Sunday, July 06, 2014

A fauna de verão



E quem é que tem coragem de confessar as próprias descobertas infantis? Sim, porque achei infantilidade minha ficar surpreso com a existência de pernilongos na Itália, anos atrás. O que eu esperava? Que no primeiro mundo fosse tudo possível e perfeito? [cá entre nós, precisamos urgentemente rever o conceito de “primeiro mundo”].  Frio, calor, temporais, secas e – por que não? – pernilongos: tudo igualzinho. E é assim que tem que ser.

▬ ...Quem é esse tal de Lunedil?

Noutro dia li que “as mudanças climáticas já estão tendo impacto sobre a economia americana.” Como assim, “já”? Só descobriram agora? Quando o ciclo natural do planeta é alterado, todas as atividades são afetadas (sim, eu sei que o ritmo natural do planeta é de mutação constante, mas a ação humana tem acelerado o processo). Perguntem aos pernilongos como a vida deles mudou nos últimos anos. Chegam sempre adiantados ou atrasados. Para garantir a sobrevivência da espécie, estão modificando o ritmo de procriação [teoria minha, nada de científico, mas merece ser estudado].

▬ Róbsu! Ô Róbsu!, quem é esse tal de Lunedil aí, Róbsu?

▬ Lunedì, ele se chama Lunedì.

▬ E quem é esse cara?

▬ Amigo meu, ‘cê num conhece não. Ele só vem quando ‘cê num tá’qui.

O certo é que os pernilongos perturbam um bocado e eu ainda não descobri a utilidade deles. Se servem para alimentar andorinhas e outros pássaros, eu toparia dar comida às aves em troca da extinção deles, os pernilongos. Melhor não, quem garante que a boa vontade se perpetuaria?

▬ E por que ele só vem nos dias que eu um tô?

▬ Sabe que ele perguntou a mesma coisa de você? E, depois, quê isso? Tá cum ciúmes ou quer conhecer o cara?

▬ Ih, cara, sai pra lá! ...Eu, com ciúmes? Sai pra lá, lubisomem!

▬ Então eu apresento ele pra você.

▬ Eu não. Vê lá se eu quero conhecer alguém que chama Lunedil!

▬ Lunedì, ele se chama Lunedì.

▬ O acento no nome dele tá errado. Num existe crase no i.

As gerações futuras teriam dificuldade para entender porque escolhemos alimentar os pássaros em troca da extinção dos pernilongos. As aves seriam extintas e, aí sim, o mundo ficaria uma merda. Melhor deixar os pernilongos.

▬ No caso dele, tá certo assim. Lunedì é italiano.

▬ ...Piorou.

▬ ‘Cê num gosta de italiano?

▬ Quem gosta de massa é pedreiro, eu sou gente fina.

▬ Que mais que ‘cê num gosta?

▬ Galinha.

▬ ‘Magina!, nós comemos frango ontem.

▬ Frango tem carne macia, eu não gosto é de galinha. Galinha, pra mim, só de batom e salto alto.

▬ Tá ficando muito enjoado.

Quando estive em Angola descobri que reclamava de barriga cheia: lá sim que tem pernilongos. Na volta, aprendi a fazer um repelente caseiro que funciona de verdade: coloque uns 30 gr de cravo da Índia em 100 ml de álcool e deixe em local escuro por uns quatro dias; coe e dilua em 500 ml de óleo de amêndoas (ou outro óleo para o corpo); passe quando for encontrar com pernilongos. Eles vão detestar e evitar chegar perto.

▬ Prest’enção, cara! ‘Cê pegou um peixe!

▬ Oba!, hoje vamos comer peixe na brasa.

▬ A brasa tá acesinha, só esperando ele.
                                                                                               
▬ ‘Bora pra casa comer esse peixe , Sexta-feira?

▬ Nós já estamos em casa, Róbsu. Nossa casa é uma ilha.
.

7 comments:

Thais Miguele said...

Tanto bichinho em extinção, e os pernilongos por aí bombando. É verdade… Angola é território deles. Eu que sei, eu tive paludismo.

Tati e Seus Nicola'S said...

Gostei dessa receita caseira contra os pernilongos. Meus italianos estão sofrendo (ainda) com os mosquitos cariocas. Vou testar neles ;)

Claudinha ੴ said...

Ah... Pernilongos importados, que chique! Ops, o importado aí é você!
Mas concordo plenamente com sua teoria de eles estarem se adaptando. A natureza sempre se adapta. Ouviu falar dos casos assustadores de Dengue (muitas mortes inclusive) aqui na região de Campinas SP ? Aqui na Estância (divisa com SP) encontramos vários pernilongos transmissores e tivemos alguns casos... Os bichinhos superaram até a seca que estamos enfrentando...
:)

Thais said...

Suportaria os mosquitos, mas não um mundo sem pássaros!
Abbracci!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ said...

Allan, os pernilongos por aqui têm deixado as minhas pernas mais grossinhas, rs.

O pior que eu acho sao as coceiras. Eita picada pra cocar dias e dias.

A turma por aqui está de férias e ai sobra um tempinho para visitar os amigos.

Tem algo para vc na Saia, é pegar ou lagar, rs.

Um grande abraco

Luma Rosa said...

Oi, Allan!
Coloquei tela nas portas e janelas de casa. Em Cabo Frio tem muito pernilongo, que chamam "mosquito".
Em minha cidade natal não tinha pernilongo, agora também tem. Fui apresentada à eles em uma pescaria e como sou alérgica ao repelente de farmácia, meu pai logo improvisou um de imediato: Um vidro de óleo johsonn ou qualquer outro (200ml) e 4 gotinhas de lisoform.
Ano passado peguei dengue duas vezes. Uma fraquinha e a seguinte achei que fosse morrer.
Tal qual as mudanças climáticas, os insetos não são mais os mesmos! Se a terra começar a esquentar demais, calcula o número de bichos que sairão do subterrâneo? Não quero nem pensar! :(
Bom fim de semana!
Beijus,

Anonymous said...

No Recife havia muito maruim.
E eles são luxentos, só gostam de água não poluída, devem estar em vias de extinção.
Manoel Carlos