Caros e Caras,
Paz e saúde!
Nosso céu tem mais estrelas.
Dez de agosto é a noite de san Lorenzo, quando acontece o festival de estrelas cadentes. É uma das poucas ocasiões em que os italianos saem para observar um espetáculo grátis. Normalmente eles não dão muita bola para pores-do-sol ou para a lua, por exemplo. Talvez a exceção seja concedida por se tratar de um evento raro. E, talvez, porque poder participar de uma notte di san Lorenzo significava ter mais de dez anos, e esse era o sonho de todo escoteiro italiano. Qualquer que seja o verdadeiro motivo, é uma noite especial, quando é possível encontrar carros estacionados em meio aos campos do feno recém colhido, onde vozes adultas e infantis se misturam numa disputa de quem consegue ver mais estrelas com o estrilar de celulares. Mas a comparação com o céu que observamos em Assis (SP) em julho passado é inevitável. E nós não participamos da festa. Pelo menos não na tradicional noite: saímos para observar estrelas na noite do dia doze, que o calendário italiano me informa ser a noite de san Ercolano. Mas as estrelas cadentes estavam lá, assim mesmo.
Aproveitamos o fim-de-semana prolongado (quinze de agosto é feriado na Itália) para não fazer nada. Não fomos a Riva del Garda; não fomos à praia; não visitamos o aquário de Gênova. Até o pic-nic nós cancelamos. Escolhemos fazer coisas simples, como ir à festa de Pigazzano, um vilarejo na montanha, numa dessas noites; piscina; observar estrelas cadentes em Rivalta; comprar material escolar (acreditem, é uma maratona). O que me faz lembrar a propaganda do Momendol, pomada para dores nas costas: cada vez que vejo a propaganda do produto, não consigo deixar de associar os problemas de coluna dos italianos à mochila que eles carregam nos tempos de escola. Cheguei a comprar dois carrinhos para as meninas levarem o material escolar, mas elas preferem não pagar esse mico. Usarão muito Momendol quando adultas.
Além das estrelas, sinto muita falta das nossas frutas. Onde hoje é o aeroporto do Galeão, no Rio, um dia foi o terreno de uma escola, onde enterrávamos sapoti para amadurecer e tostávamos castanha de caju em latas vazias. Onde comíamos marmelo e ingá (quantos tipos de ingá existem?). Subíamos na jaqueira e observávamos os inspetores da escola, que nos procuravam lá longe, nas goiabeiras. Aqui, ou você come a fruta na época certa, ou passa mais um ano sem vê-la. Bom, é verdade que eu me delicio com mirtillo (uma frutinha roxa de um arbusto rasteiro, com sabor próximo ao da jabuticaba), pêssegos de diversos tipos, percocca, que é um híbrido entre pêssego e damasco (que é usado na produção de pêssegos em calda) e algumas outras poucas frutas típicas desta estação. Mas fico sempre com uma sensação de monotonia.
Mas, de repente, eis que surge o frio e a chuva. Estamos em pleno verão e somos surpreendidos por uma temperatura muito abaixo da média da estação. Eterno inconformista (às vezes, rabugento, mesmo), reclamo também do frio. A mudança de temperatura mexe com o meu humor e o resultado não é dos melhores. A rotina foi improvisamente jogada no lixo. Todos os nossos planos para os dias quentes e ensolarados, os passeios, a piscina: tudo cancelado. O primeiro impacto à mudança é a resistência. No verão, ar-condicionado; no inverno, aquecedor ligado. Mas experimente mudar o clima sem pré-aviso para ver o que acontece. Reclamamos. E no terceiro dia já estamos habituados. Creio até que esperamos essas mudanças bruscas pra quebrar a rotina e reclamar.
Depois, tudo volta como antes. Novos escândalos políticos, sempre com os mesmos políticos, que só contribuem para aumentar a sensação do monótono dia que se repete durante todo o ano. As fofocas sobre os famosos que vendem jornais e revistas. As frutas que aparecem uma vez por ano. Todo ano.
Hoje, sapoti é um sabor perdido na minha infância, esquecido na cesta da minha memória, embaixo de pilhas de cajás, umbus, cajus, jacas e tantas outras frutas que vão cedendo espaço a pêssegos e mirtilli. Por mais que tudo mude, tudo continua me parecendo repetitivo, aumentando a minha rabugice. Talvez seja a falta do Cruzeiro do Sul, talvez a incapacidade de explicar um jatobá a um estrangeiro. Talvez seja só essa confusão de saber quem é o estrangeiro. Só sei que fiz um pedido à estrela cadente e nem assim a semente de maracujá doce vingou. Talvez seja esse frio…
Ciao.
3 comments:
Parece mais banzo, Allan :)
Uma única noite, pertinho da pedra da gávea, perto mesmo, vi várias estrelas cadentes. Fora isso, só algumas solitárias, perdidas. Como são essas estrelas?muitas? Inconta'veis? Vale fazer vários pedidos? Demorei muitoa ver minha primeira estrela cadente, já adulta estava.
Angela
Mostra fotos de Jatobá pra eles. Conheci dois dos dezenove que existem no Brasil (Fortaleza e Paquetá). Tenho planos de conhecer os demais algum dia desses... abs
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