Wednesday, November 20, 2013

A invasão chinesa



▬ Bom dia, Lugi.

▬ Oi, Allan. E aí, como vão as coisas?

▬ Em movimento, como sempre. “O mundo gira e A Lusitana roda”.

▬ ...Hein?

▬ ...Ahn, nada. Era uma propaganda brasileira. E o trabalho, como vai?

▬ Cada vez menos, Allan. Cada vez menos. Não sei aonde vamos parar...

▬ Vamos continuar sempre aqui, Luigi. Resistindo, reinventando e lutando, que um dia essa crise passa. Bola pra frente que atrás vem gente!

▬ Outra propaganda brasileira? Venha, venha. Deixa eu te mostrar o serviço que o cliente deixou aqui. Vê se você consegue fazer uma das suas mágicas.

▬ Tem nada de mágica, não. É só trabalhar com atenção que o resultado aparece.

▬ É nada, Allan, já não existem profissionais como você. Hoje só precisa parecer bem feito, é a aparência que conta. E dinheiro no bolso. Tá todo mundo procurando um jeito de ganhar dinheiro sem trabalhar, sem fazer esforço. Esse mundo sem valores será a nossa ruína.

▬ Que nada, vai ter sempre alguém que gosta do que faz e faz bem feito.

▬ Mas se até o governo não faz o que deveria fazer, não vê? Eles deixam entrar todo mundo. A Itália já não é dos italianos.

▬ Você está se referindo àqueles miseráveis que se arriscam no Mediterrâneo para fugir dos países com conflitos civis?

▬ Não, pobrezinhos. Parte deles nem chega aqui. Quantos barcos devem ter afundado pouco depois de partir? Quantos morrem e a gente nem fica sabendo porque não aconteceu na Europa? Não, por aqueles desesperados eu tenho é pena, pois não têm opção. Falo de quem escolhe viver em outro país e vem encher o saco aqui, aceitando trabalhar por mixaria, sem registro e sem pagar impostos, roubando o emprego de gente honesta. ‘Cê já viu quanto chinês chegou por aqui nos últimos anos? Em Veneza e Florença, por exemplo, todo o comércio tá na mão deles. Quantos bares, lojas e barracas de feira aqui na cidade são tocadas por chineses? Eles estão dominando tudo.

▬ Peraí, eles compram os estabelecimentos, não roubam nada de ninguém. Quem não quer vender, não vende e pronto!

▬ É, meu caro Allan, a coisa não é bem assim. Eles fazem ofertas irrecusáveis. E depois só assumem outros chineses, são uma economia paralela. Você já viu chinês em hospital, no médico de família ou no dentista? ‘Cê já viu chinesa grávida? ...Escola, igreja, trattoria ou boutique? Onde é que eles gastam o dinheiro deles? Dentro de uns vinte anos o primeiro ministro italiano vai ter olhos puxados, ‘cê vai ver.

▬ E qual seria a opção? Construir um novo muro que cercasse todo o continente? Os tempos mudam e vamos nos adaptando. Se os italianos estão por toda parte – inclusive na China – é normal que os mais de um bilhão e trezentos milhões de chineses também se espalhem.

▬ Nós éramos felizes e não sabíamos. Quando os africanos começaram a aparecer por aqui, todo mundo se lamentava. Mas eles não roubavam os empregos dos italianos. Subservientes, faziam tudo o que nós não queríamos mais fazer, sujar as mãos e trabalhar com as costas sob o Sol. Trabalhavam oito horas por dia mas só rendiam a metade, eram preguiçosos e acomodados. Os chineses, não. Os chineses trabalham vinte e quatro horas por dia. Eles vieram pra tomar conta da Itália.

▬ Os italianos terão que reaprender a trabalhar sob o sol e a sujar as mãos. E a trabalhar vinte e quatro horas por dia, se quiserem concorrer com o resto do mundo, inclusive na China.

▬ Tarde demais, caro Allan. Tarde demais. Acho que o governo também foi comprado pelos chineses. O italiano é o novo africano, preguiçoso e subserviente. Já não rendemos nem a metade e todo mundo só quer ganhar dinheiro sem trabalhar. Os chineses vão dominar o mundo e não vai sobrar nem a lembrança do que éramos. Como é? O mundo gira, e os chineses devem já devem ter comprado até a tal Lusitana.
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14 comments:

myra said...

:) :( chineses sao chineses :)
abraco!

Carol Alencar said...

Pura verdade!!!
E os italianos se preocupam somente com os africanos... ai ai

Tati e Seus Nicola'S said...

... pois é. E por aqui tb está cheio deles. Mas, sinceramente, ainda não defini minha linha de pensamento com respeito a esta "invasão chinesa".

Milena F. said...

Por enquanto eu prefiro a "invasão chinesa". No meu prédio e bairro, por exemplo, alguns baderneiros venderam e quem tem comprado são chineses... São educados, prestativos, as crianças uns amores... Não fazem bagunça, ficam no canto deles e não me incomoda.

Lembro que diante da pobreza no Egito e tanta gente pedindo dinheiro ou tentando passar a perna na frente dos templos, perguntei a um dos guias pq eles não vendiam picolés ou bebida gelada naquele calor horrível (eu teria comigo uns 5 picolés por dia!), e ele me disse que ali no templo não tinha eletricidade para um freezer! Respondi que poderiam colocar os produtos em caixas de isopor, como eu tinha visto nas Montanhas Huangshan na China (onde os carregadores carregavam caixas enormes e pesadas montanha acima) ou na Grande Muralha, exigindo um esforço físico absurdo. Ele me olhou surpreso e disse que nunca tinha pensado nisso, mas que em todo caso não tinham como competir com os chineses...
Mas é verdade que um negócio chinês só emprega chinês e por aí vai...

Anonymous said...

É estranho como facilmente colocamos um paradigma no outro né? é ruim categorizar uma pessoa por ser desta ou daquela nacionalidade. Não sou a favor nem contra estas "invasões", muito pelo contrário :P. Mas acho que o respeito cabe dos dois lados.

maray said...

toda vez que um país entra em crise maior, recrudesce o sentimento de xenofobia. Existe um provérbio nosso, que vc com certeza conhece: em casa que não tem pão, todos gritam e ninguém tem razão...Acho que é isso. Parece que o lado B de todo mundo aflora com a crise, mas quero crer que seja só instinto de sobrevivência. Pensar que o ser humano possa ser tão mesquinho me enche o saco, pra falar o mínimo.

Thais Miguele said...

E vc que é brasileiro, Allan? Se encaixa aonde?

Bruxa do 203 said...

No final, com essa dos chineses comprando a tal Lusitana, não consegui parar de rir!!

Aaahhh Como eu queria um trabalho para ganhar mais, mesmo que tivesse que trabalhar 24 horas por dia.

Claudinha ੴ said...

Bem... Aqui isto acontece desde a época da escravidão. Em Ouro Preto, já recrutavam chineses para trabalhar nas minas de ametistas e ouro. Os negros eram maiores e mais fortes, mas para se esgueirar na escuridão e nos caminhos estreitinhos e túneis, os chineses eram mais aptos. Pegaram o que puderam e fizeram sua vida no Brasil. Aqui na pacata estância que moro agora e que sobrevive de malharias também vemos o tigre dominando o mercado. Muitos daqui preferem comprar a mercadoria chinesa e revender aqui, do que fabricar como era antes... Estão ganhando o mundo, meu caro!
:(

Inaie said...

não se esqueça dos indianos, meu caro...nao se esqueça dos Indianos...

Anonymous said...

Colonizar é bom, ser colonizado é outra coisa.
Pressionado por um dirigente do governo para retirar uma fábrica da China e leva-la de volta aos EUA, um diretor da Apple explicou que nos EUA um projeto vira protótipo em, no mínimo, seis meses e na China em seis horas.
Manoel Carlos

Walter said...

bom...os chineses vão copiar a Lusitana e fazer centenas dela.
Eu me pergunto:e se a China resolver mudar e parar de intercambio comercial? o que vai ser do resto do mundo?
Abraços e abbracci

Carol said...

Angola também está indo nessa linha... se deixarem dentro de alguns anos serão mais chineses que angolanos...
Algumas placas de sinalização já tem até legenda em chinês!
Abs.

Gisley Scott said...

Os chineses são as pessoas que mais se destacam aqui quando se trata de faculdade. No campo da saúde eles tb são muito presentes. Eles não brincam não. Vem pra fazer, faz bem feito e não tem preguiça de trabalhar.

Não dão murro em ponta de faça de jeito nenhum.Rs! Cuidado, mundo! rs!