Começou
o horário de verão e o dia amanheceu lindo. Finalmente um domingo de sol. Tirei
o Berto do sofá e fomos passear, pouco antes da nove (uma hora mais tarde, por
conta da mudança). Levei-o ao jardim perto de casa – aquele onde foi encontrado
o Klimt roubado – e, depois, ao Faxhall, que é uma rua paralela à nossa,
fechada ao tráfego, construída sobre os antigos muros da cidade. Muitas
árvores, bancos, dois parques infantis, três bares e muita gente. Mas não
àquela hora de uma manhã de domingo, quando costuma ser ocupada por tutores e
cães e gente correndo. Hoje tinha uma multidão em roupas de festa comemorando o
fim do Ramadã. Uma multidão mesmo. É um espetáculo de sorrisos, crianças por
todas as partes, adultos, idosos e muita cor. Fico maravilhado com as cores das
roupas de alguns e sequer pensei em fotografar. Estava apenas apreciando a
alegria deles.
Caminhávamos tranquilos, no ritmo do Berto que quer cheirar tudo. Fui
parado umas cinco vezes por pessoas que me perguntavam se eu sabia o que estava
acontecendo. Esclarecia que era a comemoração do fim do Ramadã e seguia em
frente. Uma moça com a mãe e um cachorro se disse indignada, que era um
absurdo. Acenei com a cabeça e prossegui com meu fiel farejador na direção
contrária. Mais adiante uma senhora atônita também me parou para perguntar:
— O que
está acontecendo?
— Estão
festejando o fim do Ramadã, Senhora.
— Ah...! É
hoje? E de onde saiu toda essa gente?
— Essa
gente deve morar na cidade ou próximas.
— Mas assim
tantos? Nunca vi tantos juntos. Quando me mudei pra Piacenza não era assim.
— Bem, eu
moro aqui tem mais vinte e cinco anos e já tinha muito muçulmano.
— Tantos
assim?
— Menos,
mas tinha bastante.
— E quem é
essa gente? O que elas fazem aqui???
— São parte
importante da economia italiana: produzem e consomem. Geram receita...
Parei
quando percebi que os olhos dela não tinham como se esbugalhar mais e ameaçavam
saltar para fora. Melhor, porque a continuação seria informar que algumas
daquelas pessoas que a assustavam tinha comerciante, agricultor, operário,
prestador de serviços e que os filhos deles seriam os médicos que cuidariam dos
nossos filhos e netos, engenheiros, professores, operários, empresários e
blá-blá-blá. Melhor assim, ela resolveu sair do Faxhall e pudemos continuar o
nosso passeio.
Na foto feita pela a Eloá, voltamos ao Faxhall para tomar um aperitivo no
Bar Americano.