Em Fevereiro aconteceu o inevitável. O Festival da Canção Italiana de Sanremo chegou à sua 60ª edição. E não há nada que se possa fazer para evitar todo o falatório antes, depois e, principalmente, durante o festival. Apesar do alto índice de audiência, o número de tvs ligadas durante o festival cai muito. O Auditel, o Ibope italiano, verificou mais de 40% de média de share, enquanto o número de tvs ligadas caiu em quase dez milhões.
A realidade é que poucos suportam o Festival. É mais fácil sair de casa e encontrar-se com os amigos que mudar de canal, pois as outras emissoras resolveram aliviar a programação durante a semana do Festival. Um evento marcado por trambiques e cartas marcadas que há muito deixou de ser o reflexo da música que toca no rádio, com resultados que acabam causando mais polêmica que venda de discos. Ops! Cds, eu quis dizer.
Funciona assim: A RAI, que produz o festival, convida um diretor entre os apresentadores da emissora, que, por sua vez, convida os músicos italianos que irão participar do festival com músicas inéditas. Só concorre músico italiano convidado. Depois, o diretor trata de contratar algumas estrelas, que podem ser músicos estrangeiros, atores, atletas, enfim, gente famosa para enriquecer a programação e, em alguns casos, cantar. Desde 2004 decide o voto popular através de telefonemas, que vai eliminando os músicos até restarem apenas três. O voto popular também pode decidir uma repescagem. Na prática, um concorrente paga (PAGA!) um call center para fazer tantas ligações quantas puder pagar. Para dar uma ideia do imbroglio, o primeiro e o segundo colocados deste ano foram repescados, depois de eliminados. Tudo através do “voto popular”. A maioria dos músicos simplesmente recusa o convite, mas nem todos os grandes são convidados.
Para falar a verdade música italiana vai mal. O sempre atual e velho esquema das gravadoras de impor o que será sucesso no rádio não permite uma renovação de qualidade, mas apenas do que é comercial. O que toca nas rádios é brega, como deve ser brega a maior parte da música brasileira que toca nas rádios, se nada mudou nestes dez anos que vivo fora. A grande diferença é que é mais fácil encontrar música de qualidade no Brasil que na Itália. A chamada “dor de cotovelo” ou letras fáceis e melosas é o normal por aqui. Sim, há exceções, mas não há renovação. Assim como acontece no panorama mundial, no cenário da música italiana é a vez das mulheres. Falta, agora, descobrir quem irá substituir músicos como Paolo Conte, Lucio Dalla ou Pino Daniele, quando eles decidirem que é o momento de parar, ou forem fazer companhia a Fabrizio De Andrè, Giorgio Gaber e todos os outros que cantam do lado de lá.
As rádios italianas só tocam música italiana e os sucessos internacionais – normalmente músicas em inglês – e mais nada. Mas alguns dos grandes sucessos internacionais do passado os italianos só conhecem em versão italiana, que eles acreditam ser a versão original. Noutro dia um amigo ficou chocado ao descobrir que “Raindrops Keep Fallin’ On My Head” é uma composição do maestro Burt Bacharach. Talvez o mesmo choque que tive quando descobri que “Minha História”, versão do Chico Buarque, é, na realidade, uma canção de Lucio Dalla e Mogol. Mas, acreditem, a versão brasileira é melhor que a original.
Se a curiosidade lhe aguçou, seguem algumas músicas apresentadas no Festival de Sanremo deste ano. Se decidir escutar todas, deixe Malyka Ayene por último.
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Post scriptum:
A RAI, proprietária dos direitos autorais do festival, bloqueou os vídeos do You Tube apresentados neste post.
Se a curiosidade realmente lhe aguçou, vá ao You Tube e digite "festival di sanremo 2010". Se quiser ouvir os cantores que este post apresentava - alguns, como curiosidade - basta digitar o nome do cantor ou cantora:
Noemi
Irene Fornaciari
Irene Grandi
Povia
Malika Ayane
Simone Cristicchi
Marco Mengoni (3º colocado)
Pupo, Emanuele Filiberto e Luca Canoncini (2º colocado)
Valerio Scanu (o vencedor do Festival)
6 comments:
eu acho que ja "era"!! e deveria acabar, esta cada vez mais fraco....beijao,
Essas mulheres são muito chatas! Não consigo me identificar com cantoras italianas. E o menino que ganhou mais parece saído daqueles filmes de vampiro!
Da música do Povia eu gostei, até mudei meus conceitos sobre ele e encontrei uns vídeos bonitinhos.
No Brasil também é muito difícil o acesso à música menos comercial. Por sorte aqui no sul temos mais oportunidades de assistir shows de músicos uruguaios e alguns cantores locais, que têm mais influência dos países vizinhos do que daquilo que a Rede Globo permite.
lembro da época em que o festival era um sucesso por aqui também. Eu amava o domenico Modugno e namorava ao som triste do Luigi Tenco. E também já ensaiei muitas coreografias no espelho quando pequena imitando a Rita Pavone.
Não sei bem o que mudou. Acho que a avalanche de música americana, escorraçando todas as outras. E essa música americana não é muito melhor (ou pior) do que as italianas. O que me incomoda mesmo é essa falta de opções.
Ah, eu gostava também do Giorgio Gaber, um que fazia músicas de "protesto". Ainda existe?
Eu AMO Irene Grandi. É minha italiana preferida! Esse ultimo CD dela está maravilhoso!
Off Topic: se eu fosse bloguista desde a época em que morava no Brasil, os nossos blogues seriam um o espelho do outro. Agora, o meu é "retroativo", mas mesmo assim acho que temos algo em comum.
(E se tu fossi pernambucano come io sono emiliana, sarebbe la quadratura del cerchio)
Você acertou, Allan: aqui no brasil as rádios só tocam música brega e sertaneja (a qual a Rita Lee chamou em certa ocasião de sertanojo). Aqui também não tem muita renovação e para quem gosta de música (como eu) tem de ficar preso aos velhos sucessos dos anos 70/80. Uma pena pois há muita gente jovem fazendo música boa mas não consegue gravar nem tocar nas rádios.
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