Sunday, March 04, 2018

Eleições na Itália



Hoje é dia de eleição parlamentar na Itália. Um dia muito frustrante.

Começo com redescobrir que o enorme título de eleitor não cabe em nenhum bolso. No caminho entre a nossa casa e a seção, vou pensando em como será a afluência, se vai ter fila, se só os idosos irão votar; me preocupo em desviar de cocô de cachorro pelas calçadas, além da neve. Neve em março!

A fila está curta, mal sinal. Um mar de mulheres e poucos homens Hmm... Mas se são os homens que passam o dia discutindo política? Cadê os jovens? Dormindo depois da noitada? Ou somente dormindo?

Depois que chegamos a fila aumenta. Tá melhorando. Na entrada da seção tem um cartaz informando que por causa de uma lei blá blá blá só pode votar uma pessoa de cada vez. Oi? Entro e deixo carteira de identidade, título e celular. A mesária encontra meu nome na lista, avisa aos outros que posso votar e eu passo para os dois das urnas para pegar as minhas cédulas. São duas: uma para a Câmara dos Deputados e outra para o Senado. Só quem tem mais de  25 anos pode votar para o Senado. Oi? Antes de me entregar os lençois dobrados, que são as cédulas de votação, cada um dos mesários das urnas lê um código em voz alta, que a primeira mesária anota ao lado do meu nome, na lista. Oi? Entro na cabine, desdobro as cédulas, voto e dobro de novo. Uma complicação porque as cédulas são grande pra cacete e as assinaturas do presidente da seção e de mais sei lá quem, devem voltar à parte externa. Entendo porque as pessoas mais idosas estavam demorando tanto. Devolvo as cédulas aos mesários das urnas que devem, na minha frente, reler em voz alta os meus códigos para a mesária conferir com os códigos anotados, destacar o canhoto com os códigos da cédula e finalmente, colocar as cédulas nas respectivas urnas, uma para a Câmara e outra para o Senado. Pego meus documentos e celular e saio.
Oi? Oi? Oi?

O pior é saber que há grande probabilidade de que essa eleição venha a ser anulada, se não houver um partido ou coalizão que alcance pelo menos 35% dos votos; que o Presidente da República deverá solicitar ao parlamento de instituir uma nova lei eleitoral em três meses (ou setenta dias, já não lembro mais como ficou na última mudança), quando tornaremos a votar. Porque não pensaram nisso antes? Pensaram. E o resultado foi mais uma merda.

Desde 1994 nenhum governo eleito concluiu o próprio mandato. O período da legislatura é de cinco anos, mas as coalizões/conchavos estabelecidos para governar sempre dão xabu. Eis a lista dos primeiros ministros desde 1994:

Silvio Berlusconi - 10 de maio de 1994 a 17 de janeiro de 1995

Lamberto Dini (governo técnico) - 17 de janeiro de 1995 a 17 de maio de 1996

Romano Prodi - 17 de maio de 1996 a 21 de outubro de 1998

Massimo D’Alema - 21 de outubro de 1998 a 22 de dezembro de 1999

Massimo D’Alema (bis) - 22 de dezembro de 1999 a 25 de abril de 2000

Giuliano Amato - 25 de abril de 2000 a 11 de junho de 2001

Silvio Berlusconi - 11 de junho de 2001 a 23 de abril de 2005

Silvio Berlusconi (bis) - 23 de abril de 2005 a 17 de maio de 2006

Romano Prodi - 17 de maio 2006 a 8 de maio de 2008

Silvio Berlusconi - 8 de maio de 2008 a 16 de novembro de 2011

Mario Monti (governo técnico) - 16 de novembro de 2011 a 28 de abril de 2013

Enrico Letta - 28 de abril de 2013 a 22 da fevereiro de 2014

Matteo Renzi - 22 de fevereiro de 2014 a 12 de dezembro de 2016

Paolo Gentiloni - atual Primeiro Ministro desde 12 de dezembro de 2016
Dessa lista, excluindo os dois governos técnicos de Lamberto Dini e Mario Monti (apresentados pelo presidente da república e aceitos pelo congresso - ou pela tia da minha vizinha. Aquela que já se foi), apenas Silvio Berlusconi é de direita. Ou seja, nem quando assume o poder a esquerda italiana consegue se entender.

Ficou com alguma dúvida? Quer fazer alguma pergunta? Não pode. Se nem eles sabem como funciona (aliás, não funciona) essa bagunça, você acha que eu vou conseguir explicar alguma coisa?
Pensei em votar no Tiririca, lembrei que ele pulou fora.

1 comment:

Menina Marota said...

Não entendo muito de política internacional mas se for como em Portugal... e não digo mais nada. eheheh