domingo, fevereiro 27, 2011

Costiera Amalfitana - Costa Amalfitana

Em italiano existe uma expressão idiomática (um dito popular) que diz o seguinte: “tutto il mondo è paese!” Traduzindo, seria algo como “o mundo é feito de vilarejos”, que é utilizado quando se quer falar sobre a diversidade de costumes locais, onde quer que haja um italiano. Serve, também, para evidenciar uma característica de uma parte do mundo, numa tentativa de justificar um próprio hábito ou costume. Afinal, quem nunca se deparou com usos e costumes diferentes em uma cidade, bairro ou condomínio? Ou seja, toda comunidade tem suas próprias estranhezas.

Para entender e realmente integrar-se em um outro país é importante conhecer e reconhecer os hábitos do lugar. O problema é que na Itália cada cidade, vilarejo ou montanha é um país diferente. Viajando nessa península é imprescindível dar de ombros e se conformar dizendo “tutto il mondo è paese!”



Recentemente estive na Costa Amalfitana, Sul da Itália, e fiquei impressionado com a beleza do lugar. A UNESCO, também. Hospedado no Hotel Bacco, que também é um restaurante onde se come muito bem, apreciava o nascer do sol sobre o mar, oitocentos metros abaixo da minha janela. Claro que nunca mais voltarei em Furore, a cidadezinha onde se encontra o hotel e que tem dois slogans: “a cidade que não existe” e “a cidade pintada”. A cidade realmente não existe. É apenas um punhado de casas, igrejas, poucas lojas e a prefeitura, espalhadas e penduradas em um penhasco vertiginoso. E é esse o motivo que me impedirá de retornar. A estradinha sinuosamente sinuosa (captou?) tem muitas curvas de 180 graus sobre o nada, um vazio de 800 metros antes de atingir as rochas em baixo. Os estudantes que desciam de ônibus até Amalfi às sete da manhã estavam habituados ou sonâmbulos, diante da frieza do motorista que raspava a rocha de um lado e o murinho cheio de remendos, cruzes, flores e imagens de santos do outro lado. Eu me preocupava com a volta, numa premonição do retrovisor quebrado e de dois outros sustos durante o caminho de volta.



A cidade de Amalfi – uma verdadeira pérola – está, sim, nos planos de uma viagem mais longa. Felizmente ao nível do mar, a cidade é cheia de tradições, lendas, uma arquitetura tão interessante quanto antiga e uma gastronomia de fazer inveja. 



Como Furore era originariamente habitada por amalfitanos exilados, existe um certo bairrismo entre os dois lugares que não chega a comprometer a convivência. Furore depende de Amalfi para quase tudo e as duas cidades estão apenas a oito quilômetros de distância entre si. Mas os costumes são diferentes e não ouse chamar um furorense de amalfitano. Amalfi e Furore fazem parte da província de Salerno. Pouco acima de Furore existe uma outra cidade, Agerola, que pertence à província de Nápoles. E a coisa se complica: Agerola e Furore são separadas por apenas 3 quilômetros e muitos costumes são comuns, mas um salernitano não admite ser confundido com um napolitano e vice-versa.


Nem mesmo as simpáticas e (às vezes) elaboradas pinturas nos muros e casas de Furore servem para amenizar o ranço entre os vizinhos. Os agerolanos costumam dizer que as pinturas são para informar que se está “de passagem” por Furore, em direção a Agerola, pois em Furore é quase impossível estacionar. A estradinha, além de sinuosa, é estreita e as casas foram construídas em um período em que se subia e descia em lombo de burro. Bicicleta? Nem pensar! Quem iria pedalar até lá em cima? 



Apesar da insistência para que não nos aventurássemos, fomos experimentar a pizza na pizzaria La Selva, em Agerola, sob o protesto dos funcionários do hotel que nos advertiam sobre uma cozinha diferente. Demos de ombros e dissemos sorrindo: “tutto il mondo è paese!”

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quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Pronúncia Italiana - italiano on-line

O Marco é um italiano que mora no Brasil e tem uma escola de italiano on-line. Andei xeretando o site dele e descobri que o curso é muito interessante. Para dar uma pequena mostra do que ele ensina aos seus alunos, dê uma olhada nessa aula aqui. A pronúncia italiana por um italiano.

Nada ganho para fazer publicidade além da estima do amigo Marco. Acho que a dica pode ser útil para quem estuda ou quer estudar italiano e não tem encontrado tempo. Agora você pode estudar em casa, na hora que quiser. Acabaram-se as desculpas. O site do curso é este aqui.


Post scriptum: este blog não é contra a publicidade em blogs nem contra publieditoriais. Aliás, se você quiser fazer propaganda aqui no Carta da Itália para todos os meus cinco leitores e os incautos que o Google me manda, basta entrar em contato. Aceito pagamento em dinheiro, crostas de Parmigiano Reggiano, casa na praia, passagens aéreas e figurinhas do Flamengo.

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domingo, fevereiro 20, 2011

Crosta de Parmigiano Reggiano

Hábitos dependem da cultura. Ou seria a cultura que depende do hábito? Preferência é hábito de consumo, essa eu sei. Tinha um amigo mineiro que me disse: “uns gosta dos óio; ôtros, da remela.” A verdade é que eu não sei qual é a verdade, mas adoro uma crosta de Parmigiano Reggiano. E de Grana Padano. Hábito adquirido da cultura italiana. Viu? Falei que era da cultura!

Quando compro queijo para ralar observo bem a crosta: deve ser ligeiramente mais escura que o queijo e não muito espessa, o que significa que o queijo não é muito maturado. No caso do Parmigiano Reggiano a maturação se completa com 24 meses (apesar do Consórcio considerar o tempo mínimo de maturação de 12 meses), mas um queijo de 30 meses não será nunca desprezado. A crosta do Parmigiano Reggiano deve ter cinco milímetros. No Grana Padano o tempo se reduz: são 12 meses de maturação e desaconselho um queijo com mais de 26 meses. A crosta do Grana Padano varia de quatro a oito milímetros. Antes de jogar a crosta fora, me chame. E compre vinho italiano.

Por não ser tratada e sofrer com o manuseio, a crosta pode ser ingerida mas deve ser limpa antes. Use uma faca para raspar a parte externa da crosta assim que acabar de ralar o queijo, pois neste momento a crosta ainda preserva parte da gordura do queijo e é menos dura que quando seca. Coma a crosta acompanhada de um copo de vinho. De preferência escondido dos outros: crosta é sempre pouca. Caso deseje compartilhar, eis algumas sugestões:

- Use a crosta em pedaços na minestra. Não chega a desmanchar e fica bem macia.

- Rale e use para temperar sopas, risotos e molhos para a macarronada de domingo. Sim, na Itália se usa queijo ralado no molho de tomate. Não sempre, mas é comum.

- Rale e espalhe bem em uma frigideira anti-aderente, formando um círculo. Leve a frigideira ao fogo e deixe o queijo começar a derreter e dourar. Retire com cuidado com uma espátula e coloque sobre uma tigelinha (uma xícara sem asa) com a boca da tigela para baixo, fazendo com que o queijo ainda mole forme uma cestinha. Deixe esfriar um pouco e retire com cuidado a tigela. Use a cestinha como prato para o risoto ou uma massa de dimensões pequenas. A operação será um desastre na primeira vez. Só a prática leva à perfeição. Pode-se misturar ao queijo ralado um pouco de farinha de milho, salsinha, pimenta do reino ou os ingredientes da sua imaginação, antes de levar ao fogo.

Tudo muito gostoso, cheio de hábitos culturais (não resisti) e aproveitando de forma criativa um subproduto, mas ainda prefiro crosta e vinho. A crosta é sempre pouca

Visite o site do Consorcio Parmigiano Reggiano - o rei dos queijos - e aproveite para emocionar-se com este vídeo. Visite também o site do Consorcio Grana Padano.

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sábado, fevereiro 19, 2011

A convulsão no mundo árabe

A situação política nos países árabes tem me preocupado. Tanto pelas pessoas conhecidas que moram nos países envolvidos como pelo futuro incerto. O risco do poder cair nas mãos de algum grupo fanático só será evitado se a as pessoas continuarem atentas. E quando escrevo "fanático" não faço distinção entre quem usa a religião como instrumento de manobra ou a democracia como argumento para apropriar-se do controle. O povo árabe tem sua própria cultura. Rica e diferente da cultura ocidental, mas não inferior. Sei que é uma afirmação que exprime um lugar comum, mas não tenho uma frase de efeito para cada situação.

Por outro lado, há quem encontre sempre um modo de rir da situação. Ontem, sexta-feira, estava tomando café em um bar de Cremona, a cidade de Stradivarius, ouvindo a conversa de dois idosos. Eles se lamentavam do desembarque de milhares de clandestinos em Lampedusa, que virou uma imensa procissão depois da queda de Ben Ali, o ex-presidente da Tunísia. Um deles disse que sentia inveja de toda aquela mobilização para derrubar ditadores e que seria útil aos italianos absorver e utilizar o exemplo. O outro retrucou que com o povo italiano não daria certo e o primeiro respondeu:

Então é melhor deixar os clandestinos entrar. Quando tiver muito árabe aqui, quem sabe eles conseguem fazer cair o governo?

E o outro concluiu:

Hum... Sei não. Eles podem se contaminar com o nosso hábito de se acomodar. Minha última esperança é o calendário Maia.

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domingo, fevereiro 13, 2011

Seu Zé

Seria fácil escrever sobre minha mãe ou meus irmãos, gosto deles desde pequeno. Resolvi, então, escrever sobre as pessoas de quem gostamos como se as conhecêssemos desde pequenos, que é um sentimento que ainda não encontrei por aqui. Cláudio, Edi, Márcia, Vítor e outras pessoas especiais conheci ainda muito jovem. O Wallace, Cássio e o Aldo com a Virgínia foram de uma fase intermediária. Eloah, Flávia, Márcio, Valéria com o Roberto, Júlio, David e as turmas do Embu, de Assis, de Ilhabela e do Rio fizeram parte de um período muito divertido. Super Zé, Cátia, Duda, Diney e a “patrulha do acarajé” são o time baiano. O Flávio, o Angelo, o Maurice e a Lucia com o André foram as últimas aquisições. Todos participam das minhas conversas imaginárias, viajam no banco do carona pelas estradas italianas e se entopem de vinho e macarrão comigo, mesmo estando tão longe, com exceção do Flávio, do Angelo e do Maurice. Teria muito para contar sobre cada um deles, inclusive sobre a lista não nominada. Mas escolhi falar sobre o Seu Zé.

Seu Zé é um pescador diferente, do tipo que não conta lorota. Mesmo que passe horas no Paranapanema – ‘Panema, para os íntimos – e leve para casa só uns barbadinhos. Alguém deve ter ensinado a ele que o exemplo através da ação convence mais que palavras: age sempre com um sorriso seguro e em silêncio, mesmo quando é só par tomar cerveja. Cerveja com mortadela ou churrasco. Um amigo chama sanduíche de mortadela (com aquele pão amanhecido e elástico) de “estalazói” e Seu Zé sorri. O peixe é pequeno demais, ele devolve para o rio e sorri. A netinha (que cresceu pra xuxu) chora pela cadeira quebrada, Seu Zé a conserta e sorri. Lembra dos tempos de vendedor e sorri. Vem pescar na Itália uma fieira de trutas e sorri. Um sorriso sincero e calmo, sem escândalo.

Lembro de uma vez que um cliente da oficina de torno do Seu Zé pediu-lhe que desenvolvesse um equipamento para semear cenoura. Explicou que exigências deveriam ser obedecidas para o plantio, o espaçamento, o tamanho das sementes, a profundidade e outras indicações. Seu Zé anotou tudo, prometeu o serviço para sexta-feira e largou o bloco sobre a escrivaninha por dois dias. Tinha muito trabalho esperando e clientes impacientes naquela época de plantio. Na manhã de quinta-feira releu as indicações e foi comprar o material. À noite a encomenda estava pronta e, na sexta, um cliente maravilhado levava para a fazenda a mais nova engenhoca inventada por Seu Zé. O Professor Pardal jamais patenteou uma invenção, mas resolveu um monte de pequenos e grandes problemas. Desnecessário dizer que os tornos do Seu Zé tinham diversos motores e utilidades que ele mesmo inventou e construiu.

Mas não é uma pessoa excêntrica ou bizarra. É um homem simples do interior, muito, mas muito inteligente, com um tipo de raciocínio capaz de entender uma matemática que a mim parece grego; a capacidade de visualizar a solução como um objeto pronto; uma gentileza e respeito por qualquer forma de vida, mesmo os bêbados chatos; o conhecimento dos próprios limites e uma enorme disposição para superá-los; o brilho nos olhos cada vez que se sente desafiado pela palavra “impossível”; o hábito de se concentrar profundamente. No trabalho, nos momentos de lazer (que espero sejam maiores depois que se aposentou), no relacionamento com as pessoas ou no cuidado com a temperatura da cerveja no copo: “…melhor tomar antes que esquente.” E sorri.

Dona Inês chegou em casa contrariada e contou que o rapaz do armarinho tinha sido descortês. Pouco antes do meio-dia ele saiu para comprar um material que precisava. À noite descobrimos que o rapaz nunca mais seria descortês, com a aprovação dos outros funcionários do armarinho e o rosto esbofeteado. Silêncio, decisão e segurança. A vendedora do Mercado Modelo, em Salvador, o abordou falando em francês. Seu Zé, olhos azuis, cabelos louros grisalhos e ar hollywoodiano sorri. Seu Zé é uma das pessoas mais especiais que conheci, o sogro que virou amigo. E companheiro de pescaria com cerveja no ‘Panema. Cerveja e “estalazói”, que peixe que é bom, nada!

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Trilha sonora italiana - Lucio Battisti



Lucio Battisti revolucionou a música italiana. Compôs para diversos artistas e cantou com muita interpretação para compensar a sua voz pouco sonora. É reverenciado como um dos grandes da canção italiana. A música abaixo, 29 Settembre, tornou-se famosa com a banda Equipe 84, mas encontrei esta versão defendida pelo próprio autor. Lucio Battisti vendeu mais de 25 milhões de discos. Faleceu em 1998, aos 55 anos.




domingo, fevereiro 06, 2011

Papinhas no Mundo - Itália





A querida amiga Mônica que comanda, com a amiga Patrícia, o delicioso blog Comer para Crescer me intimou para escrever sobre as papinhas na Itália. Sim, o Comer para Crescer é escrito por duas mães atenciosas e profissionais competentes, sempre muito bem informadas. E que decidiram dividir com outras mães (e pais) as informações recolhidas. Está escrito no alto do blog: “Temos a missão de xeretar muito sobre alimentação infantil, comentar pesquisas, entrevistar especialistas, além de testar novos produtos e pôr os livros de alimentação à prova com a ajuda de nossos filhos. Também vamos divulgar receitas para todas as idades e tirar dúvidas. Mónica Brandão e Patrícia Cerqueira “

Conversei com algumas mães italianas e com um pediatra, pois as minhas meninas comeram papinha brasileira e já chegaram aqui onívoras. O resultado está aqui. Divirtam-se!
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