Numa das muitas palestras do professor Marins que assisti, lembro de um caso clássico, que ele não cansava de repetir. Vivendo entre os aborígenes da Austrália, chegou a participar de caçadas de emu, um pássaro similar ao avestruz, mas um pouco menor. Contava o antropólogo que na noite anterior a tribo ensaiava o que deveria acontecer com danças e representação, onde não faltava alguém no papel do animal, objetivo da caça. No dia seguinte saíam para o que haviam se preparado e treinado no ritual e ele, ainda não habituado a esse tipo de comportamento, indicava pegadas de outros animais. Os primitivos e decididos anfitriões respondiam-lhe que estavam caçando gnus e que ele não se importasse com outros indícios. O dia terminava como todos já sabiam que terminaria, com os aborígenes levando os emus abatidos para casa.
Para quem não entende de futebol, o técnico Carlos Alberto Parreira é como uma jaca colhida no interior da Bahia: alguns podem apreciar e reverenciar, mas não tem nada a ver com a caçada aos emus do outro lado do mundo. A seleção brasileira acaba de perder para o time da França e, com isso, foi eliminado da Copa do mundo de futebol. E essa é uma oportunidade para aprender algo.
Quando, em 1994, o mesmo técnico sagrou-se campeão com um time que não empolgou, todos criticaram o seu estilo. Até então não se vira uma seleção brasileira tão fora dos próprios padrões, jogando um futebol tão medíocre. Pois ele, abdicando das lições de coesão e espírito de equipe do técnico Luís Felipe Scolari, campeão com o mesmo Brasil no mundial de 2002, acabou cometendo o maior erro de todos: privilegiar as partes em detrimento do todo. Durante um mês treinou um time com as maiores estrelas do futebol obrigando-os a um esquema que valorizava talentos individuais e não o conjunto. Tudo corria na direção certa até enfrentar um time de verdade. Então ele mudou o esquema que havia criado e treinado, para permitir uma maior mobilidade dos jogadores sacrificados. Ora, ele saiu para caçar emus e no meio do caminho resolveu caçar capivaras, sem lembrar que não existem capivaras na Austrália. E muito menos na Alemanha, sede do mundial.
Posso entender que as pressões do patrocinador o tenham obrigado a manter o imenso Ronaldo em campo, apesar de visivelmente fora de forma, mas desconfio das suas boas intenções quando ele decide manter em campo o jogador Kaká, que declarou às tvs italianas estar fora das condições ideais de jogo, ou simplesmente muda o esquema ensaiado ao qual os jogadores foram condicionados. Gostaria de vê-lo treinando o Kwait, a China ou qualquer outra seleção longe do Brasil, assim como jacas e capivaras estão longe da Austrália.
Desde que me entendo por gente sou amante do futebol e não posso admitir o tipo de futebol proposto pelo técnico Parreira. Pelo menos não para a seleção brasileira. Prefiro perder mas jogar um futebol bonito de se ver, pois o futebol é espetáculo tanto quanto o teatro e o cinema. E eu pago para vê-lo: exijo um show à altura dos protagonistas.
Posso desculpar Marcelo Lippi que decidiu manter o jogador Totti em campo, apesar da sua condição inadequada, assim como Scolari está perdoado por levar à Copa um jogador como Figo, próximo à aposentadoria: faltam-lhes alternativas à altura. O que não acontece com um time como o do Brasil.
Agora é aguentar a gozação e torcer por Portugal.
Avante Scolari!
Se você é um dos que realmente não entende nada de futebol, talvez os vídeos abaixo possam esclarecer o que entendo por futebol arte.
Djalminha
Garrincha
Brazil soccer
12 comments:
Estás coberto de razão... que jogo mais feinho!!!
Feinho?? MEDÍOCRE! Só não perdemos antes por completa falta de sorte dos adversários... Parreira, vá para o inferno!!!
Pelo menos vamos nos livrar do Parreira, não?
Abraço.
No UOL há uma enquete em que, nesse momento, 78% dos internautas culpam Parreira. Essa busca ao culpado não me agrada muito.
O esquema tático seria outro, se o técnico fosse outro? Com certeza. Mas que o Brasil estava mambembe, desorientado e sem noção (como o Roberto Carlos arrumando o meião enquanto Henry cabeceava para o gol) foi de amargar.
Para quem se preparou - como eu - desde o primeiro jogo para essa fatalidade, até pode achar que o Brasil foi longe demais. O Brasil foi muito ruim desde o princípio. E - sem querer ser o advogado do diabo - é estranho, após a derrota, todo mundo responsabilizar o Parreira (a Sandra que me desculpe...:).
[Afinal de contas, parece que ninguém gostava do futebol burocrático do Parreira; mas, dado o sucesso de 94, suspeitavam que poderia acontecer o mesmo agora... e aí todo mundo lhe dava uma colherzinha de chá...]
E fica aí uma dúvida no ar: será que ele sai? Quem entra no lugar?
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Torço para Itália e Portugal passarem a final.
E viva Scolari!
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O gnu não é um bicho parecido com um boi?
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Excelentes vídeos. A hora de mostrá-los que foi péssima, heheheheheh...
Um abraço!
Bacana teu blog, boa sorte aí na Itália.....bjs
www.soso.omeu.com.br
Concordo em número, gênero e grau contigo, Allan!
Beijinhos
Nunca vi NENHUM jogo a não ser o de ontem onde um time só consegue chutar contra o gol adversário aos 45 min do segundo tempo.
Um abraço
Marco Aurélio
não entendo de futebol. Mas torci. Pela argentina, pelo brasil e agora torcerei por portugal. Apesar de não entender de regras de futebol, percebo quando um time tem gana de ganhar ou não. A argentina lutou até o fim. Nós perdemos o ânimo aos 5 minutos. Parece brinquedinho a pilha de camelô. Imita o de verdade mas a pilha acaba rapidinho rapidinho...
Itália x Portugal também seria a minha "final perfeita". Doeu no peito ver estes vídeos ainda de ressaca por ontem hehehe
Os filminhos ai são um show. E enquanto o resto do mundo copia a gente a gente copia o resto do mundo, ou ao menos o Parreira faz isso. E ainda copia mal. Bem, deixa pra la.
Obrigada Allan pelo carinho e apoio....Que bom que vc gostou e mais ainda que vc se interessou...é de pessoas assim que o mundo precisa e urgentemente...rs....Uma bela semana pra vc e te cuida.....Volte sempre.....bjs
It absolutely not agree
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