Aproveitei o feriado na Itália (15
de agosto – Ferragosto) para dar uma volta de bicicleta na cidade vazia. Com o
fone de ouvido, ouvia o rádio pelo celular. Música e notícias: “Usain Bolt
venceu a terceira final dos 100 metros rasos pela terceira olimpíada
consecutiva. Fez festa, foi simpático como sempre e até tirou selfie com as
atletas do pentatlo feminino. Depois, foi embora, consciente de ter entrado
para a história. Só então o público brasileiro deixou o estádio. Feliz porque
venceu o esporte.”
É isso, um evento como os Jogos Olímpicos
nos magnetiza porque nos faz viver as emoções como se fôssemos nós a competir.
Torcemos e vibramos com os nossos eleitos porque nos lembram que podemos
ultrapassar os nossos próprios limites. Porque nos confortam pelas nossas
escolhas e por aquilo que perdemos para trilhar outro caminho.
O espírito olímpico perderia o
brilho, não fosse pelas histórias dos que não ganharam medalhas, mas mesmo
assim festejaram a participação – “o importante não é vencer, mas participar”. É
fácil torcer pelo Bolt, pelo Phelps ou pelo keniano que aprendeu a lançar
dardos pelo Youtube (e que, provavelmente, vai ganhar medalha). Mas como não se
emocionar pela ginasta indiana que treinava em condições insalubres? Ou pelos
anônimos que participaram das baterias e foram eliminados com um sorriso no
rosto? Ou com o judoca que chora que foram “quatro anos em um dia”? São essas
histórias que nos aproximam de Olpímpia, que nos fazem acreditar que também
podemos ir além e vencer medalhas invisíveis. Quantos desses atletas olímpicos
estarão trabalhando como vendedores, manicures, engenheiros ou cortadores de
cana daqui a alguns anos? Serão anônimos como nós e terão filhos, alegrias e
decepções. Como qualquer outro.
O esporte é uma metáfora sadia,
pois ensina que com objetivos, disciplina e respeito – além de horas de
sacrifício e treinamento – podemos conquistar vitórias. Mesmo que sejam
vitórias humildes e sem medalhas.
A Rio 2016 está servindo para
confirmar algumas coisas: que o esporte é o espetáculo mais agregador que
existe; que os italianos são mais ufanistas que os brasileiros; que a RAI
deveria investir na preparação dos jornalistas antes de grandes eventos; que o
ser humano é – antes de tudo – emoção; que os Jogos Olímpicos vão continuar se
renovando e atraindo cada vez mais público; que a mídia internacional está muito
menos preocupada com os problemas do evento no Brasil que a mídia brasileira; que
Bolt está feliz com o mundo a seus pés. E que o mundo está feliz aos pés de
Bolt.
2 comments:
O espírito olímpico é contagiante, infelizmente de efeito pouco duradouro.
Manoel Carlos
Amei o post. Exatamente isso.
Estou tentando aproveitar ao máximo os jogos aqui no Rio, porque é uma festa única.
Beijossssssss
┌──»ʍi૮ђα ツ
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