Aqui no primeiro mundo tudo é diferente. E, às vezes, é difícil convencer as outras pessoas do que acontece por aqui. Muita gente estranhou quando escrevi sobre um menino de uns cinco anos em carrinho de bebê (aquelas cadeirinhas sobre rodas). Pois bem, isso é normal pelas minhas partes. Mães que empurram crianças que já caminham e correm normalmente, em carrinhos tamanho extra-large, quando decidem dar uma voltinha pela cidade. “Se ele fica cansado, quem é que carrega esse touro no colo? Assim, não enche o saco de ninguém.”
O Império Romano construiu estradas por toda a Europa, que foram modernizadas mas que servem até hoje como vias de ligação entre as diversas cidades, vilas e borgos (antigos vilarejos medievais, perfeitamente preservados e habitados). E é justamente essa longa convivência com as estruturas urbanas que os leva cada vez mais longe da natureza. Ao menos daquela parte da natureza que pode ser evitada. Pernilongos, moscas, abelhas e outros insetos e pequenos animais convivem, não sem conflitos, com os demais habitantes desse velho mundo.
Este ano, pela primeira vez, apareceram formigas na nossa cozinha. Mas são formigas bem-educadas. Vasculham a pia, o chão e o armário embaixo da pia, cheio de produtos de limpeza. Os bolos, tortas e doces deixados em cima da mesa não chegam a durar muito, mas são território poupado pelo pequeno exército das incansáveis marchadoras. Uma lagartixa tomou conta do balcão da cozinha desde março passado. No início, patinava desesperadamente cada vez que nos encontrávamos, mas, agora, já não faz caso e apenas se recolhe em um canto para evitar uma pisada. Não é uma lagartixa de parede e isso me faz pensar que deve ter subido pelo elevador, junto com as formigas civilizadas. O melro que mora no convento, em frente ao balcão da cozinha, já aprendeu que pode ir sossegadamente comer as migalhas de pão que as meninas deixam em volta das plantas, disputando com os pardais os pedaços maiores, numa convivência pacífica no balcão ensolarado.
Lembro que na nossa casa em Lauro de Freitas, às portas de Salvador, havia uma perereca que morava no box de um dos banheiros. A chamávamos Rui e nos divertíamos com seus olhos arregalados na hora do banho. Quando nos mudamos para uma outra casa, a Bianca, então com três anos, ficou feliz ao descobrir outra perereca no novo banheiro: “Olha, O Rui já chegou!” Mas outro dia perdi a paciência: o melro estava dentro da cozinha ameaçando meus doces. Provar até pode, mas precisava fazer todo aquele escarcéu? Xô!
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17 comments:
Parece até coisa de cidade bem do interior do Brasil. Aqui em casa nós temos 2 marimbondos de estimação, rsrsrs. Beijocas
a gente aqui tem tudo isso e mais alguns, como você sabe...mas tenho uma vizinha que na falta do que fazer anda alimentando umas pombas que apareceram por aqui. Sabe que outro dia, ao sair ao quintal, cagaram na minha cabeça?? Isso já é demais! Tô a fim de matar a vizinha e as pombas, o que vier antes...
vou te mandar as minhas formigas para você ver o que é avanço em doce!!!
Beijos
Lá no sítio do meu pai sempre aparece essas pererecas no banheiro. Eu que sou muito míope e, evidentemente, na hora da ducha tiro os óculos, fico morrendo de medo de ter uma por perto e pular em mim...
Você morava em Lauro de Freitas? Que delícia! Eu acho o máximo essa convivência inter-espécies nos centros urbanos, durante anos tive um morcego morando no meu telhado - lá na casa de Curitiba. Fiquei muito triste quando ele morreu.
Allan, sabe q hoje achei umas formiguinahs na minha cozinha? Serah q vieram via blog?
Oi Voltei! Apesar de estar com uma internet mais decente, é por celular, continua muito lento, daí só comentarei quando os dedos coçarem de verdade, mas estarei acompanhando sua carta italiana. Repare se as formigas começarem a dar a volta inteira pela casa: sinal de dinheiro grande chegando!
Boa Sorte! Angela (escritora)
" o rui já chegou"!...é ótimo.;0)
Ah! Allan, esse negócio de menino grande sentado no carrinho de bebê me incomodou e muito quando cheguei aqui na Alemanha. Tanto é que meu filho aos 2 anos e meio já nem sentava mais lá e a Viviane agora também com a mesma idade pouco senta-se ali. Tenho verdadeiro pavor de crianca preguicosa. Qto a bicharada dentro de casa, acho ótimo. Moramos em cidade quase grande mas rodeada por floresta e os bichinhos no verao vêm nos visitar na varanda. Os grilos e vagalumes fazem a festa e as criancas também. Eu simplpismente adoro e dou muita risada deitada da rede.
Abracos Georgia
Allan, no Rio também é comum ver uns garotos parrudos andando em carrinho de bebê. Nordestino acha que isso é preguiça. :)
Eu tinha um amigo de Camacari. Acho que fica bem pertinho de Lauro de Freitas.
Abracos
O melro não é mineiro, come-quieto. Saiu uma notícia que, segundo o IBGE, as pererecas estão em extinção em Sãp Paulo...
Que pacífica convivência! Formigas, pererecas e que tais, por aqui, nem sempre são tão bem educadas (ou somos nós, os [des]humanos, que nada sabemos de convivência?
Aprendi, quando andava de calças curtas e alisava bancos da escola, que "ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil". O inconsciente é fogo: agora quero acabar com os "sanguessugas" do Congresso Nacional, os "ratos" que corroem as entranhas dos Ministérios, as "raposas" que "emporcalham" o mundo político. Se, ao menos, não avançassem sobre nosso pobre dinheirinho com tanta avidez...
Allan, adorei este texto! Todo mundo tem uma história de animalzinho em casa. Nós tínhamos, durante anos, uma lagartixa (se era a mesma, nunca soubemos)a quem chamávamos de Filomena!Eu dizia às crianças que elas se alimentavam dos mosquitos e que eram importantes na cadeia alimentar. E quando nos mudamos, ao encontrar uma lagartixa, eles tiveram a mesma reação: "a Filomena também veio!" He he!
Eu sempre tive pavor das aranhas. Perereca no box do banheiro?? Nunca mais tomo banho ali!!!
O legal é ensinar as crianças que, se os animais invadem as casas, é porque não há alimento suficiente em seu habitat devastado pela açao humana.
Bom domingo!
abraço, garoto
Oi Alan! td bem? Estou em Ancona! e ai td bem? por aqui td bem! bjs
pensarei muito agora na varanda sobre lagartixas que não sobem a parede. muito perturbador isso. bratz!!
Antigamente, no interior, era comum ter cobra de estimação. Preferencialmente jibóias.
Bons tempos.
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