Thursday, June 24, 2004

Televisão

Caros e Caras,
Paz e saúde!

Se o quitandeiro da esquina disser: “Vou destruir o Brasil!” você dará pouca ou nenhuma importância a ele. Mas se a mesma frase for dita pelo presidente dos Estados Unidos, …bom, aí a coisa muda de figura. E, provavelmente, você começará a sondar o mercado imobiliário da Nova Zelândia.

Depois de influenciar você com o parágrafo anterior, posso afirmar que a importância da notícia está, também, em quem a divulga.

Hipotizando uma situação, imagine um telejornal apresentado por um barbudo de fazer inveja ao Lula dos velhos tempos. Ou por um jovem repórter que fala num tom malemolente, displicentemente deitado na cadeira que ele gira de um lado pro outro. Ou, ainda, por uma apresentadora com dois quilos de maquiagem, um batom vermelho carmim e cabelos penteados para uma festa, que faz biquinhos e lança olhares pretensamente fulminantes para a câmera. Ou uma apresentadora com roupas de estampas imensas e chamativas, decotes profundos, brincos e jóias enormes. Imagine, ainda, que esses apresentadores demonstrem raiva, nervosismo, briguem e interrompam bruscamente os próprios correspondentes, declarem suas posições em relação às matérias apresentadas e conduzam o jornal num estilo extremamente personalizado.

Abusando da sua paciência para o exercício mental, imagine um telejornal onde a crônica policial ocupe 50% do tempo, com acompanhamento dos casos por até vinte anos, procurando explorar todos os ângulos e possibilidades, até o fim do cumprimento da pena do acusado e onde as vítimas tornam-se detalhes das matérias apresentadas. E, por último, imagine um jornal que se repete em todas as emissoras, mudando apenas os apresentadores, com as mesmas matérias exibidas em cinco edições diárias.

Se você superou a prova de paciência a que eu acabo de lhe submeter, terá um retrato fiel dos telejornais italianos.

Mas a TV italiana não é só isso: aqui, os atores (e qualquer um que queira trabalhar na TV) cantam, dançam e fazem humor. E, na maioria das vezes, o fazem com qualidade. Ou seja: para aparecer na televisão, basta ter uma carinha bonitinha. Mas para permanecer nela, não.

Outra diferença são os filmes e seriados: americanos, é claro! Mas, também, franceses, alemães, poloneses, ingleses e até italianos! E mais: nos seriados muitos protagonistas morrem e são substituídos e tudo acontece numa sequência cronológica. Inclusive os episódios. E novelas brasileiras, argentinas, mexicanas, italianas…

Para evitar a saturação dos espectadores, os programas e séries tem um ciclo de vida pré-estabelecido, que pode ser encurtado. Com raríssimas exceções os programas não duram mais de uma temporada - do outono à primavera - e existem produções feitas para durarem quatro ou cinco edições (domingos.)

Os seriados costumam apresentar dois ou até três episódios num mesmo dia, como forma de garantir a audiência no auge da série.

Outro sucesso garantido, ainda que limitado, são os documentários e programas sobre ecologia e afins (Mundo Animal e National Geographic). Talvez esse relativo sucesso explique a nova moda que consiste em levar os próprios animais aos programas dos seus donos. Nestes casos, o índice de audiência tem sido maior que apresentar-se de cuecas, outra moda por aqui.

Por outro lado, não conheci ninguém que tenha conseguido assistir a mais de cinco minutos do único curso de formação escolar em rede nacional. O seu horário é por volta das duas da manhã, quando uma grande massa de jovens torna à casa e liga a tv e, por vinte, trinta minutos, assistem de tudo. Menos o bendito programa. Aconselho-o a quem tiver graves, gravíssimos distúrbios de insônia.

A última: aqui eles não conhecem os Três Patetas. Um politico local, que morou no Brasil e conhece a série, garante que é melhor assim e sugere que poderia suscitar comparações subliminares.

Ciao.

3 comments:

Anonymous said...

Definitivamente o seu é o melhor blog de irmãos que moram no exterior. Volte!
M.Peltier

Anonymous said...

Você deveria escrever com maior periodicidade. Começa a ficar difícil acessar a rede todas as manhãs sem ler uma carta nova. Faça-as mais curtas mas todos os dias, ou eu mando teu blog em tilt!!! (brincadeirinha) Marcello Sabóia

Anonymous said...

Olá Allan, volto ao teu blog e é um prazer ver que teu texto continua delicioso, e através dele posso conhecer uma Itália mais real. Quero voltar outras vezes e para isso gostaria de te linkar no meu Singrando. Espero que concorde. Um abraço. Naldinho www.mblog.com\singrando