Sunday, September 04, 2011

A melhor comida do mundo


Uma das coisas que estrangeiro não entende sobre o Brasil é o nosso costume de fazer um monte de comida. Nem eu entendo. Com exceção de alguns pratos, comida boa é comida fresca. contei das senhoras idosas italianas que compram mezz’etto de presunto cru pela manhã e mezz’etto à tarde. (Mezzo etto = 50 gramas; un etto = 100 gramas; etto é a corruptela de ettogrammo.) Em pequenas quantidades, nada se desperdiça. Caso a senhora tenha vontade de comer uma fruta à tarde, ela escolhe uma da estação em substituição ao presunto e não sobra comida velha na geladeira. Geladeira de italiano é pobre, há apenas o que será consumido no máximo no dia seguinte.

Arroz e feijão. Panela de pressão no fogo cozinhando o barulho que avisa ao ladrão sobre a presença de gente em casa, melhor procurar outra para roubar; dia seguinte é dia de tutu à mineira com muito torresmo. Domingo de macarronada com quantidade industrial e a dona da casa avisando que não pode sobrar. Macarrão, muito molho e cerveja. Duas horas antes, tiragosto de calabresa, frango à passarinho, o torresmo do tutu de ontem, queijinho, fígado de frango frito e muita cerveja. Pela saciedade ou pela embriaguez, ninguém mais lembra do macarrão quando, pelas três da tarde, a patroa entra orgulhosa com a travessa na mão. A obesidade dos cães brasileiros irá acabar quando abolirem a escravidão da macarronada aos domingos.

Manter geladeira e despensa semivazias faz bem à dieta, à carteira e ao meio-ambiente. Além de ser chique. Ser frugal é chique. Estou longe de ser chique, mas continuo tentando. não gosto de comida velha. Comer pouco e mastigar muito é viver bem, como ensina a dieta da restrição calórica. De preferência, comer vegetais frescos e da estação. Um amigo ensina que vegetais congelados são muito saudáveis, congelados poucas horas após a colheita; um outro defende que os vegetais frescos são superiores, principalmente se cultivados na horta de casa. Tem um médico que insiste na dieta hipercalórica como remédio absoluto. Na dúvida, consumo de tudo acreditando que um dia serei frugal e leve. Tá fresco? Foi colhido hoje? Tá saindo do fogo? Eu como.

21 comments:

Vivien Morgato : said...

Allan, vc está coberto de razão.
Eu compro não perecíveis em uma quantidade um pouco maior ( pouca, de qq forma, somos só eu e meu filho), carne eu congelo..e tento manter os vegetais comprados recentemente.
Arroz e café, por exemplo, só funcionam feito na hora, qq outra coisa vira desastre.

Annita said...

Otimo texto, otima observaçao!
Posso servir como exemplo, pois qdo cheguei aqui fazia como no Brasil, fazia compras para o mes inteiro e achava estranho as pessoas no açougue por exemplo pedirem 2 braciole di carne (2 bifes) ou 4 fette (fatias) de mortadela.
Com o tempo entendi que tudo fresco é mais gostoso e saboroso!E agora eu procuro fazer a mesma coisa, quantidade suficiente para nao levantar da mesa com fome e nao sobrar. Italiano nao é fan de comida requentada!!
Mas a familia do meu marido é de tradiçao antiga, geladeira sempre cheia e congelador lotado - assim, se alguém aparecer de surpresa nao tem problema e a mesa deve ser sempre muito farta!

Unknown said...

Corretíssimo! Desde um tempo para cá já não loto a geladeira. Compro o necessário para dois ou três dias e estou achando isso ótimo.

myra said...

é isto mesmo, comer pouco, é melhor que comer demais, tem que sair da mesa, ainda sentindo um pouco de fome:))))
beijos

Meiroca said...

Allan entao posso me considerar chique, nossa geladeira é vazia...compro o que vamos comer, ultimamente tenho ganho muita verdura, fruta, chego em casa e ja preparo algo e congelo para nao estragar.

Bjs

Thais Miguele said...

Eu sou frugal, porque moro em república, e tenho pouco espaço na geladeira... kkkk. Mas aqui não tem isso de verdura, fruta fresca, Aqui é basicamente enlatado, congelado, processado.

maray said...

pelo teu critério não sou nada chic. hoje, que só estamos em casa eu e o maridão, a geladeira vive cheia. A dispensa também. Tem explicação, além do fato de que eu cozinho e sou vegetariana ( saciar com vegetais é mais difícil, tem que ter muitos): uma infância pobre, de nós dois. Então, ter a geladeira e a dispensa cheias é sinônimo de aconchego, de "sucesso" na vida. Faz-nos bem. Às vezes, alguma coisa estraga, mas eu me tornei perita em aproveitar quase tudo, dos miolos às cascas.

bjs

Luma Rosa said...

É cultural o refogado brasileiro!! E o cheirinho? Já me ensinaram: a melhor hora para ir ao supermercado é após o almoço, não compramos com gula! Sou adepta da comida natural, menos cozida o possível e de preferência fumegando no velho e bom fogão. Raramente como comida congelada, mas não me convide para dividir um prato de massas com você - adoro!
Outro dia, no SubRosa, fiquei sabendo que o arroz tem proteína. Santa decepção! Arroz branco pra mim não tem graça!
Não me importo em ser chique, quero ser saudável e agora percebo porque algumas senhorinhas italianas são magrinhas. As tantas idas ao mercado não deixa de ser um bom exercício. Como fazem no frio?
Boa semana!

Unknown said...

Alan,
Isso também sempre me incomodou, aquela mesa cheia de comida não dá nem vontade de comer. Aqui na Bahia é um exagero mesmo, vamos na casa de amigos e é um absurdo a quantidade e variedade de comidas.
Aqui em casa somos só meu marido e eu (os 3 cachorros só comem ração...rs), temos 2 geladeiras sempre lotadas, o freezer abarrotado, é que o Tunico tem mania de comprar comida!! e é ele que sempre vai ao supermercado, vola dizendo que estava com bom preço por isso comprou!
Eu prefiro comprar s´o que vaos comer e preparar apenas a quantidade para uma refeição, já ele é um exagero, quando está na cozinha parece que está cozinhando para um batalhão, dai ele diz que o que sobra congela, só que fica congelado e esquece, sempre quer fazer algo novo.
Essa cultura dos italianos e europeus em geral também é pela proximidade dos locais para comprar comida, acho que aqui no Brasil somos mais como os americanos, vai ao supermercado para abastecer a despensa.
Minha sogra continua assim, vai ao mercado todos os dias, gosta de bater sua perninha diária, e isso faz bem, além de se mexer, compra comida fresca e ainda encontra uns papinhos pelo caminho!
Muito bom seu texto!
beijo
Ju

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ said...

Allan, geladeira lotada é uma das coisas que mais me irrita qdo estou com minha familia no Brasil. Metade vai para o lixo e ai eu reclamo horrores. E todo mundo lá em casa diz que eu virei alema. Será?
Mas nao há cristao nesse mundao que consiga fazer a ver a geracao dos meus pais que eles desperdicam comida. Qdo eles vieram aqui em casa e viram a geladeira quase que vazia, eles me perguntaram se eu estava passando necessidade. Isso no Brasil já é cultura. Faz parte do dia a dia do brasileiro ver a geladeira cheia para jogar fora. Eu compro geralmente tudo que é da estacao e aproveito muita coisa. Comida velha aqui tb nao tem, cozinho mesmo a quantidade que consumimos e raramente jogo alguma coisa fora.

Eu tô mais entao para italiana, rs.

Os alemaes tb gostam de ir ao mercado dia sim e dia nao.

Bom fim de semana

Abracos

Sandra B. said...

Bom, corretíssimo pelo que diz respeito à comida brasileira, mas extremamente atrasado em relação è Itália de hoje. O que você contou vale para a senhora viúva e aposentada que tem tempo para ir à lojinha de manhã e de tarde e, estando completamente só, tem exigências muito frugais. Mas a família italiana de hoje enche a geladeira, vai ao supermercado uma vez por semana, geralmente no sábado à tarde, e enche o carrinho como se fosse fazer compra para um batalhão do exército. Talvez a geladeira, lá pela metade da semana, esteja meio vazia, mas é porque você esqueceu de olhar o congelador. Enfim, se os costumes alimentares italianos fossem tão saudáveis, não haveria esse aumento da obesidade e das doenças cardiovasculares.
Depois, claro que não temos os mesmos hábitos dos brasileiros nos domingos, mas acho que é só uma questão de tempo. Afinal o Brasil de hoje, economicamente, é muito mais parecido com a Itália da década de 60 do que com a Itália de hoje. Acredito que certos hábitos de alimentação tenham muito a ver com um equívoco quanto ao conceito de "bem estar", que coincide ainda com "miuto consumir". Lembro minha avó, por exemplo, que quando eu era criança e ela convidava a gente para almoçar no domingo, preparava: entradas (salame, presunto, fritura de verduras mistas), macarrão com molho de carne e parmesão, bife à milanese com batata frita, churrasco (bisteca è "fiorentina"), frutas e bolo. Ela tinha sido pobre, durante a guerra, e a melhor maneira para demonstrar que não era mais era exatamente apresentar uma mesa mais-que-farta...

Lilian said...

Chegando aos EUA, onde vivemos atualmente, meu marido e eu combinamos seguir o mantra de comer pouco e bem, mantendo a determinação de não sucumbir às porções gigantescas de comida. Além disso, começamos a cultivar uma horta num pequeno espaço no quintal e, marinheira de primeira viagem, confesso que estou surpresa com a facilidade de tudo. O clima na Califórnia ajuda e, em pouco tempo, nossos tomateiros se carregaram, colhemos pimentões, muitas ervas, e estamos à espera dos primeiros pepinos e berinjelas. Recomendo a todos. Pode ser mais acessível e tranquilo do que imaginam.

Renata Calixto said...

Eu jah falei e repito que a unica coisa, alem da minha familia, que me faz voltar pro Brasil eh a comida.

Comida brasileira nao tem igual, ateh meu noivo se rendeu e aprendeu a licao beeem rapido. Engordou 5 a 7 kg em 3 semaninhas de Brasil. rs

beijao :)

cucchiaiopieno.com.br said...

Allan, adorei!
Infelizmente estou sempre com a geladeira super cheia, mas estou me controlando, é pura falta de organização! Esse é um ponto que quero realmente melhorar.
Morando em apartamento tenho apenhas uma hortinha com espécies, mas procuro comprar frutas e verduras bio!
Um abraço
Léia

Menina no Sotão said...

Sabe que isso me assustou no começo. A geladeira da casa de minha tia vivia cheia. Atolado e muitas coisa estragavam. Mercado as terças e feitas as quintas. Tudo para dentro do armário e da geladeira. Macarrão aos domingos, aos montes. Apenas três pessoas em casa. E sobrava. Quando o cachorro comia tudo bem, mas quando não. Era lavagem no dia seguinte.
800 gramas de muzarella para não ter que ir ao mercado todo dia. Longe (na esquina). Pão??? Dúzias... E tudo ficava duro e ia para o lixo cheio de bolor.
Enfim, aqui em casa, as compras são quase diárias. Sobe-se a ladeira para ir ao Pão de Açúcar (mio amore reclamava no começo, agora não mais). A quitanda tem frutas frescas todos os dias e da estação, claro.
Enfim, não herdei os péssimos hábitos de minha tia. Sobrevivi aquilo tudo...

bacio

Menina no Sotão said...

Esqueci de dizer que adorei o seu post. Mas acho que isso você percebeu no comentário anterior. hehehehehe

bacio (de novo)

Anonymous said...

Na casa dos meus pais, coentro, tomate, pimenta, pimentão e outras coisas eram colhidas na hora.
No Rio, antigamente, o hábito era peixe às sextas-feiras, feijoada aos sábados e cozido aos domingos. Em Pernambuco era peixe às sextas-feiras e galinha à cabidela aos domingos.
Manoel Carlos

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ said...

Tudo bem por ai?

Boa semana

Brasilitalia said...

Io penso che, più che altro, sia per una questione di "qualità". Noi italiani non amiamo la "comida velha" e preferiamo mangiare piatti e prodotti freschi cucinati al momento. Già qui in Brasile questo "abito" non c'è, basta solo vedere come la maggior parte delle persone cucinano "arroz e feijao": ne fanno in quantità industriali che poi riscaldano giorno per giorno. Questo per noi italiani è inacettabile. Siamo molto "chatos" in tutto quello che riguarda la cucina. E' chiaro che non tutti i brasiliani cucinano così, come ci sono italiani che usano comprare a più non posso, ma in generale siamo un popolo che, dal lato culinario, compriamo solo quello che serve. D'altronde in Italia si dice "poco ma buono", quindi...

Um abraço

Anderson Fabiano said...

Bom dia, Allan,

Geladeira: paraíso ou umbral do Inferno? Vai saber... Cada um com seu argumento e vida que segue né? Mas, sem xiitismos.

Se lembrar da infância pobre quero ela abarrotada. Se me distraio e olho a barriga, que insiste em empurrar o lap enquanto escrevo, quero ela vazia. Rsss

Acho até que vou pegar uma carona nessa ideia e rascunhar uma crônica nova. Até por que, depois dessa enchente que andou tirando nosso apetite por aqui, rir um pouco até que vai fazer bem.

Você continua impagável! Perfeito mesmo. As doses certas de humor e informação que garantem ao seu blog o título de ”Parada obrigatória”.

Parabéns, parceirinho!

Meu carinho,
Anderson Fabiano

Lucia Malla said...

Adorei! Tb sou do seu time: tá fresco, saindo do fogo... eu como! :)