Sunday, March 27, 2011

Biscoito espanhol em Maputo


Pelos becos e caminhos abstrusos percorridos pela minha memória as coisas se perdem. Muitas vezes não consigo descobrir o percurso labiríntico de volta para encontrar o que procuro. Sempre fui muito distraído e o tempo acentua certas características. Nomes, cidades, datas e cronologia são menos importantes que as histórias contadas. Memória é uma questão de importância: lembramos daquilo que captura a nossa atenção.

Semana passada decidi procurar outra receita de biscoito de polvilho (biscoito de vento, biscoito de cuspe). Uma que fosse mais leve e que se esfarelasse como aqueles que comprava em Copacabana, enchendo as toalhas vizinhas de migalhas. O problema é que entre um e-mail e uma notícia lida, acabo esquecendo o motivo que me levou a ligar o pc. O biscoito acabou indo parar em Maputo para me lembrar de procurar um outro contato comercial em Moçambique e Angola. A língua oficial é a mesma, mas tenho encontrado dificuldade em localizar quem possa fazer uma simples pesquisa comercial. Algo como abrir as Páginas Amarelas e passar-me alguns endereços e telefones. Internet? Ainda não entendi como funciona por . Os costumes também são outros e isso me fascina. Será difícil esquecer as diferenças que começo a descobrir.

Crio uma frase e repito algumas vezes: biscoito espanhol em Maputo. Minhas filhas me observam desconfiadas, os amigos italianos sugerem que use o celular para registrar como compromisso, mas quem disse que vou lembrar de verificar o celular? Mas isso foi semana passada, não? Os contatos africanos são vacilantes, ainda não encontrei uma receita que me convença e começo a duvidar que conseguirei lembrar a que se referia o “espanhol” da frase antes de terminar essa carta. Devia ser algo sem importância que se perdeu em algum beco escuro da memória. Melhor deixar por .

Na minha agenda tem uma pequena lista de assuntos para tratar com o médico. Nada mais sério que uma dor muscular ou uma nova consulta ao oculista. Além da memória. São dois meses que transfiro a relação de uma segunda-feira a outra e não lembro de telefonar para marcar a consulta.

Ultimamente tenho me concentrado no trabalho, em ampliar as perspectivas econômicas e a descobrir novas oportunidades. Todo o resto acaba se misturando a nomes, cidades, datas e cronologia. A cor da caneta, o tom da frase ou um olhar são detalhes que não esqueço em algumas situações. De ontem ou de vinte anos atrás. Que diacho teria me interessado tanto na Espanha? E era Espanha? Alguém sabe como acionar a memória quando eu preciso?
.

8 comments:

peri s.c. said...

As memórias começam a se transformar em vagas lembranças, ah, ah. Talvez uma evolução.

Thais Miguele said...

Quando quiser alguma informação das páginas douradas de Angola, é só dizer. E essa sensação de esquecimento, eu bem conheço... é igual quando a gente abre a geladeira... pra que mesmo?

myra said...

teve dias que buscava meus oculos, fiquei maluca e nao encontrava, e qdo abri a geladeira para comer algo, ai estavam meus oculos!!!no dia seguinte...
acontece..
beijos

maray said...

a sua memória não sei, mas a minha, quando procuro algo e esqueço, deixo estar. No começo depois de uns 20 minutos a coisa vinha. Agora chega a demorar até mais de um dia. Já teve ocasião de acordar berrando um nome que tinha me faltado no dia anterior ...Demora mas volta. E o dia em que não voltar mais, talvez eu nem saiba o que é esquecimento ou memória...
O tempo nem sempre é cruel, como dizem. As vezes é sábio.

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ said...

Allan, estamos todos sofrendo do mesmo mal, hahhahahaha!!!

Faz parte do show da vida, rs.

Abracos

Anonymous said...

Você consegue transformar um limão azedo numa saborosa limonada.
Manoel Carlos

@deniserangel said...

Dizem que fazer exercícios que estimulem a mente ajuda a melhorar a memória, como relogios sem números nos mostradores, fazer conta sem usar a calculadora, etc.
Eu sigo anotando tudo na agenda do celular.E mantenho uma agenda tradicional em casa, para guardar coisas importantes que não correm o risco de se perder se o celular pifar ou for roubado.
Perdemos as coisas , esquecemos outras; mas não perdemos a sanidade.
Gostei das mudanças no layout.
abraço, garoto

Luma Rosa said...

Allan, acontece comigo de não lembrar o lugar ou circunstância quando sinto o cheiro de algo e fico me perguntando, onde foi que senti aquele perfume. Muitas vezes o cheiro é tão presente que já perguntei para quem estava do meu lado, se conhecia o cheiro e a pessoa dizer que não está sentindo o cheiro de nada! Daí fica a dúvida, se o nosso cérebro sente saudades, porque você não está tentando se lembrar de nada quando sente o cheiro - Pois certo que massageamos o nosso cérebro quando sentimos prazer e quando este é muito forte, ele chega a se contrair e um arrepio nos percorre a espinha - os mais antigos diziam que a morte teria passado por perto ou seria a alma de alguém? Alguém que se perdeu etereamente na nossa memória.

*Se você quiser, eu tenho uma receita de biscoito de polvilho.
Beijus,