A Itália vista por um brasileiro. As diferenças culturais, descobertas e sabores, com uma pitada de bom humor (às vezes).
Tuesday, April 20, 2010
Made in Italy
Nem só de política e terremotos vive a Itália. Procurando bem, até é possível encontrar notícias boas que a grande mídia ignora. Há que se ter cautela e não se deixar empolgar à primeira impressão, pois pouca coisa é pior que a desilusão de um ideal.
Na esteira do movimento Slow Food nasceram outras iniciativas. Algumas frutificam enquanto outras morrem. Outras, nem chegam a ser sérias e escondem obscuros fins sob peles de cordeiros. Há que se ter cautela, insisto. Uma das iniciativas que frutificam é a associação La Compagnia Dei Sapori que promove o evento itinerante “Paesi e Sapori” (vilarejos e sabores) por todo o território italiano. A associação busca resgatar e preservar tradições enogastronômicas cujas existências correm risco de extinção. Os associados são produtores com forte ligação com o território e com os métodos de produção tradicionais. Os produtos, é claro, são da melhor qualidade. Mas não é somente produto que a associação fornece durante os eventos, ao contrário, os produtos são apresentados como resultado de uma filosofia resgatada, em que o tempo e os métodos de produção estão em harmonia com as estações e a vida pacata dos vilarejos, promovendo o bem-estar de seres humanos e da natureza.
São pessoas comprometidas com esse tipo de associação que pressionam a administração pública local de cada cidade ou vilarejo, impedindo que grandes supermercados abram as portas em bairros onde o pequeno comércio resiste, ajudando a preservar quitandas, açougues, padarias e pequenos comerciantes, numa corrente que preserva produtores locais, tradições e a própria cultura. A globalização foi incorporada com sistemas de informações, previsões meteorológicas mais eficientes, agilização da burocracia, veículos menos poluentes e mais econômicos e a possibilidade de explorar novos mercados. As únicas coisas das quais não abrem mão são os métodos de produção tradicionais. Só para dar um exemplo, o Sr. Biraghi, um dos fundadores do consórcio Grana Padano (sim, Grana Padano e Parmigiano Reggiano são consórcios de produtores e marcas registradas. Ambos os queijos são do tipo “grana”) foi excluído do consórcio que ajudou a fundar – décadas atrás – no momento em que substituiu os velhos tachos de cobre por modernos tachos de aço inox.
Esse tipo de feira começa a fazer sucesso aqui na Itália justamente como sinal de preferência por um estilo de vida mais equilibrado, onde o consumo se concentra nos produtos básicos cultivados localmente e no supérfluo de qualidade. E quem pode dizer que um bom salame, um pedaço de queijo e uma garrafa de vinho biológico sejam supérfluos? Domingo 18 de abril, aconteceu a edição piacentina do evento e foi muito concorrida, apesar do dia nublado. Embriagado pelo vinho biológico, posso até sonhar, utopicamente, com o fim dos supermercados e o resgate da simpatia dos quitandeiros que vendem produtos locais. Mas há que se ter cautela.
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13 comments:
Allan, que coincidência, ontem mesmo assisti pela TV5, canal frances, um filme sobre esse tema, pena que quando peguei já tinha começado e não sei o nome, gostei do filme.
um casl de parisienses decide comprar uma pousada na Provence para a esposa deixar a vida estressante da cidade grande, lá no vilarejo ela se encolve com a organização da revitalização de uma festa desse tipo, a dificuldade era fazer com que as pessoas usassem o modo tradicional de preparar os alimentos sem os equipamentos atuais, e não conseguiam, o padeiro precisava da máquina para bater a massa, o microondas virou necessidade, e a parisiense acabou por se estressar mais ainda, e por aí vai a história muito boa, que conclui com a mulher voltando para Paris e o marido ficando na região produzindo azeite, ela monta uma lojinha em Paris "Ma Provence" e ele é o fornecedor. Engraçado e mostra o que deve ser a realidade desses lugares enfrentando a modernidade.
eu queria descobrir o nome do filme, quem sabe alguém conheça.
imagino como deve ser bom ir à essas festas para comer coisas maravilhosas!
pra variar, adorei o post!
beijo
Ju
oi, bom dia, primeiro obrigada pleo teu comentario , e depois, adorei teu teu texto explicativo, sim, aqui nao é somente polica "ruim", o pais é lindo, as pessoas formidaveis,a lingia italina maravilhosa, e as ferias nas cidadezinhas sao esplendidas!!!
beijos
Quando posso aproveito estas ocasioes.... gosto muito de visitar as pequenas cidades e comprar as coisas produzidas por la... isso quando incontro...rsss
Tanti saluti!
Gi!
Allan, temos aqui pertinho de casa plantacao de morango. Eles fazem muitas coisas, além das tortas, marmeladas e nos finais de semana qdo chega a primavera eles promeovem festas. È a festa do morango. Já os espsnhóis que temos na cidade vendem os deliciosos chouricos e presuntos defumados. No sul da Alemanha esse tipo de mercado é bem maior e eu gosto demais de visitar esses cantinhos com esses sabores especiais.
Abracos
Oi, Allan! Mais um post maravilhoso! Eu adoraria visitar essas feiras, pois admiro esse tipo de trabalho, onde a produção tem tradição familiar e é toda artesanal! As fotos me deixaram com água na boca, pois já há alguns meses, venho sentindo muitas saudades da Itália e de sua cultura... Obrigada, por seus comentários no meu blog! Abraço!
oi Allan. Que vontade de estar aí e também desfrutar desse evento. Elogiar seus posts já está virando lugar comum. Parabéns. São sempre ótimos. Abraços.
Que saudade que deu agora, rs
Enfim, preciso urgentemente voltar pra casa, viu? Isso deve existir aqui em São Paulo também, mas não é a mesma coisa.
Tem um pracinha em Gênova (perto de casa) onde eu compro aquelas verduras fresquinhas, deliciosas e com cheirinho de campo. O Antonio Maria sempre está por lá com suas histórias e ensinando como preparar (faz isso sempre, não interessa qtas vezes vc vai até lá).
Ai ai ai
Bacio
Que maravilha! Tenho feito modificações na minha vida para resgatar os momentos importantes como refeição, ler um livro, parar um pouco com o trabalho de obrigação (limpar a casa, por exemplo) e fazer o que realmente eu gosto (como mexer nas plantas do quintal, cuidar do pé de maracujá...rs).Como na poesia de Mario Quintana:
'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.'
Então prá que tanta tecnologia, tanta pressa, comer sem sentir sabor? Tomara que essa iniciativa de resgate que também é cultural progrida.
abraço
um bom fim de semana para voce, meu amigo,
Eu gosto de sonhar, mas o a praticidade de supermercados é inegável.
Pragmáticos, os donos das grandes corporações começam a criar ambientes aconchegantes no meio dos imensos espaços comerciais, nos quais vendem os produtos "alternativos".
Creio que o atual modelo é insustentável, o caminho é a economia sustentável, com soluções locais... mesmo sem vinho acho que estou sonhando.
Manoel Carlos
Eu gosto de sonhar, mas o a praticidade de supermercados é inegável.
Pragmáticos, os donos das grandes corporações começam a criar ambientes aconchegantes no meio dos imensos espaços comerciais, nos quais vendem os produtos "alternativos".
Creio que o atual modelo é insustentável, o caminho é a economia sustentável, com soluções locais... mesmo sem vinho acho que estou sonhando.
Manoel Carlos
Afe! Morri, Allan. Q vontade de participar de um evento assim na Itália, com todos os queijos, vinhos e defumados q a Itália sabe produzir como ninguém. :)
oi!
estamos programando nossa viagem à itália para abril, e estou lendo muitas dicas ótimas no seu blog
o que não achei ainda foi o artesanato
aquilo que as imigrantes européias faziam quando chegaram ao brasil, trico, croche, bordado
as feiras de rua vendem estes produtos, como vemos no brasil?
obrigado
Adriana
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