Sunday, June 04, 2023

Trilha sonora italiana - Pino Daniele - Napule è


 

Pino Daniele era um músico de muito sucesso na Itália, falecido em 2015, com sessenta anos. Sua música mais famosa, “Napule è”, foi lançada em 1977 no seu primeiro disco, quando havia apenas dezoito anos. Toca nas rádios ainda hoje. O curioso é que ele cantava muito em dialeto napolitano. 

Abaixo, deixo a letra em napolitano, traduzida em italiano e em português. No vídeo acima, um dueto dele com Pavarotti. 

Napule è (em dialeto napolitano) 

Napule è mille culure 
Napule è mille paure 
Napule è a voce de' criature 
Che saglie chianu chianu 
E tu sai ca' non si sulo 

Napule è nu sole amaro 
Napule è addore e' mare 
Napule è na' carta sporca 
E nisciuno se ne importa 
E ognuno aspetta a' sciorta 

Napule è na' camminata 
Int'e viche miezo all'ate 
Napule è tutto nu suonno 
E a' sape tutto o' munno 
Ma nun sanno a' verità 

Napule è mille culture 
(Napule è mille paure) 
Napule è nu sole amaro 
(Napule è addore e' mare) 
Napule è na' carta sporca 
(E nisciuno se ne importa) 
Napule è na' camminata 
(Int' e viche miezo all'ate) 
Napule è mille culure 
(Napule è mille paure) 
Napule è nu sole amaro 
(Napule è addore e' mare) 

 (em italiano) 
Napoli è mille colori 
Napoli è mille paure 
Napoli è la voce dei bambini 
che sale piano piano 
e tu sai che non sei solo 

Napoli è un sole amaro 
Napoli è odore di mare 
Napoli è una carta sporca 
e nessuno se ne importa 
e ognuno aspetta la fortuna 

Napoli è una passeggiata 
nei vicoli, in mezzo agli altri 
Napoli è tutto un sogno 
e la conosce tutto il mondo 
ma non conoscono la verità 

Napoli è mille colori 
Napoli è mille paure 
Napoli è un sole amaro 
Napoli è odore di mare 
Napoli è una carta sporca 
e nessuno se ne importa 

Napoli è una passeggiata 
nei vicoli, in mezzo agli altri 
Napoli è mille colori 
Napoli è mille paure 
Napoli è un sole amaro
Napoli è odore di mare

 (em português)

Nápoles é mil cores 
Nápoles é mil medos 
Nápoles é a voz das crianças 
que sobem devagarinho 
E você sabe que não está sozinho 

Nápoles é um sol amargo 
Nápoles é o cheiro do mar 
Nápoles é um papel sujo 
e ninguém se importa 
e todos esperam pela sorte 

Nápoles é um passeio 
nos becos, no meio dos outros 
Nápoles é tudo um sonho 
e sabem disso em todo o mundo 
mas não sabem a verdade 

Nápoles é mil cores 
Nápoles é mil medos 
Nápoles é um sol amargo 
Nápoles é o cheiro do mar 
Nápoles é um papel sujo 
e ninguém se importa 

Nápoles é um passeio 
nos becos, no meio dos outros 
Nápoles é mil cores 
Nápoles é mil medos 
Nápoles é um sol amargo 
Nápoles é o cheiro do mar

Tuesday, March 07, 2023

Parmigiano Reggiano x Grana Padano

 





 

A confusão começou com uma lei de 1954 que instituiu as denominações dos muitos queijos produzidos no território italiano. Até então o termo “grana” era muito abrangente, apesar de designar somente os queijos de leite de vaca produzidos com técnicas similares, cujo produto era um queijo maturado de pasta granulosa (daí o nome grana), típicos da Planície Padana. Foi então solicitado o reconhecimento da denominação de origem Grana Padano, por ser esta a que melhor representava a vasta região geográfica dos diversos tipos de queijo mais ou menos iguais.

Qualquer produtor que desejasse usar o termo grana passo a ter que submeter-se às regras de produção do Consórcio Grana Padano DOP (Denominação de Origem Protegida), respeitar todas as características e obedecer ao processo de produção, além de situar-se nas zonas tradicionais. A verificação, controle periódico e autorização do uso do termo ficam a cargo do Consórcio de Tutela do Queijo Grana Padano, que é muito rigoroso. Por outro lado, o duque de Parma, Ranuccio Farnese I, em 1612, oficializou a denominação de origem dos queijos produzidos numa zona que compreendia Parma e outras poucas localidades como “Queijos de Parma”. O Grana Padano, por sua vez, é produzido numa área muito mais ampla, abrangendo diversas províncias das regiões Piemonte, Lombardia, Emilia-Romanha, Vêneto e Trentino Alto-Adige. Existem outros queijos grana além dos dois mais famosos, só não podem usar partes das marcas Grana Padano e Parmigiano Reggiano.

Fora isso, existem pequenas e sutis diferenças entre os dois queijos italianos mais consumidos: O Parmigiano leva somente leite, coalho e sal. O Padano tem que adicionar o conservante lisozima (descoberto por Alexander Fleming, o mesmo que descobriu a penicilina). Isso porque aos produtores do Padano é permitido o uso de forragem ensilada, que pode desenvolver bactérias, o que não acontece com o Parmigiano, que só permite o uso de forragens frescas ou secas. Mas a grande diferença entre os dois é o local de produção. Mesmo entre os diversos produtores do Parmigiano, em número infinitamente inferior aos do Padano e concentrados numa área também muito menor, as diferenças existem. E no Padano, então, nem se fala. Um queijo produzido com leite de vacas alimentadas com feno fresco das montanhas, no período da transumância, é diferente do queijo produzido na planície, por exemplo. Repare na existência de um número impresso a fogo nas formas dos queijos grana. Esses números indicam o queijeiro que o produziu. Mas tudo isso traz diferenças sutis, perceptíveis somente por quem opera no setor ou com os sentidos de olfato e gosto muito, mas muito refinados.

Um teste proposto durante encontros com clientes, quando então eu era gerente de produtos frescos numa cooperativa de compras de uma rede de supermercados, era a de promover testes de degustação cega (não fui eu que inventei o teste, apenas tive que seguir uma tradição antiga). Ou seja, os participantes não sabiam o que estavam provando. Nessa prova mostrávamos duas formas, uma de Grana Padano e outra de Parmigiano Reggiano e cortávamos na frente deles. Escolhíamos um pedaço de cada forma e, a partir daí, dividíamos os pedaços escolhidos protegidos dos olhares de todos. Em seguida servíamos pedaços retirados do centro de um dos dois queijos. Os degustadores deveriam preencher um breve questionário sobre as características do que tinham acabado de consumir. Um pouco de água e pão para limpar a boca e a segunda rodada começava. Servíamos, então, lascas do mesmo pedaço, mas da parte mais próxima à crosta e a avaliação se repetia. Não havia nenhum mal-estar, pois os resultados nunca eram divulgados. Resumo: nos oito anos em que trabalhei lá, nenhum italiano demostrou saber diferenciar um do outro, mesmo consumindo o produto – provavelmente – todos os dias.

Portanto, anote aí: Parmigiano Reggiano e Grana Padano são queijos do tipo grana. Agora, o vinho...

Observe as respectivas zonas de produção no mapa.



 

Tuesday, January 17, 2023

INVERNO?

 

A primeira neve de novembro não caiu.

Dezembro passou e não trouxe o frio.

Janeiro, coitado, é um outono atrasado.

Prometeram que iria nevar.

Promessas, quem há de acreditar?

Quando a noite acorda a luz da rua

Parece que chegou o inverno.

Esclarecido pela luz da Lua,

Lembro, julho será um inferno.

Quando o calor chegar

E a seca inundar a plantação,

Pode apostar:

Vai ter migração.

Nos leitos secos dos rios

Mensagens em rochas irão brotar,

Contando de tempos sombrios,

E as gentes irão chorar.

Sobra rima.

Falta solução.

Friday, December 16, 2022

A seca no planeta Piacenza

         Os esquimós saberão o nome da neve desses dias. É uma neve fininha, fininha, que cai de madrugada. De tão fina, derrete assim que toca o asfalto. “Chuviscou”, dirão os que se levantam depois das sete.

Nas primeiras semanas de novembro ainda dormíamos com ventilador. O resto do mês foi reservado ao inverno, prepotente que não nos permitiu o outono. E agora, neve. Fininha, mas sempre neve é. Ah, e ainda tem o vento. Aquele vento pelo qual rezamos no verão e que chega sempre atrasado. Esta semana a temperatura subiu e atingimos os oito graus positivos. Não sob o sol, que não dá as caras tem dez dias. Chás, vontade de chocolate quente e aquecimento ligado.

Piacenza não é uma cidade de pouco mais de cem mil habitantes. Tampouco uma região. Piacenza é um mundo à parte, capaz de sobreviver isolada do planeta. Se a neblina autóctone decidisse isolar a província perenemente, ainda assim Piacenza sobreviveria. Sim, a neblina – assim como não poucas uvas – são produtos exclusivos daqui.

O resto do mundo deveria viver como em Piacenza e não teríamos os problemas climáticos que enfrentamos hoje. Os bosques são preservados e a caça é regulamentada (não que eu aprove a caça, não aprovo); mel não falta; a pecuária de leite funciona a todo vapor; o pequeno agricultor é um dos pilares da economia local; temos frutas e verduras frescas, queijos, grãos, carnes e ensacados; o vinho, ...Ah, o vinho!

O risco de ver tudo isso desaparecer, porém, tem assustado o povo daqui. Com o verão invadindo o que deveria ter sido o outono as montanhas não congelam. O frio chegou tarde. Se a temperatura não diminui no momento certo, a neve acaba isolando a montanha que, desse modo não congela mais. Pode nevar o quanto for, vai tudo derreter logo no início da primavera, privando o verão – e a agricultura e o abastecimento das casas e... – de água. Os muitos riachos, córregos e o nosso amado rio Trebbia permaneceram secos no verão passado. E, é claro, a neve derretida toda de uma vez causou danos.

Caso as montanhas não congelem, teremos que racionar água novamente. A seca aqui foi braba, esse ano. Mais de duzentos dias sem chuva e nada de neve derretendo para suprir as nascentes. Precisamos de água para o nosso mundo não perecer.

Por tudo isso eu peço a vocês, que não fazem parte desse mundo perdido entre a planície nebulosa e as montanhas vinícolas: não desperdicem água. Bebam vinho.

Friday, August 26, 2022

Gastronomia e música estrangeira

             Absorver uma nova cultura é fascinante, mas demanda tempo. Passei algum tempo aprendendo a comer pisarei e fasö e tortelli di zucca. Confesso que faltou coragem com a picul ad caval.

Pisarei e fasö é o prato piacentino por excelência. Como manda a tradição, é uma receita pobre, de aproveitamentos. Pisarei é uma massa à base de pão velho e fasö é feijão, no dialeto piacentino. Servido com abundante molho de tomate com cebola e toucinho de porco, está presente em todas as casas e nas muitas festas espalhadas pela província (ô povo pra gostar de festa!). Picul ad caval é carne moída de cavalo com cebola, cenoura, pimentão e, é claro, o “ouro piacetino” pistà ad grass: toucinho batido com alho e salsinha. Já os tortelli di zucca é uma massa recheada com abobora, ricota, grana, salvia, manteiga e noz moscada. Nos casos dos pisarei e fasö e tortelli di zucca, me incomodava o sabor adocicado. Aprendi a gostar e hoje procuro nas festas. Já a picul ad caval não tenho vontade nem coragem de comer carne de cavalo.

Pelo lado cultural, também tive um início de relação conflituosa com Lucio Battisti, o músico que, segundo David Bowie, era o maior cantor pop do mundo, junto a Lou Reed.  Battisti é endeusado por aqui. Merecidamente, concordo agora.

Falecido em 1998 com apenas 55 anos, vendeu 25 milhões de discos. Tendo escrito, composto e produzido para outros músicos, exerceu enorme influência no que veio depois. A parceria com Mogol – grande autor do universo musical italiano (lembra de “Minha História” do Chico?) – foi o auge da sua carreira.

Pesquise Lucio Battisti nessa rede, se tiver curiosidade. Vale a pena. Levei um tempo para dizer isso, mas digo com sinceridade: vale a pena, Lucio Battisti vai ser sempre um monstro sagrado da Música. Da Itália e do mundo.

Deixo aqui a letra e a tradução (minha) de uma das músicas que gosto. Não a que mais gosto, pois sou avesso a listas de preferências.

 

Emozioni

Lucio Battisti e Mogol

 

Seguir con gli occhi un airone sopra il fiume e poi
Ritrovarsi a volare
E sdraiarsi felice sopra l'erba ad ascoltare
Un sottile dispiacere
E di notte passare con lo sguardo la collina per scoprire
Dove il sole va a dormire
Domandarsi perché quando cade la tristezza in fondo al cuore
Come la neve non fa rumore

E guidare come un pazzo a fari spenti nella notte per vedere
Se poi è tanto difficile morire
E stringere le mani per fermare qualcosa che è dentro me
Ma nella mente tua non c'è

Capire tu non puoi
Tu chiamale se vuoi emozioni
Tu chiamale se vuoi emozioni

Uscir dalla brughiera di mattina dove non si vede ad un passo
Per ritrovar se stesso
Parlar del più e del meno con un pescatore per ore ed ore
Per non sentir che dentro qualcosa muore
E ricoprir di terra una piantina verde sperando possa
Nascere un giorno una rosa rossa

E prendere a pugni un uomo solo perché è stato un po' scortese
Sapendo che quel che brucia non son le offese
E chiudere gli occhi per fermare qualcosa che
È dentro me
Ma nella mente tua non c'è

Capire tu non puoi
Tu chiamale se vuoi emozioni
Tu chiamale se vuoi emozioni

 

(Tradução)

 

Seguir com os olhos uma garça sobre o rio e depois

Descobrir-se voando

Deite-se feliz sobre a grama ouvindo

Um descontentamento sutil

E à noite passear com os olhos a colina para descobrir

Onde o sol vai dormir

Perguntar-se por que quando a tristeza bate fundo no peito

Por que a neve não faz barulho?

E dirigir como um louco sem farol à noite para ver

Se é afinal tão difícil morrer

E apertar as mãos para deter algo dentro de mim

Mas que na tua mente não há

Entender você não pode

Tu chame-las se quiser, emoções.

Tu chame-las se quiser, emoções.

Sair do pântano pela manhã, onde não se vê um passo

Para reencontrar-se

Jogar conversa fora com um pescador por horas a fio

A fim de não sentir que por dentro algo morre

E cobrir uma muda verde com a terra esperando que possa

Um dia nascer uma rosa vermelha

E socar alguém só porque foi um pouco rude

Sabendo que o que machuca não são as ofensas

E fechar os olhos para deter algo dentro de mim

Mas que na tua mente não há

Entender você não pode

Tu chame-las se quiser, emoções.

Tu chame-las se quiser, emoções.

https://www.youtube.com/watch?v=prve6-_j834

Monday, April 25, 2022

Bella Ciao - 25 de abril

Hoje, 25 de abril, comemora-se a liberação italiana do nazifascismo. É uma data simbólica, escolhida por ter sido nesse dia, em 1945, que se iniciou a retirada dos soldados alemães e da República de Salo de Milão e Turim, como consequência do rompimento da “Linha Gótica” por parte dos aliados e da resistência italiana.

Neste feriado, assim como no dia 1° de Maio, por toda a Itália ouve-se aquela que se tornou o hino da Resistência: Bella Caio.

Bella Ciao é uma canção que se tornou popular vinte anos após a Segunda Guerra e não chegou a ser cantada pela Resistência italiana, durante a guerra.

A melodia, na verdade, tem origens mais antigas, aparentemente aproveitando-se de partes de outras músicas e adaptando-as. Em 1919, o acordeonista Mishka Ziganoff (Odessa, Ucrânia, 18889 – Nova Iorque, EUA, 1967) gravou o disco “Klezmer-Yiddish swing music”, no qual há uma peça com uma melodia muito próxima à de Bella Ciao, mas não teria sido a única a fornecer inspiração àquela italiana. Do mesmo modo, a letra sofreu – e sofre ainda, dependendo de quem a canta – modificações no tempo. Há, ainda, a versão cantada pelas mulheres emilianas (da região Emilia-Romagna) que iam trabalhar nas plantações de arroz na região Piemonte. Nessa versão, “bela ciao” faz alusão ao fato de perderem a juventude no trabalho no campo. Em poucas palavras, não existe nenhum registro da origem da música. É um canto popular.

O certo é que Bella Ciao é uma tradição inventada. A letra que a tornou famosa foi pensada para unificar as lutas contra os invasores, não faz nenhuma referência a lutas de classes, partidos políticos ou guerra específica, justamente para não excluir qualquer parte. Tornou-se célebre a partir de 1964, após um festival de música em Spoleto, na província de Perugia, região da Úmbria, quando a canção abriu o festival na versão camponesa e foi apresentada na versão partigiana (a resistência formada por civis), no final.

A letra mais cantada é a que segue.

Una mattina mi sono alzato
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Una mattina mi sono azalto
E ho trovato l'invasor

O partigiano, portami via
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
O partigiano, portami via
Ché mi sento di morir

E se io muoio da partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E se io muoio da partigiano
Tu mi devi seppellir

E seppellire lassù in montagna
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E seppellire lassù in montagna
Sotto l'ombra di un bel fior

Tutte le genti che passeranno
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E le genti che passeranno
Mi diranno "che bel fior"

È questo il fiore del partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
È questo il fiore del partigiano
Morto per la libertà

È questo il fiore del partigiano
Morto per la libertà

 

* * *

A seguir, a versão camponesa.

Alla mattina appena alzata
o bella ciao bella ciao
bella ciao ciao ciao
alla mattina appena alzata
in risaia mi tocca andar.

E fra gli insetti e le zanzare
o bella ciao bella ciao
bella ciao ciao ciao
e fra gli insetti e le zanzare
un dur lavor mi tocca far.

Il capo in piedi col suo bastone
o bella ciao bella ciao
bella ciao ciao ciao
il capo in piedi col suo bastone
e noi curve a lavorar.

O mamma mia, o che tormento!
o bella ciao bella ciao
bella ciao ciao ciao
o mamma mia o che tormento
io t’invoco ogni doman.

Ed ogni ora, che qui passiamo
o bella ciao bella ciao
bella ciao ciao ciao
Ed ogni ora, che qui passiamo
Noi perdiam la gioventù

Ma verrà un giorno che tutte quante
o bella ciao bella ciao
bella ciao ciao ciao
ma verrà un giorno che tutte quante
lavoreremo in libertà.

* * *

E a gravação de 1919.


Wednesday, February 16, 2022

Embaçando o mundo

Flutuava o ano de 1.000.0218 a.C. quando, aqui pertinho, naquilo que um dia viria a ser parte da província de Piacenza, mas que ainda eram apenas uns pontinhos de terra naquele mundaréu de água, foi inventada a neblina.

Hoje somos os maiores exportadores de neblina do mundo. E planejamos viagens espaciais para levá-la muito, muito além.

Se você vive onde não há neblina, não sabe o que está perdendo. Também não se perderá, que é a parte divertida. A neblina modifica a geografia, esconde os sorrateiros, camufla sonhos, prega sustos, abraça suspiros.

Nem todo outono e inverno tem neblina. Aliás, ela está ficando cada vez mais rara. A exceção foi esse ano, quando ela começou em novembro e ainda nessas madrugadas de fevereiro vem nos visitar. Gosto de ir às montanhas e colinas da província em dias de neblina. Do alto vê-se todos os vales cobertos por um estrato branco e o céu limpo acima da vida lá embaixo, menos frenética que o normal. Prefiro neblina de noite, quando saio para fumar um charuto e me divirto com os sustos. Meus e dos outros.

Dirigir com neblina é mais perigoso que com neve. Na neve o motorista sabe que tem que ir devagar e obedecer às práticas aconselhadas. Além dos pneus de neve. E, se não souber, a viagem acaba rapidinho. Com a neblina a única prática segura é deixar o carro na garagem.

Hoje amanheceu com uma neblina braba. Felizmente a neve de ontem já derreteu. Aqui na cidade, que nas colinas e montanhas o frio preserva a neve. Vou sair e brincar com a geografia, sonhar com alguma praia ensolarada e suspirar. Escondido na neblina.