Acordei
que o sol
ainda num tinha. A cama
perfumava de cidra, o resto da casa também. A morada tinha só dois cômodo: o quarto de dormir com u’a cama de viúva, um armário, u’a cadeira de balanço mais velha que ‘Na Pina, a tina de banho, u’a janela.
O outro cômodo era
maior, com
u’a mesa comprida que
se adornava com as cadeira, um banco comprido, a cristaleira,
o armário aonde
que ‘Na Pina
guardava as erva, os óleo, os licor, os vridro vazio, os xarope, as cidra
cristalizada. Os móvel era tudo du’a madeira só, capaz que encomendado dalgum marceneiro, que
num tinha prego nenhum.
Coisa de mestre
experiente mesmo. O fogão
de lenha ainda
que tinha brasa,
fiz um gole
de café.
‘Na
Pina chegou que o sol despontava. Parecia mais velha que no dia de antes. Deu
água pro burrico, carregou ele com um cesto de ferramenta, moringa d’água, pão,
um pedaço de queijo defumado. Disse pra eu seguir o burrico, refazer as cerca
de palha que protege as cidreira do vento, pra limpar o terreno do mato, regar
as planta, colher as fruta maior. Disse pra deixar que o burrico sabia o
caminho de onde que tinha que ir, de só voltar à tardinha, depois de regar as
planta pela segunda vez. ‘Na Pina pediu pra fechar o portão quando saía, fechou
ela a porta da casa.
Andamo
por coisa du’a hora até encontrar um cercado igual da casa de ‘Na Pina. O
burrico empurrou a porteira com a cabeça, entrou. As cidreira ficava protegida
no meio du’as árvore alta, que todo mundo sabe que cidreira num gosta de vento.
A cerca de palha protegia a parte de baixo das árvore, mas carecia du’a
ajustada. No Roncato o vento num pára e a plantação ficava bem no alto, de
frente pro mar. O poço da plantação funcionava com u’a bomba manual; acho que
tinha pra mais de duzento metro de cano, que o morro era alto mesmo. Bombeei
água no coxo, aliviei o burrico da tralha; comecei o primeiro dia no campo com
o sol nas costa, o cheiro do mar mais o cheiro da cidra, que era melhor que o
cheiro de suor do porto de Nápoles.
A
noitinha tava fresca no casebre, cheguei trazendo o cesto cheio de fruta; u’a
fome que roncava, o cansaço do novo trabalho. ‘Na Pina tinha preparado peixe,
azeitona, tomate, pão. Mandou eu tomar banho, comer, que ela tinha que voltar
pro assistido dela. Falou que a criatura deveria partir naquela noite. Saiu com
o burrico, mais velha que de manhã. Dia seguinte chegou que o sol brilhava já,
cabeça baixa, véu cobrindo o rosto. Num disse palavra. Peguei o burrico, fui
embora cuidar do campo. Voltei qu’anoitecia u’a noite de lua; senti no portão o
perfume de pão fresco mais minestra. As lamparina de dentro da casa tava
apagada, só o lampião pendurado na porta lutava com o vento do lado de fora.
Um
punhado de lenha queimando no fogão bastava pr’alumiar a casa. ‘Na Pina saiu do
quarto com u’a bacia na mão, falou pra eu ir tomar banho, a minestra tava quase
pronta. A voz num era mais rouca, num era mais a mesma; a roupa branca alumiada
pelo fogo exibia um corpo de fêmea nova. Tomei banho, esvaziei a tina. A
minestra fumava em cima da mesa, ‘Na Pina tirava pão do forno. Comemo devagar
enquanto que eu contava pra ‘Na Pina dos conserto que tinha feito, das fruta
que tinha colhido, do mato que tinha limpado, do coxo que tinha arrumado. Ela espiava
sorrindo, com uns dente branco de menina. Os osso do rosto tinham sumido por
debaixo de u’a pele fresca, nova. ‘Na Pina pegou o garrafão de vinho na
cristaleira, serviu duas caneca grande, sorriu mais com os olho que com a boca.
Tava mais viva que sempre. Parecia um animal caçando presa, enquanto que seu
corpo devorava o meu.
O
tempo caminhava devagar no campo. ‘Na Pina vez ou outra me acompanhava pra
explicar as coisa da plantação; vez ou outra eu tinha que esperar do lado de
fora do portão fechado ela atender um vivente; vez ou outra ela ia na vila
entregar os óleo, os xarope, os licor,
as cidra cristalizada; vez ou outra ela passava a noite assistindo um morrente.
Aparecia mais nova no dia seguinte, com o garrafão de vinho, a roupa branca
transparente, queimando como a lenha no fogão.
Tio
Ludovico apareceu num fim de tarde. Trouxe mantimento, vinho, tabaco, roupa,
dinheiro. ‘Na Pina num precisava de nadica de nada, mas muito agradeceu, como
fazia com todo mundo que pagava como podia quando precisava dela. Tinha feito
pão fresco, peixe frito que bastava prum time, mais azeitona, tomate, vinho,
como se adivinhava a visita do tio. Comemo, saímo prosear no banco do lado de
fora, admirando a ilha de Capri, as luz no mei do mar. O tio falou que as duas
família tava em guerra, que os Peperoncini levava a pior, que os Della Smorfia
matava todo mundo que tinha ligação com os Peperoncini. Disse pra ter cuidado.
Disse que eu parecia mais novo, a pela mais fresca, que já tinha passado três
ano que eu tava no Roncato sem ninguém descobrir. Pitamo do tabaco do tio até
tarde. ‘Na Pina arrumou duas esteira na sala, como se eu dormia sempre lá. O
tio partiu de manhã, antes da chuva cair. Recomendou muito cuidado, pra num
ficar de bobeira não.
Num
dia que ‘Na Pina tinha que levar as coisa na cidade, apareceu u’a gente que
precisava urgentemente de urgência de ser benzida, de massagem com óleo, das
cura de ‘Na Pina. Ela me deu orientação precisa de quem encontrar em Massa
Lubrense, o que tinha que levar, as coisa de comprar no mercado. Carreguei o
burrico, parti que ainda era cedo de sol. O burrico conhecia o caminho, a
passada certa pra num escorregar com as ferradura nas rua de pedra. Sabedoria
de jumento é lenteza. E lenteza seja.
Entreguei
a mercadoria, passei no mercado de feira, cheguei no armazém aonde que ‘Na Pina
comprava o tabaco que a manhã ainda num tinha acabado. Foi saindo do armazém
que dei de cara com um dos homem dos Della Smorfia. O susto foi mais dele que
meu, mas logo que ele arrecuperou a cor, começou a me cortar com os olhos,
prestou muita atenção no burrico, na carga no lombo dele. Fiquei ali, sem
desafiar com os olho mas sem medo, sem arredar pra trás. O quebra-milho entrou
no carro estacionado ali perto, partiu sem fazer quizomba. Meu destino tava pra
mudar de novo, era só o que eu sabia.
‘Na Pina esperava agoniada na entrada da
trilha, nos arbusto, com u’a viatura estacionada. O vivente dentro da
caminhonete suava um nervoso que tremia. ‘Na Pina pegou as rédea do burrico das
minha mão, me deu u’a sacola que ela tinha preparado, um envelope com dinheiro,
um beijo na testa que mais parecia de extrema unção, disse: “Vai!” Nem tive
tempo de ver a lágrima molhar a pele seca e cansada de ‘Na Pina. O cidadão da
caminhonete partiu, dirigindo como se tava apostando corrida com o vento. Hora
e meia depois, me deixava na frente da estação de Caserta. Durante a viagem
apavorada, só falou u’a coisa: “Num quero saber seu nome, quem você é, nem o
que aconteceu. Te largo na estação, você vai pra onde quiser. Quanto meno a
gente souber do outro, melhor.” Só tinha um destino possível: pra frente. E pra
frente seja.
Continua...
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12 comments:
Estou encantada com tua arte, Allan! Uma descrição machadiana e uma linguagem Roseana. Muito bom!
Curiosíssima!
Abraço, garoto
Oi, Allan!
Que proseado bonito! :) Pena Sávio ir embora da casa de Na Pina...
Aguardando os próximos capítulos!
:)
Beijus,
ah, Allan voce e mesmo um escritor, continua, continua!!! amei, adorei
abracossssssssssssssssss!
tio,
...hã?
pedro luis
Denise, misturar estilos sempre foi o meu problema, mas às vezes funciona. Espero que essa seja a vez boa. :)
Luma, o Savio é jovem, ele resiste. :)
Myra, Sempre incentivando. Obrigado. :)
Pedro Luis, :P
Allan,
seu texto tem uma linguagem simples e cativante, não cansa. fiquei pensando como seria delicioso ler um livro assim, bom para sentar a tarde, relaxar e se distrair.
sorri ao encontrar "nadica de nada", difícil de ler e ouvir isso atualmente.
Bjs
Estou adorando!
Avise-me quando sair o livro, sim?
Abraços!
Sissym, se tivesse tido coragem, o conto teria sido um livro. :)
Thaís, leia o comentário acima. :D
Estava tão boa aquela vidinha de Salvatore com Na Pina!!!!
Sentia daqui o cheiro do pão com a minestra e recordava da minha infância, quando ia pra fazenda e os caseiros fumavam cigarro de palha!
Vou sair agora, mas volto assim que puder para saber onde o destino irá levar Salvatore!
Parabéns pelo trabalho e até breve!
Léia
Parte III. Ansiosa.
Abraço.
Allan, conta mais! *_*
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