Trem
que parte, trem que chega. Gente que vai e vem, que volta e que não volta. As pessoas,
os trens, sempre em movimento. A estação, não. A estação permanece ali, sempre
imóvel. Abriga viajantes, indica caminhos e destinos. A estação não atrasa
nunca, ao contrário de trem e gente.
A
estação de Central Bolonha é sempre frenética, Bolonha é cidade grande. Foi em
1859 que os bolonheses passaram a contar com a possibilidade de visitar Piacenza,
incialmente, e o resto da Itália, depois. Aliás, na época eram necessárias seis
horas para percorrer os 147 quilômetros da linha de ferro entre as duas cidades.
Quantos gatos pingados teriam comprado o bilhete naquela época? Hoje são mais
de cinquenta e oito milhões de viajantes por ano que entram e saem de lá. E a
estação, que acabou sendo engolido pela cidade que cresceu em torno dela, abandonou a periferia para ser inserida no que se tornou o centro
da cidade.
Ampliações
e reformas adequaram a estação às diversas novas realidades. Duas foram as mais
importantes: a reconstrução pós-guerra e aquela que se seguiu depois do
atentado do dia 2 de agosto de 1980. Uma mala explodiu na sala de espera da
segunda classe, provocando 85 vítimas fatais e mais de 200 feridos. Um grupo de
pessoas que aguardava o ônibus do lado de fora, próximo aos táxis, foi
levada pela condução que chegou pontual, pouco depois da tragédia. O ônibus 37 acabou
transformando-se num imenso carro fúnebre e tornou-se um dos
símbolos do ataque. O outro, mais famoso, é o relógio, que marca a hora exata
da explosão: 10:25h.
Apesar
das condenações, anos mais tarde, ninguém assumiu ou confessou qualquer
participação no atentado. Os mais jovens, pouco ou nada sabem. Os mais velhos,
preferem esquecer. Só não conseguem porque o relógio está lá. Só não conseguem
porque a memória resiste.
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