A chuvinha ainda não parou. Engrossou em algumas regiões, inundando vilarejos, campos, casas e vidas. É a primavera italiana mais chuvosa dos últimos duzentos anos. Em Piacenza, é chuvinha mesmo. Só o rio Po deixou a cidade em estado de alarme, ameaçador como o estouro de uma boiada. Mas foi o Trebbia que fez mais estragos na província, deixando na bela Rivergaro, às suas margens, uma marca da maior cheia da história do rio.
Bolzano é quase Austria, numa região em que as culturas se misturam. Assim como as línguas. O garçon do restaurante observa os fregueses e decide em que língua atendê-los. Ficou na dúvida comigo; arriscou o alemão e, diante da minha expressão emblemática, ofereceu-me uma mesa em italiano. Não errou mais nenhum cliente. Deve ter estranhado um italiano com um guarda-chuva naquele dia ensolarado. Apesar de ser a 270 km de Piacenza, decidi ir de trem – não repitam isso em casa, sem a presença de um adulto. Cheguei na estação às 7:30 h., pedi um bilhete, entrei no trem e comecei a ler. Meia hora depois o trem parou e todos desceram. Assustado com a rapidez, desci e descobri que estava em Cremona, 30 km ao norte de Piacenza e que deveria pegar um outro trem, que por sinal estava saindo e eu tive que correr. Brescia, Verona e finalmente Bolzano. Por que consultei a internet para informar-me sobre o tempo em Bolzano, mas não consultei o site da Trenitalia ainda não entendi. Quatro trens e quase cinco horas de viagem.
Não sei se acontece com você, mas, às vezes, me arrependo de ter aberto os olhos pela manhã. Claro que se soubesse, teria virado para o lado e ficado na cama.
A pessoa que eu deveria encontrar às duas teve um contratempo e só nos encontramos às quatro e meia. Controlava o céu e olhava o relógio, imaginando que teria que enfrentar outras conco horas para voltar. Conversamos e não gostei muito do que ouvi, pois as regras mudaram sem que eu soubesse e a negociação não caminhava na direção esperada. Um aperto de mão e a promessa de que nos falaríamos em breve para dar tempo de absorver as mudanças propostas por ambos.
Seis e meia daquela tarde ensolarada. Voltei à estação de Bolzano e descobri que a viagem duraria um pouco mais. Não havia trem para Piacenza via Brescia e eu teria que ir até Milão e depois voltar a Piacenza. Ao menos economizei uma conexão. Quase meia-noite desço na estação de Piacenza. O calor abafado anunciava chuva. Orgulhosamente exibi meu guarda-chuva aos poucos passageiros que cochilavam na estação, mas ninguém me notou.
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7 comments:
Aqui na França também não para de chuviscar. Mas enfim, é sempre assim, então nem vale comentário!
A chuva que nos leva para dentro ou para fora. Sempre foi assim em casa. Chovia e a gente corria para fora, perto do fogão a lenha, que era coberto, mas não ficava do lado de dentro e a gente fazia piada. A chuva em Gênova sempre foi linda porque o mar parecia se unir ao céu. Ilusão dos olhos e da alma, sempre.
E andar de trem enquanto chovia era um outro delírio meu.
Adorei seu post, trouxe saudade para os meus "laranjais".
Abraços meus
Da próxima vez pega o trem pra Milão mais cedo e faz um "pit stop" aqui para tomar um café comigo :-)
Tem um sol tímido lá fora hj. Torço para que ele persista.
Beijos
Costumo dizer pensar que em ocasiões assim, podemos aproveitar para exercitar nossa paciência.
Cadinho RoCo
Oi - tem um selinho de blog amigo pra você lá no Centelhas. Beijão!
Oi Allan,
Eu sei que as plantinhas adoram e agradecem mas eu detesto chuva.
Aqui em São Paulo estamos em um período de seca.
Bjs.
Elvira
Reclama não, Allan! Ontem mesmo levei duas horas em pé da Heitor Penteado até a divisa com Taboão. De ônibus. Se é que se pode chamar aquilo de õnibus. E eu ia olhando os carros ao lado, todos parados, congestionados também.
Eu andava de carro. Parei. Passei a andar de ônibus.
Acho que vou parar e começar a andar a pé...:)
beijão
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