Sunday, May 24, 2015

Bartali e Coppi, rivais cordiais – a história de uma foto



A Itália dos anos 40 e 50 foi marcada por dois personagens que aliviaram as feridas da II Guerra. Juntos, resgataram um pouco do orgulho do povo. A mesma gente que se uniu em torno do ciclismo, dividiu-se entre os dois maiores nomes do esporte. Quem torceu por Gino Bartali, torceu contra Fausto Coppi. E vice-versa. Os dois ciclistas – e as conquistas deles – transformaram o ciclismo no esporte mais popular no país e que mais vendeu jornal, na época.


O ciclismo de estrada é um esporte de equipe. O time se divide em um capitão e os gregários. As provas propostas em circuitos como o Giro D’Italia ou o Tour de France, se dividem em várias etapas, com provas contra o cronômetro em equipe e individual, circuitos mistos em cidades e de escaladas, com subidas e descidas em montanhas. Entre os gregários encontram-se especialistas para cada prova e o trabalho deles é proteger o capitão do vento e atuar a estratégia da equipe técnica, que segue as provas em um carro, passando as informações via rádio. O capitão é aquele com maiores probabilidades  de vencer o circuito, com bom desempenho em todas as especialidades (escalada, velocidade e passista – capacidade de manter bom ritmo durante muito tempo).

Bartali e Coppi se tornaram companheiros quando correram juntos pela mesma equipe em 1940. Bartali já era famoso e campeão de circuitos importantes, enquanto Coppi era apenas um jovem gregário. Durante uma prova, Bartali caiu e os gregários pararam para ajudá-lo, mas Coppi recebeu ordem dos técnicos para continuar e manter a boa classificação geral que conquistara. Coppi venceu a prova, passou à frente de Bartali na classificação geral e virou a ponta da equipe, com Bartali atauando quase como um gregário. Naquele ano, Fausto Coppi venceu o Giro D’Italia, tornando-se o mais jovem campeão do evento na sua primeira participação.

Os anos seguintes foram marcados pela guerra e a pouca atividade ciclística, além das diferentes posições entre os dois. Coppi foi convocado como soldado e participou da campanha no Norte da África; Bartali consertava bicicletas e ajudava refugiados e judeus.

Se reencontraram em 1946, no primeiro Giro D’Italia após a guerra. Dessa vez, como rivais, em equipes diferentes. Venceu Bartali. E a partir de então, os jornais estimularam a rivalidade entre os dois e os transformaram em mitos. Claro que teria sido diferente se não fossem ambos grandes esportistas. Coppi venceu o Giro D’Italia cinco vezes; Bartali, 3; dois Tour de France cada um. No total, Bartali venceu 124 etapas de diversos circuitos, enquanto Coppi venceu 122.

Rivais cordiais, em diversas ocasiões se ajudaram, mesmo estando em equipes diferentes (é comum uma “fuga” de dois ou mais corredores do grupo principal para tentar um ritmo mais veloz). E foi numa dessas fugas que a cena aconteceu. Com um dos dois passando uma garrafa d’água ao outro.

Acontece que naquela época faltavam os meios de hoje para registrar a corrida em tempo integral. Aquele gesto não foi filmado nem fotografado por ninguém, apesar das muitas testemunhas. Segundo Vito Liverani, a fotografia mais importante e difusa do ciclismo italiano foi criada com a autorização da direção da corrida e em comum acordo com os corredores. Teria sido o fotógrafo Carlo Martini a imortalizar a cena reconstruída durante o Tour de France de 1952, no dia seguinte à cena original. Com Bartali que passa uma garaffa de água Perrier a Coppi.

Quanto a cena original, ninguém sabe ao certo quem passou a garrafa ao outro. Não importa, o mistério faz parte do mito.
Entrevista de Vito Liverani ao jornal “Il Giornale” AQUI

3 comments:

chica said...

Realmente não importa saber quem deu ou recebeu. O gesto foi lindo! abraço,chica

Luma Rosa said...

Oi, Allan!
Água Perrier... Se fosse nos dias atuais, diriam que eles receberam um bom cachê pelo feito! (rs*)
Muito bacana a amizade que o esporte ajudou a aproximar. Também bonito gesto!
Beijus,

Deniserangel said...

Allan, a gente sempre ouviu falar que o importante é competir. É bacana saber que a amizade está acima da rivalidade. Hoje em dia há tantas coisas por baixo dos panos que a gente fica decepcionada com certos segmentos do esporte.
abraço garoto