Numa publicidade
do café Lavazza, a cena inicial explora características típicas femininas e
masculinas: a mulher que faz um monte de perguntas e o homem que se impacienta.
Meu limite para
questionários vai até a primeira pergunta. Na realidade, termina um pouco
antes, mas consigo me controlar. Ou que falso calmo eu seria? Com o cérebro
sempre em ebulição, preciso de pausas longas para absorver perguntas e elaborar
respostas. Não é raro eu dar uma resposta absurda e sem sentido a alguma
pergunta:
▬
O que você pretende fazer a respeito disso?
▬
O brasão da ferrovia tem um urubu amarelo.
Mas
eu também posso simplesmente responder “amanhã eu vejo isso.” Como não gosto de
procrastinar, “amanhã eu vejo isso” significa somente que não haverá uma
resposta. Lá pela terceira ou quarta pergunta, quando o funeral da minha paciência
terá terminado faz tempo, a fuzilada visual pode ou não ser acompanhada de um
breve “amanhã”. Nesses momentos, não insistir e me deixar em paz é o caminho
mais seguro para evitar o apocalipse.
Quer
me ouvir falar a noite inteira? Evite começar o bate-papo com uma pergunta
fechada (daquelas que só permitem uma resposta: “essa parede verde ficou uma
maravilha, não é?”). Converso sobre tudo, até sobre assuntos que não domino, só
não gosto ter de concordar com a opinião alheia nem de me sentir obrigado a tomar
posições. Sou um bom observador que não gosta de ser observado. E sou prático.
Normalmente já decidi o que fazer a respeito daquilo e tenho uma opinião sobre
aquele verde horrível na parede, mas prefiro não me exprimir. Para não ser
contestado ou para evitar ser diplomaticamente hipócrita: “lindo, esse verde!”
Quando eu quero a opinião alheia – o que não é um crime –, eu peço. “Amanhã eu
vejo isso” costuma ser uma resposta suficientemente absurda e silenciadora na maioria dos casos.
Mas tem o lado divertido: observar a expressão
de quem ouve uma das minhas respostas absurdas. Diante do meu ar sério e da
minha segurança, poucos entendem na hora o que está acontecendo. A cara de “oi?”,
“...hein?”, “não entendi” e “será que ele tá me gozando?” desarma o gatilho
cerebral da próxima pergunta. E se, na semana seguinte, a pessoa volta ao
assunto dizendo que não entendeu a minha resposta, fico olhando sem responder
[fingindo uma expressão de “oi?”, “...hein?”, “não entendi” e “será que ele tá
me gozando?”] e pergunto depois de uma pausa mais longa que o normal: “do quê
você tá falando?”
Quer saber? Se eu tivesse uma irmã como aquela
da propaganda da Lavazza, eu não iria terminar no paraíso.
14 comments:
Well, acho que não fiz nenhuma pergunta retórica no jantar entre amigos de Angola, por que, né? Não te achei mega estranho!!! Heheheh.
O que eu aprendi. com o seu texto a responder aquilo que eu não quero para alguém."Amanhã eu vejo isso" adorei!
agora voce me fez rir! otimo, e muita verdade! a mim qdo me pergumtam sobre uma pintura ( que nao gosto, mas nao quero ofender..) digo"mto intressante" :)))
um gde abraco!
Mais uma faceta sua que não conhecia, ahaha. Hoje em dia, uso o freio "é verdade?", "é útil?", "bom?", antes de falar algo a alguém. Quanto a fazer perguntas, vou me policiar quanto àquelas que exigem uma única resposta e não favorece o diálogo.
Obrigada pela dica, amigo.
abraço, garoto
O Lavazza não tão bom quanto os italianos pensam, porém reconheço que os italianos sabem preparar um excelente ristretto e o fazem com prazer.
O que isto tem a ver com o texto?
Oi? Hein? Não entendi! Está me gozando?
Manoel Carlos
Allan acho que me identifico muito com o que você falou, adoro observar e não quero ser observada. As vezes brinco dizendo que tenho preguiça de conversar, mas simplesmente me cansa ter que concordar ou discordar de algo que já foi exposto como uma opinião. Me identifiquei muito com sua colocação.
Entendo bem sua tática, aqui usam a mesma. Mas eu tenho meus segredos. Dosar as perguntas, apropriá-las para que as respostas sejam dadas e ter algumas cartinhas na manga...
rsrsrs
Acho que isso é coisa de homem uahauahua geralmente não têm paciência pra #mimimi. Aqui em casa é a mesma coisa. Sempre chego no limite da paciência dele auhauahau
Kisu!
gostei muito do texto e, como moro na Italia e infelizmente o spot é muito comum por aqui (e transmitido diariamente), posso dizer com certeza que eu também não iria terminar no paraíso com uma irmã assim... :D
Allan, eu já trabalhei com pesquisa. Dessas que ficam azucrinando as pessoas com perguntas. Trabalhava para um instituto de pesquisa. Foi meu pior emprego. Eu adoro ouvir pessoas, mas percebia bem quando queriam se ver livres de mim. Mas eu precisava trabalhar, né? Puxa, só de lembrar ainda me sinto mal...
Hoje eu respondo a qualquer questionário na rua. Acho que é sentimento corporativo, solidariedade, sei lá. Pena do ser humano que precisa ter uns empregos chatos assim!
abraços sem nenhuma pergunta. Juro!
Bom saber. Se um dia te conhecer pessoalmente sei que não poderei fazer muitas perguntas...bom final de semana!
Oi Allan
Acho essa propagando super chata e acho incrível como está durando todo esse tempo "no ar"!
Sexta-feira fui a um jantar e um amigo do meu marido fazia sempre esse tipo de pergunta fechada e conversou sozinho a noite inteirinha! Quando a sua mulher começava um assunto ele também a interrompia e continua a conversa dela, ui!
Também não gosto que ter de concordar com a opinião alheia e de me sentir obrigada a tomar posições, mas as vezes para evitar polêmica com gente chata concordo com um "humrum"!
Bjim
Léia
Allan,
kkkkk que bom que voce me entenderia....
alias, gostei da expressão: " o funeral da minha paciência terá terminado faz tempo" - nunca mais esquecerei.
Beijos
Oi, Allan!
Sou boa para observar e isso não quer dizer que goste de responder perguntas. Mas em geral, esse tipo de pergunta que já sabemos a resposta, serve para fazer pressão e enrolar caminho para chegarmos em definitivo aquilo que queremos.
Se alguém lhe perguntar sobre a cor da parede, a resposta vai depender se foi um homem ou uma mulher que a fez. Se for mulher, ela quer que você concorde, pois já está escolhida. Se for um homem, desconfie. Um homem de verdade nunca irá lhe perguntar se gosta da cor da parede. Enfim, responder alguma coisa, depende também dos nossos interesses. Se acho a pergunta absurda, pergunto logo porque está fazendo a pergunta. Afinal, é lógica a resposta.
Beijus,
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