Caros e Caras,
Paz e saúde!
A revista Panorama (www.panorama.it) publicou há algum tempo, o resultado de uma pesquisa promovida pela União Europeia sobre comportamento e educação nos países da Comunidade. A chamada de capa apregoava que o italiano é o mais vulgar entre os povos europeus. Em uma outra edição a mesma revista publicou uma outra pesquisa. Desta vez, sobre formação e conhecimentos gerais. O resultado foi igualmente catastrófico.
A qualidade do ensino na Itália é coisa recente, segundo amigos e pais de outros alunos. Mas o salto dessa qualidade é inequívoco: Há dois anos minha filha estudava alguns pontos do Código de Hamurabi. Na quarta série do primeiro grau! …Por outro lado, tem aulas de religião. Num país que questiona a exposição de crucifixos em locais públicos, em respeito às outras religiões…
Como faz parte da cultura italiana o hábito de tentar ganhar no grito, não é de estranhar que garções e balconistas tenham uma atitude diferente da que geralmente encontramos no Brasil. Isso acontece, também, com os outros países europeus, cada um sob uma perspectiva diversa, mas sempre acreditando na própria superioridade. Precisa sair do Brasil para realmente entender o quanto somos servis e atenciosos.
Desde a época de Aníbal ou Gengis Khan acredita-se por estas plagas que a melhor defesa é o ataque. O que nos permite deduzir que certos tipos de comportamento são, na verdade, uma forma de defesa e de camuflar o próprio medo. A realidade é que se alguém gritar mais alto e com maior convicção, eles se recolhem e chegam a pedir desculpas. É um verdadeiro exercício de stress: você deve estar sempre pronto para responder a uma tentativa de intimidação. E às vezes os descobre tímidos.
Uma legião de solitários formou-se por falta de vontade, coragem ou iniciativa nas relações afetivas. São homens e mulheres na faixa superior aos trinta anos que ainda moram com os pais e saem pouco. Preocupam-se em trabalhar, comprar roupas e (acreditem!) jogar vídeo games. Tirar quinze dias de férias por ano em lugares exóticos (ou paraísos do turismo sexual: Cuba e Brasil, para os homens e países africanos para as mulheres) e trocar de carro no máximo a cada dois anos. Talvez juntar umas economias para comprar uma casa. Talvez.
Na outra ponta, a vulgaridade. Que é generalizada, como uma máscara que todos fazem questão de assumir. Um sinal de moderna rebeldia e independência, mas que não ultrapassa os limites do próprio círculo de amizades. É uma máxima italiana nos dias de hoje: “Eu só tenho certeza da existência desta vida. Quero poder gozá-la em todas as suas possibilidades!” (Mas lotam as igrejas nos domingos).
Independentemente da situação, o próprio modo de falar do italiano médio impede-o de ser mais rebelde do que gostaria: “lei”, em italiano, é a tradução de “ela”. Mas “Lei”, com L maiúsculo, é um tratamento de cortesia, na terceira pessoa do singular, como um dia foi o nosso “você” (corruptela de Vossa Mercê). Dois italianos adultos que não se conheçam ou que não tenham intimidade, usarão sempre “Lei” entre eles, nunca o “tu”. Assim como o mesmo italiano jamais dirá: “o chefe taí?”. Mas: “por favor, me faça falar com o responsável”. É óbvio que ele pode gritar, mas gritará a segunda opção.
Rebeldia ou formalidades? Vulgaridades ou devoção religiosa? Timidez ou arrogância?
…É! Apesar de gostar muito de massa o estilo italiano é, na realidade, uma grande salada, onde se mistura o sacro com o profano. Sem o mesmo charme de uma Lavagem do Bonfim, na Bahia, por exemplo, mas com muito mais devoção.
Ciao.
13 comments:
Allan, seu blog virou leitura obrigatória.
Obrigado por linkar o PrasCabeças, tá?
Sua descrição breve acerca do modo de falar dos italianos, relacionando isso com o temperamento, a formação acadêmica, as tradições, invasões e... por fim, fazendo uma comparação com a nossa (brasileira) maneira de nos expressarmos, é pura Antropologia aplicada! Tô só aprendendo.... Minha mulher (psicóloga) ficou horas lendo e degustando -com os olhos- as receitas! Até breve.
Concordo com o Claudio acima: teu blog virou leitura obrigatória. O mais engraçado é que você (de maneira sutil) nos obriga a observar nosso próprio comportamenteo, comparando-o com o dos italianos.
...E isso é ótimo e divertido.
Abração do teu fã,
Lenine.
Allan,
A diferença está no fato de que ao menos a educação mudou. E, pelo que você conta, mudou para melhor. Já havíamos ouvido falar sobre os europeus adultos que continuam a residir com os pais, mas não podíamos imaginar que fosse uma característica social que chamasse tanta atenção assim. Cremos que resta pouco mais que tentar ganhar no grito, nessas condições.
Abraços,
Frank & Gaia
Allan, não entendo esta brutal estranheza com relação às pessoas com mais de 30 anos que resolvem continuar morando com os pais. Aqui no Brasil tem sido assim também, e já li algumas reportagens a este respeito, na Veja, etc. Meus pais estranham o fato de eu, com 24 anos, ainda morar com eles. Mas meu pai não serve de parâmetro: saiu de casa aos 10 p/ estudar num colégio interno. E te digo uma coisa, a maioria de minhas amigas não planeja (almeja), tão cedo, sair da casa dos pais, o mesmo com relação aos meninos. Mas o problema que vejo, pelo menos no nosso país, é que aqui as pessoas simplesmente não têm dinheiro. É isso aí, minha opinião. Só prá constar, sou filha do Cláudio Costa, do Prás Cabeças, e realmente seu blog virou leitura obrigatória na net. Parabéns!
Abç
Ana Letícia
Allan,
Somente quem já viveu uma experiência no exterior pode entender que os estereótipos que fazemos sobre a Europa são tão equivocados quanto aqueles que os europeus têm a nosso respeito. Não somos o fim do mundo, como eles pensam, assim como eles não são tão adiantados quanto pensamos nós. E às vezes nos assustamos com isso.
Abração,
Luis Becker
Allan, concordo com vc (no comment q deixou no Prás Cabeças). A mudança dos tempos modificou muito esta visão do "aprender na marra"... Não sei se por causa da violência que nos cerca, etc. Mas a opção de vida da qual falou, por medo, timidez, etc, realmente é, creio eu, um reflexo da educação dada àqueles adultos, enquanto ainda crianças... excesso de proteção, excesso de amor? Mas aí a questãoi já está pendendo prum aspecto muito "psi" prá minha formação... Esta seria mais uma missão p/ o papai...
No mais, é só.
Valeu pela resposta!
Abçs
Ana Letícia (analeticiacosta@adv.oabmg.org.br)
Amigo Allan,
O verdadeiro problema não é vc ainda morar com seus pais, pois isso pode ser fruto de diversas contingências, mas quando o seu filho ainda morar com vc, mesmo depois de adulto. Ai...!
Méecia
Caro Allan,
Foi com muito prazer que descobri o seu blog por acaso. Cada vez que um cliente se torna meu amigo, lembro do que você me ensinou. Parte considerável do meu sucesso devo a você e da sua cordialidade. Como amigo e professor, inicialmente, e como cliente e amigo de sempre.
Quando voltar a Salvador, saiba que o meu carangueijo continua como você gosta, e a cerveja é sempre a mais gelada da orla. Tin Tin!
Abração do amigo Jacirandy.
Ráááá!!!!
(te assustei?)
pedroluis
Ouvi dizer e vim conferir. Vim, li e gostei. Vou recomendar. Volto. Elogio também: PARABENS!
(Seu blog está virando ponto de referência.)
Lilian lilian@facceba.com.br
Ciao Allan!
Imagina que o pessoal aqui na loja ficavam desconfiados porque eu era gentil... achavam que tinha "alguma coisa por tras disto" ! Até que eu mesma percebi que era so' porque estavam acostumados a serem tratados mal nas lojas...
De qualquer jeito, aprendi com muito sofrimento a 'gritar' também, pra' nao ser esmagada pelos prepotentes!
Um beijao meio grudento (que calor!)
Daiza
Allan,
Sutilmente você tocou num ponto crítico: realmente o brasileiro é muito servil.
abs
Diogo diogom@uol.com.br
Tenho a impressão de estar lendo os relatos do último (único?) dândi brasileiro. O que vc está fazendo no esterior????? Bom, pensando bem, morando na Itália...
Raphael Pampilli Neto
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