Friday, May 24, 2019

Maio na Itália

A surrealidade virou cotidiano. Nesse mês já tivemos frio com temperaturas invernais, neblina – neblina em maio! –, chuva, muita chuva, neve e ventania. Finalmente hoje parece que a primavera chegou. Os pernilongos, ainda não. Devem chegar amanhã, aposto. Até vi algumas andorinhas, as que sobreviveram. Sim, porque as que vieram antes foram dizimadas. Na última vez que tivemos um maio assim, era novembro.

Esse também é o mês das primeiras “corridas” de carros antigos, o que torna os centros das velhas cidades em paisagens românticos e coloridos. Como as flores que teriam florescidos, não fosse o clima. E é, também, o mês do Firo d’Italia, a corrida ciclística de rua mais importante da península e uma das mais importantes da Europa. Nunca ouviu falar? Não se preocupe, você está em companhia de milhões (talvez, bilhões) de pessoas. Mas aqui é um dos maiores eventos esportivos que ocorre anualmente.


(Prova 1000 Miglia 2015 - etapa de Piacenza) Allan Robert PJ


Essas provas de rua são profissionais e organizadas por equipes com corredores de toda parte do mundo. Numa mesma equipe podem correr estrangeiros, o que importa é a qualidade e experiência. Cada equipe tem um capitão e diversos gregários, empenhados a proteger o capitão, obedecendo a tática da equipe. Tática?, você estará perguntando. Sim, não basta ser bom no pedal, tem que agir como equipe. São vinte e um dias, mais dois de descanso, para cobrir 21 etapas, num total de 3.579,8 quilômetros e uma média de 170 quilômetros por dia. Existem etapas mais fáceis, médias e difíceis (pense em pedalar montanha acima, através daquelas estradinhas estreitas com “acostamentos” (isso não existe naquelas estradinhas estreitas) cobertos de até dois metros de neve). Por isso, as equipes devem contar com especialistas “escaladores”, que dão o melhor de si em subidas e com velocistas, para as etapas planas.

O capitão é o corredor com mais experiência, escolhido para vencer a prova pela equipe. Andar de bicicleta na cidade é mais fácil – e perigoso – que uma prova de rua/estrada. Quinze, vinte minutos no pedal e o passeio foi bom. Mas nessas provas ciclísticas, é importante endossar trajes e capacetes aerodinâmicos, além da bicicleta levíssima, altamente tecnológica e cara pra burro. A resistência do vento é algo inimaginável para o ciclista amador. E aí é um dos pontos importantes da tática de corrida. Os gregários devem ir na frente, revezando-se quando o ritmo cai e deixando o capitão em posição protegida do muro de ar que vão quebrando. Isso na teoria, porque os adversários têm a mesma tática e vai todo mundo embolado, sempre respeitando a formação voo de cisne. Vez ou outra, alguém tenta uma fuga. Que pode acabar com uma vitória, um lugar ao pódio ou lá atrás, quando acaba o fôlego do corredor ou corredores fujões.

 (Giro d'Italia 2010 - etapa de Piacenza) Allan Robert PJ

Tô tentando me concentrar no giro pra não pensar na guerra pelas eleições para o Parlamento Europeu, domingo dia 26. Não, gente, melhor falar que nesse mês tem um monte de evento acontecendo na cidade, muito festeira, aliás. Um mineiro que veio fazer um curso de cirurgia com um renomado otorrinolaringologista daqui, se surpreendeu com a quantidade de festas. “Rapaz, aqui tem mais festa que em Belo Horizonte”, disse ele. Mas domingo é depois de amanhã e estou ansioso e com medo dos rumos dessa velha Europa. Melhor ir ali fora e aproveitar essa noite fresca de primavera. Ainda sem pernilongos. Mas na eleição vai ter. Aposto.

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