Caros e Caras,
Paz e saúde!
Uma propaganda americana da Pepsi dos anos noventa mostrava um rapaz pedindo uma Coca-cola em um bar. O balconista lhe pergunta que Coca ele prefere e desfia todos as opções, sem esquecer das versões diet e light. No meio do monótono monólogo do balconista, o sujeito o interrompe e diz: “Me dá uma Pepsi.”
Piacenza fica a 70 quilômetros de Milão, mas prefiro pegar o trem. Evito o caos que é estacionar, o tempo perdido no tráfego e, de quebra, ganho duas horas (ida e volta) para ler ou simplesmente observar a paisagem. Mas creio que o verdadeiro motivo para escolher ir de trem é o café. Descendo na Central, à esquerda, antes de sair da estação, há um bar que serve todos os cafés do mundo quando chega um novo trem. E eles conseguem servir sempre o mesmo cremoso e delicioso café. Quando tiver a oportunidade, experimente.
Com exceção de lugares onde a agitação do dia a dia comanda – como numa estação ferroviária, por exemplo – entrar em um bar e pedir um café pode não ser tarefa fácil por aqui. O café pode ser normal, curto, longo, com leite (capuccino), descafeinado, café de cevada (d’orzo), correto (com bebida alcoólica) e mais de uma centena de outros tipos. Mas em um bar ou restaurante, será sempre expresso. Como era feito antes da máquina de café expresso eu não sei: cheguei aqui depois. Mas não se preocupe: se você entrar em um café italiano e pedir simplesmente “um café”, receberá uma pequena xícara do melhor café brasileiro, preparado pelo modo italiano. O melhor.
Já em casa, a grande maioria dos italianos usa a moka. E aí precisa saber fazê-lo, ou risca-se de desperdiçar tempo e paciência em tentativas vãs. Prometo um breve curso em outra carta, mas posso adiantar que todos os produtores de cafeteira e de café recomendam, enfaticamente, usar apenas água na limpeza da moka. Detergente ou sabão, de jeito nenhum. Na maioria das empresas, as máquinas de café tem lugar de destaque e devem oferecer, pelo menos, quatro tipos diversos de café. Tanto que a situação acabou virando um programa humorístico, onde a vida dos funcionários de um escritório acontece diante da máquina de café.
Um amigo insistia em esclarecer que a moka produz um café com menos cafeína. Eu continuo achando que não é o método, mas a quantidade de café ingerida: menos café é igual a menos cafeína. Italianos e fluminenses devem ser os menores consumidores de cafeína do mundo. O primeiros, pela dose curtíssima de café que ingerem. O café curto é pouco mais que uma sujeira no fundo da xícara; os segundos, pela exígua quantidade de pó utilizada. Com o perdão dos parentes, o café que se bebe na região de Macaé é, na realidade, chafé.
Contudo, o cuidado italiano com o consumo de café é admirável. Conheço diversos notívagos que só bebem café até às quatro, cinco da tarde. Depois disso, só vinho ou outra bebida, para não perder o sono.
Até os trinta eu não bebia café. Ou o fazia raramente. Tomava chá ou sucos, sempre sem açucar. Para me enturmar mais rapidamente em um novo ambiente de trabalho, passei a tomar o cafezinho com os colegas, participando das conversas e desarmando os prevenidos. Acabei tomando gosto. Cheguei a tomar muitos cafezinhos por dia, já longe daquela empresa. Só há um ano resolvi reduzir para dois cafés por dia. Descobri que a insônia cultivada por longos anos, que existia antes mesmo de aprender a tomar café, diminuiu. Hoje chego a dormir até seis horas por noite e, em algumas, até oito horas, contra uma média histórica de quatro horas e meia. Repito: a insônia existia antes do café. Deve ter sido um tratamento involuntário de saturação.
Mas não abro mão de um café quando saímos para jantar fora.
Oferecer um café é uma demonstração de amabilidade. Não precisa ser íntimo para aceitar um cafezinho feito na hora: pode ser o encanador, um vizinho, ou a professora da filha que veio para uma conversa reservada. Nem tampouco convida à intimidade. Oferecer um café é mais que um bom dia no elevador mas é menos que uma cerveja dividida. Desculpem o trocadilho, mas um café quentinho é um bom quebra-gelo.
A propaganda italiana não há dúvidas: quando querem atestar a qualidade de uma marca de café, associam-na ao Brasil. A Segafredo até faz questão de mostrar a fazenda de café que possui em Minas Gerais. Impossível não comparar a propaganda da Pepsi com o hábito do café italiano. Após o almoço, paro no bar para um café e observo: os clientes pedem todos os tipos de café que a pobre balconista sabe preparar, mas é impossível não confundir-se em meio a tantos clientes ao mesmo tempo, cada um pedindo um café diferente. Não raro, o cliente que pediu um capuccino acaba bebendo um café correto com grappa. Noto o sorriso aliviado quando lhe peço “un caffé”.
E você, aceita um cafezinho?
Ciao.
10 comments:
Aaaiii.. que saudades da Itália!!! Um dia vou sim, tomar um cafezinho com vocês.
Beijão
Allan, o comercial é dos anos 80, da época em que a Coca lançou aquela New Coke e o mundo veio abaixo. Não tenho certeza, mas acho que o episódio foi contado no livro do então presidente da Pepsi, Roger Enrico, "The Other Guy Blinked: How Pepsi Won The Cola Wars", provavelmente um dos melhores livros sobre marketing que eu já li e certamente o melhor sobre a área de alimentos, etc. E assim como a Sandra, um dia eu cobro esse cafezinho. Mas sem essa frescura italiana, que eu odeio capuccino e adoro cafeína: o meu pode ser simples e forte. :)
Allan ,
Por favor ,rápido , um "cursinho" de como bem usar a moka ! tenho duas ...
Quanto à cafeína , para quem se preocupa , li recentemente que o spresso tem menos cafeína que o de coador , porque quando bem feito , com a máquina regulada , a água não está fervendo ( 90º ) e passa muito mais rápido pelo pó , extraindo menos cafeína .
Macaé: também tenho parentes por lá , cansamos de lavar pó de café de São Paulo , colocar muito pó no coador , e não tinha jeito : ficava ruim . Acho que tem também a ver com a água .
Cero che voglio! Grazie! Aqui em casa eu faço so' com a moka mas em Torino eu faço à moda brasileira porque sinto muita falta daquele cafezinho coado! Vai entender...Un saluto. Raquel
(em off: o Rafa Galvão realmente entende de nostalgia!)
Nunca entendi muito bem por que as pessoas se viciam em café... Eu acho horrível, fedorento. Mas enfim, algo de bom deve ter, só que ainda não descobri o que.
Eu so comecei a tomar cafe depois que vim morar aqui. Ed tb soh tomo até as 16, senao nao durmo mesmo.
Hmmmm, deu vontade de tomar um cafezinho...Allan, você combinou o tema com o Tiagón? rsss.
Eu adoro café. E não é por me fazer acordar, é pelo sabor. Para acordar eu gosto de escutar música, quando estudo e estou sonolento, tomo guaraná. Esse sim dá pique!
Adorei seu comentário lá no Palavreando!
Allan, nao sei se voce sabe, mas as fabricantes de Moka falam para limpa-la so' com bicarbonato de sodio. Limpa bem e nao altera o sabor do cafe. Valeu. Raquel
Allan,
um cafezinho eu aceito sempre sempre.
Beijos
Leila
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