Caros e Caras,
Paz e saúde!
Minhas filhas aprenderam a comer frutas, verduras e legumes, mas, no final das contas, sempre têm sempre as preferências delas. Uma gosta de cenoura crua e ervilhas, mas detesta cebola. As duas são loucas por pepino. As verduras amargas, ainda que ligeiramente amargas, não agradam nenhuma das duas. Outra coisa: fruta é fruta, sobremesa é outra história. Portanto, fruta nas refeições, só sob coação ou ameaça.
O preconceito é isso: você pode misturar tudo, mas as pessoas irão comer as ervilhas e deixar a cebola no canto do prato.
Durante séculos a Europa enxergou as culturas americanas e africanas como inferiores às suas. Não, não foi Silvio Berlusconi, o chefe de governo italiano, quem primeiro pensou assim, quando da sua afirmação no início da guerra no Afeganistão.
Os europeus saquearam, na Africa e na América, todos os tesouros arqueológicos que puderam. Roubaram riquezas, estupraram mulheres e chacinaram homens, velhos e crianças. Aos sobreviventes impuseram sua cultura e religião.
Existe hoje um grande temor nos países europeus quanto ao perigo de uma guerra química terrorista, mas a Espanha já se utilizava de negros escravos, infectados com varíola, para dizimar povos da América do Sul.
Não defendo o revanchismo de imigrantes africanos e americanos como troco por anos de atrocidades impostas pelos europeus. O que não tolero é a arrogância nas declarações hipócritas de políticos como o austríaco Jorg Haider: “O que vem fazer na Europa uma pessoa que nasceu no Burundi? Que fique por lá!!!”
É enorme a diferença social que separa as diversas etnias que coabitam o velho continente. Os cansativos ventos xenófobos de estrema direita, só contribuem para mostrar as diferenças, onde os atuais culpados são os muçulmanos. Lembrar das crianças católicas apedrejadas por protestantes no caminho à escola, nesses tempos, é considerado de extremo mau gosto.
Contudo, a história da Itália é repleta de diferentes povos que passaram e deixaram suas marcas. Com uma área pouco maior que a metade do Estado da Bahia, a Itália tem uma diversidade cultural que presumo inigualável. Algumas características fazem parte da formação basilar da unidade do povo italiano.
Uma das características mais marcantes é o provincianismo, que prometo – ameaço – tratar numa próxima oportunidade. Outra característica é o desprezo por tudo o que não é italiano ou americano (norte-americano, bem entendido).
Assim como a Coca-cola, o racismo faz parte do cotidiano italiano (longe da convivência mais tolerante da França, por exemplo). Há quem gosta; quem se habitua; quem entende; quem não gosta; quem finge não gostar e até a versão light.
Como o objetivo destas cartas é a comparação entre a realidade brasileira e a que eu vivo hoje, cito uma matéria da Veja do ano passado, que mostrava o resultado de uma pesquisa sobre os negros no Brasil. Na reportagem falava-se de distância racial, como se o fato de evitar o termo “racismo” fizesse com que o problema não existisse entre nós. Falar de racismo no Brasil, em qualquer tempo, sempre foi considerado de extremo mau gosto. A realidade é que a maioria prefere amenizar o problema e buscar outros termos, menos ofensivos.
Nem os negros, nem os nordestinos, nem católicos e protestantes e nem os muçulmanos são uma cultura ou raça inferior. Assim como os paulistas não são inferiores aos cariocas – me garantiu um amigo, mas ele é paulista e eu (como bom carioca) acho que assim não vale.
A provocação está lançada! Cabe a quem gosta de Coca-cola servir-se. Mas não contem comigo: eu sou daqueles que adoram ervilhas, mas não deixo sobras no prato. Nem mesmo a cebola.
Ciao.
5 comments:
Então tá!
As vezes tuas crônicas me dão sono. Tipo Reader's Digest. Prefiro quando você acorda com dor de estômago e tenta escrever no velho estilo soft (suggar). Sua raiva briga com a vontade de dominar seus instintos e você se esforça mais. Não que todo mundo deve ser contestador, mas você não tem o cinismo suficiente para crônicas leves e elas acabam ficando melosas. Vomite. Também poderia sugerir algumas modificações, mas você deve aprender sozinho. Isso desenvolve o estilo. Quanto aos erros de gramática, eles não chegam a comprometer.
Taí!
Abraços,
Diogo - diogom@hotmail.com
Quando o sujeito lê um texto em busca dos erros de português, alguma coisa tá errada. Os erros podem aparecer aos nossos olhos, não devem ser procurados, a não ser que o sujeito seja revisor. Se for teu amigo, é bom um banho de hervas.
Quando discuto a questão de dominação de povos sempre procuro ser realista. É natural do ser humano dominar outros povos, e impor seus valores. Então não adianta espernear contra o domínio norte-americano, ele é apenas o dominador da hora. O problema é quando o dominador não percebe que se tornou cosmopolita, e pensa que está mandando da aldeia. É o que acontece com os arrogantes, sentem-se dominadores, mas não cresceram intelectualmente para perceberem a importância de outras culturas. E nem percebem que seu domínio não é por nenhuma qualidade intrínseca, mas por questões circunstancias históricas. Quanto aos italianos, descendentes dos turcos, paciência, cada um é pequeno como quer. Abraço.
Naldinho www.mblog.com/singrando
PS:o comentário anterior também é meu.
Oi Allan! Tão interessante quanto ler suas observações é dar risada de alguns comentários... :-P Talvez seja coisa do berço, mas sempre valorizei as pessoas de forma a nunca pensar que alguém é melhor ou pior. Enfim, viva a diversidade e o respeito!
Abraços!
Marmota
Allan,
Pois e', eu tambem sou feliz sem coca cola e como cebola sem nenhum problema.
Estou aqui relendo os posts antigos....Muito interessantes. Parabens.
Abracos
Leila Silva (Cadernos da Belgica)
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