▬ Desculpe, esse seu sotaque… O senhor é de Gênova?
▬ Da província, senhora. Da província.
▬ De que lugar, exatamente? Conheço tudo ali.
▬ De um lugarzinho chamado Rio de Janeiro. Conhece?
▬ Ah, que brincalhão. O senhor é brasileiro, né? Pelo sotaque achei que fosse genovês. Sabe, aprecio muito o espírito festeiro de vocês, mas nunca entendi o sentido do Carnaval brasileiro. Como é que aquela gente aguenta dançar a noite inteira? E, depois, o governo precisa mesmo gastar tanto dinheiro naquele monte de carros alegóricos num país tão pobre?
▬ O Carnaval que passa na tv é o do Rio, mas também acontece em outras cidades; em alguns lugares é muito diferente. E são várias escolas desfilando; na realidade é um concurso em que cada escola de samba desfila por uma hora e meia para contar uma história e ganha pontos pelo modo como representa essa história, pela animação, fantasias, etc. Os carros alegóricos – e todo o resto – são financiados pelas próprias escolas com ajuda dos patronos, que em alguns casos são banqueiros do jogo do bicho.
▬ …Banqueiros do jogo do bicho?
▬ Deixa pra lá! É muito difícil de explicar.
▬ Mas por que tanta mulher pelada? Depois, em pleno Inverno… Minha empregada, que é argentina, diz que no Brasil as meninas já nascem com a bunda de fora.
▬ Quando é Inverno aqui, lá é um pouquinho mais quente e, sim, em toda a América do Sul as crianças nascem com a bunda de fora. E não só as meninas, não: os meninos também.
▬ Em toda a América do Sul? …Na Argentina também?
▬ Também. Pode dizer à sua empregada que ela nasceu com a bunda de fora como qualquer sulamericano.
***
▬ Bom dia! Eu tinha certeza de que iria encontrar o senhor hoje. O senhor é muito cordial, viu?
▬ Bom dia, senhora. Como vai?
▬ Minha empregada morreu de rir quando falei que ela também nasceu com a bunda de fora, mas confessou que é verdade.
▬ Não falei…?
▬ Me diga uma coisa: É verdade que tem muita cobra pelas ruas no Brasil?
▬ Sim, senhora.
▬ E como vocês fazem para evitar picadas?
▬ As pessoas caminham com um bastão na mão e, quando encontram uma cobra, usam o bastão pra jogar a cobra pra outro lado. Vez ou outra uma cobra vai parar na cabeça de alguém e aí sobra bastonada pra todo lado. Só nos semáforos não se veem cobras. Parece que elas aprenderam que automobilista brasileiro não gosta de respeitar semáforo.
▬ E tem semáforo lá?! Funcionam como os nossos?
▬ Não, é muito diferente. Hoje estou com um pouco de pressa, mas prometo que da próxima vez explico como funcionam, se a sua empregada não contar antes. Tenha um bom dia.
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12 comments:
adorei!!!!!!!!!!!!! :)))))))
abraços enormes!!!!!!
Muito engraçado mesmo, a gente cada coisa. Bom domingo!
HA tempos eu nao ria tanto. Primeiro rolei de rir da argentina que nsaceu com a bunda de fora - e fiquei imaginando como a senhorinha nao ia se sentir se soubesse que ela tambem ( shock! Horror!) nasceu com a bunda de fora.
Mas o negocio ficou muito pior com as cobras pelas ruas e as bastonadas pra todo lado.
Vc me inspirou pra contar a historia dos macacos.qdo me mudei pra sydney todo mundo me eprguntava: vc ve macacos qdo vai pra escola? Ai eu dizia que a gente nao so via, mas ia com eles, pq eles tb usavam cipos como meio de transporte...
Minha prima, muito mal educada, ja ia logo dizendo que nao - e que em Camberra o transito estava sempre interditado pelos cangurus que invadiam a pista ( verdade verdadeira...)
Adorei. Lembrou-me uma história. Uma vez hospedamos um austríaco em casa, no Rio. Foi um certo constrangimento explicar para o jovem de seus 20 anos que ele não deveria perambular de cuecas numa casa onde havia uma senhora e uma adolescente. Depois, foi constrangedor perceber que ele, depois de alguns dias, não sabia o caminho para o chuveiro. Mas o mais interessante foi vê-lo, certa feita, debruçado na varanda do apartamento (oitavo andar, como na música de Belchior), meditabundo. Ao perguntá-lo sobre o que pensava, ele disse: "é uma cidade, uma grande cidade, maior até que as cidades da Áustria". "e o que você esperava?" perguntei. "uma floresta". Então apontei para as montanhas da Tijuca e disse: "ali tem uma floresta". "pensei que era tudo uma floresta, só uma floresta, com cipós e macacos, sabe?" disse-me desolado. Eu então, expliquei para ele que essa imagem que el tinha não era o Brasil e sim um filme de Tarzan...:-)
esse negócio de estereótipo é triste, melhor dizendo, patético! Eu mesma, ao conhecer a Itália, ano passado, achei que os homens não são mais aqueles que me relatou uma amiga. Do tipo que elogiam todas as mulheres que passam, enfaticamente...Só depois me lembrei que eu e minha amiga tínhamos 40 anos menos, quando ela me contou isso, voltando de uma viagem à Itália :D
Muito bom !
Me fez lembrar da Florida, em 1997, quando um Norte Americano, intrigado com uma Brasileira ruiva, (que tambem fazia curso lá,na minha sala), perguntou como ela era ruiva, se no Brasil havia somente negros; e como ela fazia para ir a escola no Brasil. Resposta fulminante: "Pego o cipó das 8:00", junto com os negros.
Dawidson
Eu não aguentei com isso! Eu precisei ler para os meus amigos ouvirem!
Caramba, eu que tenho familia alemã, morando lá, eu sei que estes pensamentos errados sobre comportamento e situações não são ficção. Eles realmente acreditam que no Rio de Janeiro, por exemplo, é uma selva perigosa. É... né... porque para ser atropelado pelas ruas e calçadas sempre é bem facil... é só dar mole!
BEIJOS
hahah adorei. bem tipica senhora italiana enxerida! por que alguns italianos sao tao intrometidos e fazem perguntas indiscretas/estupidas/inconvenientes assim, na maior cara de pau?
rsrsrs Muito bom! Adorei!
Kkkkkkk! Também adoro contar causos sobre o Brasil. Quando tenho bom humor, claro. Tem dia qua a vontade é mandar a pessoa... viajar. Tem muita gente que acha que sou indiana, daí quando vêm a pergunta, respondo que não, que sou brasileira, descendente de índios. E o povo me olha espantado, e faz perguntas esdrúxulas. Daí eu explico que no Brasil tem muita enchente, porque a gente enche a cara de caipirinha durante a dança da chuva, e a chuva acabava vindo exagerada.
Hahaha. Tem que ter bom humor mesmo pra lidar com essas perguntas esdrúxulas. Quem nunca passou por uma dessas ao morar fora, né?
Mas hoje, com a internet e a TV, era de se esperar que o povo já soubesse melhor como as coisas são de verdade...
Delícia de diálogo. Adoro esses desentendimentos culturais. Engraçado que existam ainda em dias de hoje, com tanta mobilidade, com tanta informação.
Adoro seu blog.
Clarisse
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