DENOMINAZIONE DI ORIGINE INVENTATA Alberto Grandi (Mãntua, Itália – 1967) é um professor associado da Universidade de Parma. Ensina História das Empresas, História da Integração Europeia, História Econômica e História da Alimentação. Publicou diversas teses, artigos e livros, ficou famoso ao publicar em janeiro de 2018 “DOI – Denominazione di Origine Inventata”, livro que rapidamente transformou-se num best-seller. O sucesso foi tão grande que nasceu um podcast (em Italiano) com o mesmo nome, que já chegou à terceira estação.
Carta da Itália
A Itália vista por um brasileiro. As diferenças culturais, descobertas e sabores, com uma pitada de bom humor (às vezes).
Thursday, November 23, 2023
DOI Denominação de Origem Inventada - DOI Denominazione di Origine Inventata
DENOMINAZIONE DI ORIGINE INVENTATA Alberto Grandi (Mãntua, Itália – 1967) é um professor associado da Universidade de Parma. Ensina História das Empresas, História da Integração Europeia, História Econômica e História da Alimentação. Publicou diversas teses, artigos e livros, ficou famoso ao publicar em janeiro de 2018 “DOI – Denominazione di Origine Inventata”, livro que rapidamente transformou-se num best-seller. O sucesso foi tão grande que nasceu um podcast (em Italiano) com o mesmo nome, que já chegou à terceira estação.
Sunday, July 16, 2023
Cardápio sazonal italiano
Uma amiga escreveu sobre cardápio semanal de
restaurantes de São Paulo (Segunda: virado à paulista; terça:
dobradinha ou bife a rolê; quarta: feijoada; quinta: massa; sexta: peixe; sábado:
feijoada) e lembrei de uma
atitude que sempre me intrigou. Por que comemos feijoada no verão? Vejam bem,
sou carioca e adoro feijoada. Ia ao Largo da Carioca (ou na Lapa, ou em Santa
Teresa, ou no CADEG...) comer feijoada em qualquer época do ano. É costume
local e não abria mão, mas eu tinha vinte anos.
Nem pense em pedir um ‘cacciucco ala livornese’ ou uma
‘ribollita’ em restaurantes italianos, no verão (ou um ‘einsben’ ou ‘kassler’
na Alemanha). São pratos de inverno. Vão te prender na mesma cela dos
estrangeiros que pedem capuccino depois do almoço e dos que põem ketchup na
pizza. Aqui os restaurantes têm, pelo menos, dois cardápios: de inverno e de
verão. E não só pela sazonalidade dos vegetais, mas principalmente pelo clima.
A oferta de chocolate nos supermercados, por exemplo, é muito reduzida a partir
da metade da primavera e vai até o a metade do outono.
O Natal brasileiro é a época em que comemos castanhas
portuguesas, longos assados, carne defumada e muito, muito doce. Assim como no
hemisfério norte.
As trattorias e osterias são as melhores opções para
se comer bem, na Itália. Além de ‘pasta in bianco’ (sem molho) e um ou outro
prato típico, o menu é montado pela manhã, depois que a cozinheira ou
cozinheiro voltar do mercado. A escolha do que comprar leva em consideração os
produtos da época e o preço. Nessa ordem.
Um amigo italiano contou que foi visitar a filial brasileira da multinacional em que trabalha. Um rapaz simpático foi designado para ser seu cicerone. No último dia o acompanhante programou um jantar num restaurante e aproveitou para levar a esposa. “Você não pode sair do Brasil sem conhecer o prato típico da nossa cultura.” E lá foi o gringo se esbaldar com a nossa feijoada. Do restaurante foram direto para o aeroporto para as quase doze horas de viagem, quando se despediram. E do aeroporto italiano direto para o hospital. “A minha vingança será terrível”, disse. Vai se frustrar, brasileiro não dá bola para sazonalidade. Mesmo que passe mal.
Receita de cacciucco alla livorneseTuesday, June 13, 2023
Shiva - 15.4.2014 / 12.6.2023
Sunday, June 04, 2023
Trilha sonora italiana - Pino Daniele - Napule è
Tuesday, March 07, 2023
Parmigiano Reggiano x Grana Padano
A confusão começou
com uma lei de 1954 que instituiu as denominações dos muitos queijos produzidos
no território italiano. Até então o termo “grana” era muito abrangente,
apesar de designar somente os queijos de leite de vaca produzidos com técnicas
similares, cujo produto era um queijo maturado de pasta granulosa (daí o nome grana),
típicos da Planície Padana. Foi então solicitado o reconhecimento da
denominação de origem Grana Padano, por ser esta a que melhor representava a
vasta região geográfica dos diversos tipos de queijo mais ou menos iguais.
Qualquer produtor
que desejasse usar o termo grana passo a ter que submeter-se às regras
de produção do Consórcio Grana Padano DOP (Denominação de Origem Protegida),
respeitar todas as características e obedecer ao processo de produção, além de
situar-se nas zonas tradicionais. A verificação, controle periódico e
autorização do uso do termo ficam a cargo do Consórcio
de Tutela do Queijo Grana Padano, que é muito rigoroso. Por outro lado, o duque
de Parma, Ranuccio Farnese I, em 1612, oficializou a denominação de origem dos
queijos produzidos numa zona que compreendia Parma e outras poucas localidades
como “Queijos de Parma”. O Grana Padano, por sua vez,
é produzido numa área muito mais ampla, abrangendo diversas províncias das
regiões Piemonte, Lombardia, Emilia-Romanha, Vêneto e Trentino Alto-Adige. Existem
outros queijos grana além dos dois mais famosos, só não podem usar partes das
marcas Grana Padano e Parmigiano Reggiano.
Fora isso, existem
pequenas e sutis diferenças entre os dois queijos italianos mais consumidos: O
Parmigiano leva somente leite, coalho e sal. O Padano tem que adicionar o
conservante lisozima (descoberto por Alexander Fleming, o mesmo que descobriu a
penicilina). Isso porque aos produtores do Padano é permitido o uso de forragem
ensilada, que pode desenvolver bactérias, o que não acontece com o Parmigiano,
que só permite o uso de forragens frescas ou secas. Mas a grande diferença
entre os dois é o local de produção. Mesmo entre os diversos produtores do
Parmigiano, em número infinitamente inferior aos do Padano e concentrados numa
área também muito menor, as diferenças existem. E no Padano, então, nem se
fala. Um queijo produzido com leite de vacas alimentadas com feno fresco das
montanhas, no período da transumância, é diferente do queijo produzido na
planície, por exemplo. Repare na existência de um número impresso a fogo nas
formas dos queijos grana. Esses números indicam o queijeiro que o produziu.
Mas tudo isso traz diferenças sutis, perceptíveis somente por quem opera no
setor ou com os sentidos de olfato e gosto muito, mas muito refinados.
Um teste proposto durante
encontros com clientes, quando então eu era gerente de produtos frescos numa
cooperativa de compras de uma rede de supermercados, era a de promover testes
de degustação cega (não fui eu que inventei o teste, apenas tive que seguir uma
tradição antiga). Ou seja, os participantes não sabiam o que estavam provando.
Nessa prova mostrávamos duas formas, uma de Grana Padano e outra de Parmigiano
Reggiano e cortávamos na frente deles. Escolhíamos um pedaço de cada forma e, a
partir daí, dividíamos os pedaços escolhidos protegidos dos olhares de todos.
Em seguida servíamos pedaços retirados do centro de um dos dois queijos. Os
degustadores deveriam preencher um breve questionário sobre as características
do que tinham acabado de consumir. Um pouco de água e pão para limpar a boca e
a segunda rodada começava. Servíamos, então, lascas do mesmo pedaço, mas da
parte mais próxima à crosta e a avaliação se repetia. Não havia nenhum mal-estar,
pois os resultados nunca eram divulgados. Resumo: nos oito anos em que
trabalhei lá, nenhum italiano demostrou saber diferenciar um do outro, mesmo
consumindo o produto – provavelmente – todos os dias.
Portanto, anote aí:
Parmigiano Reggiano e Grana Padano são queijos do tipo grana. Agora, o vinho...
Observe as respectivas zonas de produção no mapa.
Tuesday, January 17, 2023
INVERNO?
A
primeira neve de novembro não caiu.
Dezembro
passou e não trouxe o frio.
Janeiro,
coitado, é um outono atrasado.
Prometeram
que iria nevar.
Promessas,
quem há de acreditar?
Quando
a noite acorda a luz da rua
Parece
que chegou o inverno.
Esclarecido
pela luz da Lua,
Lembro, julho será um inferno.
Quando
o calor chegar
E
a seca inundar a plantação,
Pode
apostar:
Vai
ter migração.
Nos
leitos secos dos rios
Mensagens
em rochas irão brotar,
Contando
de tempos sombrios,
E
as gentes irão chorar.
Sobra
rima.
Falta
solução.
Friday, December 16, 2022
A seca no planeta Piacenza
Os esquimós saberão o nome da neve desses dias. É uma neve fininha, fininha, que cai de madrugada. De tão fina, derrete assim que toca o asfalto. “Chuviscou”, dirão os que se levantam depois das sete.
Nas
primeiras semanas de novembro ainda dormíamos com ventilador. O resto do mês
foi reservado ao inverno, prepotente que não nos permitiu o outono. E agora,
neve. Fininha, mas sempre neve é. Ah, e ainda tem o vento. Aquele vento pelo
qual rezamos no verão e que chega sempre atrasado. Esta semana a temperatura
subiu e atingimos os oito graus positivos. Não sob o sol, que não dá as caras
tem dez dias. Chás, vontade de chocolate quente e aquecimento ligado.
Piacenza
não é uma cidade de pouco mais de cem mil habitantes. Tampouco uma região.
Piacenza é um mundo à parte, capaz de sobreviver isolada do planeta. Se a
neblina autóctone decidisse isolar a província perenemente, ainda assim
Piacenza sobreviveria. Sim, a neblina – assim como não poucas uvas – são
produtos exclusivos daqui.
O
resto do mundo deveria viver como em Piacenza e não teríamos os problemas
climáticos que enfrentamos hoje. Os bosques são preservados e a caça é
regulamentada (não que eu aprove a caça, não aprovo); mel não falta; a pecuária
de leite funciona a todo vapor; o pequeno agricultor é um dos pilares da
economia local; temos frutas e verduras frescas, queijos, grãos, carnes e
ensacados; o vinho, ...Ah, o vinho!
O
risco de ver tudo isso desaparecer, porém, tem assustado o povo daqui. Com o
verão invadindo o que deveria ter sido o outono as montanhas não congelam. O
frio chegou tarde. Se a temperatura não diminui no momento certo, a neve acaba
isolando a montanha que, desse modo não congela mais. Pode nevar o quanto for,
vai tudo derreter logo no início da primavera, privando o verão – e a
agricultura e o abastecimento das casas e... – de água. Os muitos riachos,
córregos e o nosso amado rio Trebbia permaneceram secos no verão passado. E, é
claro, a neve derretida toda de uma vez causou danos.
Caso
as montanhas não congelem, teremos que racionar água novamente. A seca aqui foi
braba, esse ano. Mais de duzentos dias sem chuva e nada de neve derretendo para
suprir as nascentes. Precisamos de água para o nosso mundo não perecer.
Por
tudo isso eu peço a vocês, que não fazem parte desse mundo perdido entre a
planície nebulosa e as montanhas vinícolas: não desperdicem água. Bebam vinho.