Caros e Caras,
Paz e saúde!
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Tem sandálias Havaianas,
Que vendem pra xuxu!
A impressão que se tem por aqui é que o verão começou há dois anos e ainda não terminou. Carros conversíveis misturam-se às bermudas coloridas que passeiam pelas ruas sob um sol de até trinta e cinco graus. Bicicletas, bandanas e óculos escuros. Os italianos inventaram o verão. Para aproximar um pouco mais os sonhos tropicais do cotidiano, as ruas e lojas foram invadidas por roupas verde-amarelas com as escritas Brasil, Brazil e Brasile. Uma ou outra Jamaica, mas de forma muito tímida. As sandálias Havaianas, que já tinham feito grande sucesso no verão passado, voltaram de forma avassaladora. Pecado que em uma das lojas da cidade, onde é possível encontrá-las pela ninharia de vinte e cinco euros, colocaram uma pequena placa junto às sandálias: “As cores da Califórnia”.
Não deixa de ser intrigante como um povo que faz questão de preservar as próprias tradições de forma tão ostensiva, se deixe seduzir tão facilmente pelos ideais ou qualidades de um país mais distante. Por outro lado, a rivalidade entre vizinhos é sempre maior. Assim como em São Paulo ou no Rio podemos encontrar um certo preconceito velado pelos nordestinos e, em contrapartida, os nordestinos se mostrem desconfiados em relação a paulistas e cariocas que vão morar no Nordeste, também na Europa iremos descobrir antigas rivalidades entre nações, regiões, cidades e vilarejos. Somos absolutamente semelhantes nas pequenas idiossincrasias.
Porém, quando chega o verão (e ninguém se recorda das baixas temperaturas que enfrentávamos no início de maio) acreditar que o Brasil é logo ali ou que basta vestir uma camiseta com as palavras mágicas para transportar o paralelo quarenta e cinco ao trópico do sul, ao menos faz com que a neve do inverno passado derreta do telhado da memória.
O sonho torna-se transgressivo quando se tem consciência de que a imagem que sempre vendemos do nosso país é o Carnaval do Rio, com mulatas seminuas rebolando sobre qualquer câmera que as focalize. E eu disse sobre. Somos o país do sexo fácil e barato. Somos o país dos cheiradores de cola, onde tudo custa um e noventa e nove. O chato é que estamos habituados a oferecer como desculpa a idéia de que não existe pecado do lado debaixo do Equador. Não fôssemos uma república de bananas e esses caras iam ver só…
Uma teoria ufanista me sugere que a adoção das cores da nossa bandeira sirva, também, para substituir falta provocada pelo êxodo dos jogadores brasileiros, de volta ao Brasil para as merecidas férias de verão. A julgar pelos resultados pífios da Seleção Italiana no atual Campeonato Europeu, acredito que eles pagariam muito para ter alguns dos nossos no time deles. Mesmo recebendo salários estratosféricos, ou talvez por isso mesmo, os jogadores italianos estão mais preocupados com o atual compra-vende do mercado europeu de futebol, que com a criação de um espírito de grupo que os permita um mínimo de coesão necessário a quem espera obter bons resultados. É cada um por si. A humildade dos gregos (aqueles que, humildemente, deram um cavalo à Tróia) pegou todos de surpresa e os classificou, desbancando Espanha e Rússia.
Verão, futebol e mulatas. Ora, se não estamos no Brasil onde estamos? Falta só o churrasco no fim-de-semana e a cerveja gelada. Sim, porque a música brasileira há tempos faz sucesso por aqui. Desde Águas de Março (ou, talvez, antes disso). E é justamente no verão que chegam as novidades musicais, nem sempre de qualidade. Quanto a cerveja eles têm muito que aprender, pois continuam tomando Corona com limão ou misturam cerveja pesada com churrasco. Aos adeptos da carne, sugiro recusar-se a participar do churrasco alheio. A menos que, como eu, tomem posse da churrasqueira e não permitam que se coloque sálvia, um fio de azeite ou alecrim sobre a carne. Uma boa picanha argentina custa muito mais caro aqui, e o gosto do alecrim a torna intragável.
Mesmo não abrindo mão do vinho ou de um prato de massa antes da carne, os amigos italianos começam a compreender a essência do verão brasileiro e vão, aos poucos, vencendo as resistências contra as culturas diversas que os circundam. Como a migração tornou-se um advento impossível de conter, o melhor é aproveitar para experimentar coisas novas. Assim como aconteceu com o tomate americano e as laranjas orientais, que hoje se tornaram símbolos da boa mesa italiana, quem sabe se no futuro o churrasco não será, também ele, parte da culinária italiana?
Com a chegada do verão italiano, onde cada um tem direito a quinze dias de férias, veremos um desfile de roupas coloridas, sandálias Havaianas e carros conversíveis. A televisão se ocupará quase exclusivamente das fofocas e festas dos famosos, ajudando a prolongar o sonho do verão a quem volta das férias. O futebol fará uma pausa até agosto e os calendários de modelos nuas invadirão as bancas de jornais (pois é! Neste período!). E nós, sádicos, iremos nos divertir vendo a italianada misturar vinho com cerveja e se empanturrar de macarrão, com tanta carne no fogo.
Ciao.
3 comments:
Nao eh so na Italia que os brsileiros estao fazendo sucesso. Na Inglaterra, na Alemanha e em toda a Europa o Brasil e a bola da vez. Poderiamos aproveitar para capitalizar todo esse otimismo com relaçao ao nosso pais para convencer nossos irmaos que ainda moram la.
Luis Becker
Nao eh so na Italia que os brsileiros estao fazendo sucesso. Na Inglaterra, na Alemanha e em toda a Europa o Brasil e a bola da vez. Poderiamos aproveitar para capitalizar todo esse otimismo com relaçao ao nosso pais para convencer nossos irmaos que ainda moram la.
Luis Becker
Allan,
Suas observações demonstram uma percepção sutil das relações entre diferentes culturas. Parabéns e continue proporcionando aos seus leitores esses pequenos prazeres que servem para melhorar o humor, um tanto azedo nesses tempos.
Abraços,
Stephen Kanitz
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