. Só então o público brasileiro deixou o estádio. Feliz porque venceu o esporte.”

É isso, um evento como os Jogos Olímpicos nos magnetiza porque nos faz viver as emoções como se fôssemos nós a competir. Torcemos e vibramos com os nossos eleitos porque nos lembram que podemos ultrapassar os nossos próprios limites. Porque nos confortam pelas nossas escolhas e por aquilo que perdemos para trilhar outro caminho.

O espírito olímpico perderia o brilho, não fosse pelas histórias dos que não ganharam medalhas, mas mesmo assim festejaram a participação – “o importante não é vencer, mas participar”. É fácil torcer pelo Bolt, pelo Phelps ou pelo keniano que aprendeu a lançar dardos pelo Youtube (e que, provavelmente, vai ganhar medalha). Mas como não se emocionar pela ginasta indiana que treinava em condições insalubres? Ou pelos anônimos que participaram das baterias e foram eliminados com um sorriso no rosto? Ou com o judoca que chora que foram “quatro anos em um dia”? São essas histórias que nos aproximam de Olpímpia, que nos fazem acreditar que também podemos ir além e vencer medalhas invisíveis. Quantos desses atletas olímpicos estarão trabalhando como vendedores, manicures, engenheiros ou cortadores de cana daqui a alguns anos? Serão anônimos como nós e terão filhos, alegrias e decepções. Como qualquer outro.

O esporte é uma metáfora sadia, pois ensina que com objetivos, disciplina e respeito – além de horas de sacrifício e treinamento – podemos conquistar vitórias. Mesmo que sejam vitórias humildes e sem medalhas.

A Rio 2016 está servindo para confirmar algumas coisas: que o esporte é o espetáculo mais agregador que existe; que os italianos são mais ufanistas que os brasileiros; que a RAI deveria investir na preparação dos jornalistas antes de grandes eventos; que o ser humano é – antes de tudo – emoção; que os Jogos Olímpicos vão continuar se renovando e atraindo cada vez mais público; que a mídia internacional está muito menos preocupada com os problemas do evento no Brasil que a mídia brasileira; que Bolt está feliz com o mundo a seus pés. E que o mundo está feliz aos pés de Bolt.


2 comments:

Anonymous said...

O espírito olímpico é contagiante, infelizmente de efeito pouco duradouro.
Manoel Carlos

Micha Descontrolada said...

Amei o post. Exatamente isso.
Estou tentando aproveitar ao máximo os jogos aqui no Rio, porque é uma festa única.

Beijossssssss
┌──»ʍi૮ђα ツ