Salvatore
é meu nome.
Prefiro Sávio, que é como todo mundo me chama. Napolitano sou. Vivo o destino, que cada um deve se conformar com o destino que arrecebeu. Me conformo e vou avante,
que napolitano num s’arreda pra traz, a num ser que num arrecebe um
balaço nos
peito, que
aí num tem modo
de cair pra frente. Mas quem chegou a 30 ano nessa terra é porque aprendeu a num
ficar de bobeira
avante um revólver.
Anda a vida
toda no fio
da navalha sem
escorregar.
Quando era pequenino de leite, eu vi a luz. Era u’a luz branca com um buraco em cima, tão
forte que
num se via nadica de nada do que
tinha depois.
Só as pessoa na entrada
da luz, que
me sorria e me
chamava e que eu
conhecia mas num alembrava. Estiquei os
braço, que eles
chamava sorrindo com os braço esticado,
mas num fui. Eu sabia. Eu sabia tudo e
num fui com eles
porque num tinha volta.
Escolhi o meu destino
e fiquei.
Mimmo,
meu irmão
Massimiliano, era endereçado na vida. Estudava qu’estudava. O pai mandou ele pra casa duns parente em
Ostia, um distrito de Roma. Mimmo passava o dia
em Roma, trabalhando e estudando, só voltava pra
Ostia pra dormir e trocar de roupa.
Criou família, trabalha
nu’a empresa como
supervisor. Nas festa de fim de ano e no
verão, traz a família pra visitar a gente. Mas comigo teve jeito
não. A escola
num m’interessava, eu vivia na rua. Só voltava
pra casa
pra dormir
e levar bronca.
Então
que eu tinha uns vinte ano quando que o pai ficou com medo que eu arrumava encrenca
grossa, que
encrenca pouca
tinha todo
dia. O pai
dirigia caminhão pr’u’a família da Camorra,
os Della Smorfia, enquanto que eu tava de amizade com os
filho du’a família rival, os Peperoncini.
Um dia, por causa dum comerciante novo que tinha aberto comércio nu’a zona
entre as duas família, os Peperoncini levaro a melhor. Briga de nada, coisa
pouca, mas eu tava presente. Os outro juraro vingança.
O
pai achou melhor
eu passar uns
tempo com ‘Na Pina,
u’a espécie de benzedeira
que vivia sozinha
lá pras banda de Roncato di Massa Lubrense. Massa
Lubrense nem é tão longe de Nápoles, mas num tinha nadica que interessava a
gente da Camorra lá. O Roncato, então... ‘Na Pina
era a única
pessoa que
conseguia plantar e colher
cidra naquelas parte e precisava de alguém
pr’ajudar, que
a idade dela começava a pesar.
O pai deu um
pouco de dinheiro,
dois saco de farinha, um saco de fubá, tabaco. O tio
Ludovico, que num é meu
tio de verdade,
também dirigia caminhão pros Della
Smorfia, me acompanhou de carro até Roncato. Na saída
do vilarejo, parou na frente du’a trilha
no meio dos arbusto, explicou como chegar na casa de ‘Na Pina.
Ajeitei a farinha mais o fubá nos ombro,
parti pela picada, que só se transitava a pé
ou em lombo
de burro, que
era o único
jeito que tinha pra
chegar na casa
de ‘Na Pina.
Da
cidade pro campo dum dia pro outro, pensei. Caminhava devagar com o sol que
esquentava a farinha mais o fubá nos ombro, ajeitando o ritmo da caminhada pra
num cansar. Sacudi a cabeça, me convencia que a vida seria diferente dos ano
vivido. Caminhava devagar pro meu destino. Porque a vida é isso: destino. E
destino seja.
Cheguei
qu’anoitecia quente, com os ombro
arrebentado, a fome dum mendigo.
‘Na Pina morava num casebre
de pedra com
u’a cerca que
arrodeava todo o quintal. Nadica de
vizinho ou de plantação, era só mato mesmo. Tinha
um burrico
pastando, u’as galinha ciscando perto de
onde que
tinha u’a horta
protegida com a mesma madeira seca do
cercado, um poço coberto. O pai disse que se o portão tava fechado tinha que esperar em silêncio. Tinha
um banco
de madeira pra
quem precisava esperar,
mas o portão tava aberto,
fui entrando. Quando passava pelo portão ouvi u’a voz rouca de fêmea: “Avante,
Sávio! Tava t’esperando.”
‘Na
Pina tinha
o rosto seco, seco, que os osso parecia querer sair. Os cabelo grisalho
amarrado nu’a trança, as mão com os dedo
fino comprido. A pele que era que nem da gente
que trabalha
no cais, com
o sol no couro o di’inteiro. Fiquei avante dela, parado na porta
da casa enquanto que ela me cortava com os olho preto, de cima
até os pé. “Entra, homem.
Arreia esses
peso antes que
te falte respiração.”
– ela falou sorrindo c’os dente amarelo.
Pedi licença, entrei, ajeitei o fubá e a farinha
na mesa comprida.
Antes que abrisse boca,
‘Na Pina avisou que
precisava dar assistência
a um morrente, que
só voltava no dia
seguinte. Disse que
tinha preparado
u’a minestra, que tinha
pão novo no forno.
Mandou eu tomar banho,
dormir na cama. Mostrou o registro
pra esvaziar
a tina de banho.
Depois ela ofereceu tabaco
e palha, pegou o burrico, sumiu na noite de estrelas muita.
Tomei
banho com a água da tina; lavei a roupa da poeira, botei perto do fogão pra
enxugar; esvaziei a tina, comi a minestra com pão quente; pitei um cigarro de
palha, fui deitar, que as costa queimava do peso dos saco. Ainda era cedo, mas
o corpo pedia trégua. E trégua seja.
Continua...
Continua...
.
10 comments:
estou gostando muito, CONTINUA!!!
um gde abraco
nao pude abrir o video!
Que mix bacana você fez no vocabulário... quero ver a "virada" que o "destino" vai dar nessa estória, e que Salvatore não se canse!
Também gostei! Estou esperando os próximos capítulos.Inté!
Myra, Casulo-online (Cris), Ge Bolognani e Cirlei, obrigado pelo incentivo! Não percam os próximos capítulos.
:)
Allan, sempre nos surpreendendo. Estou animada com a narrativa e prevejo mais encrencas para nosso protagonista.
abraço, garoto
Allan adorei o aconchego desta prosa caipira! Conta mais para nós! : )
Denise, Encrenca é o sobrenome dele. :)
Dayane, continue seguindo. Já, já tem outro capítulo. :)
Allan,
a sequencia final por ser tão descritiva me fez ver cada cena.
sobre a tina, fez-me lembrar das historias de meu cunhado no pós guerra na Alemanha, ele era o caçula e por isso o ultimo a se banhar. imagine só a agua! e reclamamos tanto de bobeiras.
Bjs
Boa tarde Allan!
Nossa adorei e estou indo ao outro post, pois estou gostando muito dessa prosa!
Até mais!
Léia
Muito bom! Vou ler o II.
Abraços.
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