Saturday, August 10, 2019

Pior que meio-dia


Foi a Kamani, quando ainda morávamos em Lauro de Freitas, cidade colada a Salvador, a me ensinar a caminhar sob o Sol. A rua onde morávamos era de chácaras, sítios e casas com grandes terrenos, num bairro chamado Granjas Reunidas Ipitanga. Não tinha calçamento, eram ruas de terra. Quando a levava para passear – sim, ela passeava e eu apenas a acompanhava, guia bem segura na mão. Ela decidia o itinerário –, escolhia a parte com mais sombra da rua, favorecida pelas árvores das chácaras. Na sombra, diminuía a velocidade, que aumentava, e muito, quando passávamos por trechos sob o Sol. Muito inteligente a nossa akita fujona.

Vinte e um anos depois, levo o Shiva para passear em Piacenza e procuro a parte sombreada das ruas, quando o calor é sufocante. As ruas do centro não têm árvores, mas os muros são altos o suficiente para formar um caminho mais fresco, com o pavimento com temperaturas que não queimem as patas do meu amigo.



Acontece que o verão aqui é muito quente, o clima da Planície Padana é um dos mais inóspitos do mundo, cercado por montanhas (Alpes e Apeninos) que impedem correntes de vento e muita umidade, por conta dos rios, riachos e torrentes. Andar na rua depois do almoço, durante o verão, é a certeza de uma sauna a céu aberto. Não é para os fracos.
 
Ao meio-dia o Sol está à pino e a temperatura deixaria o inferno ruborizado. Mas por volta das três, quatro da tarde, quando o Sol aqueceu os muros e as casas rentes à rua (característica da cidade) fica realmente impossível caminhar. Melhor sair depois do pôr do Sol, pelo menos para não ter a estrela de fogo cuspindo fogo sobre a cabeça. E aí tem um outro truque: é necessário saber a posição do Sol durante a tarde, ou atravessar a rua para verificar qual lado é mais fresco. A parte que foi aquecida pela manhã terá muros e paredes mornas, enquanto a parte ensolarada à tarde, estará com paredes refletindo todo o calor acumulado. Isso lá pelas dez da noite. A diferença – medi, não duvide – chega a ser de até quinze graus. E faz uma grande diferença. 

No inverno o Sol só passa pela parte de trás do nosso prédio, mas no verão o Sol quase roda por todos os lados. Certo, no inverno nós procuramos a parte ensolarada. Mas se você vier para a Itália nos meses de verão, use a sabedoria da nossa saudosa Kamani. Você vai me agradecer. Em dinheiro, de preferência.


1 comment:

BLOGZOOM said...

Allan,

Eu achava que o calor infernal do Rio era unico, infelizmente o mundo é uma estufa, cada vez mais quente, os periodos de frio mais curtos e muito diferentes do que já foram.

Bjs