Imponenete FIFA:
Eu sou da turma do sofá, aqueles que acompanham
a Copa de 2014 pela tv. Tenho artigos Adidas, aparelhos Sony, estou muito
tentado a voar com a Emirates na minha próxima vigem internacional, uso o meu cartão
Visa, estive recentemente num Mac Donald’s e até bebi Coca-cola e trouxe para
casa (sabe a quanto tempo eu não entrava num Mac Donald’s e não tomava
Coca-cola?). Prefiro as cervejas locais, mas a primeira partida do Brasil foi
regada a Budweiser e Hyundai muito provavelmente será a marca do meu próximo
carro. Percebeu, dona FIFA? Sou quem paga a conta, o cara a quem vocês têm que
agradar.
Contudo, atenção: todas as ações estudadas e
desenvolvidas para me conquistar podem virar um terrível bumerangue. Como
qualquer profissional de marketing bem sabe, a mensagem da propaganda deve
estimular o subconsciente. Inclusive o meu. Quer saber como funciona o meu
subconsciente? Depois da Copa de 1998, nunca mais usei nada da Nike – a única
exceção é a camisa da Seleção, e a marca da Nike nela,só faz aumentar a minha
antipatia. Percebeu o “nunca mais”? Eu
usava artigos da Nike antes.
Nasci e cresci no “país do futebol”.
Aprendi que estádio é lugar para se
frequentar com amigos, é sinônimo de festa, alegria e rivalidade sadia (bem,
nem sempre sadia). Batucada, bandeiras, papel higiênico, gritos de guerra,
comida típica e aquela sensação de estar numa imensa lata de sardinha, fazem
parte da memória do trocedor comum. Também aprendi a gostar da bagunça festeira
dos estádios transmitida pela tv. Enfim, sou um torcedor de futebol.
E, como torcedor, estou muito decepcionado com
a Copa no Brasil. Não, não vou falar da minha contrariedade pelo país ter
despejado rios de dinheiro no espetáculo, quando as necessidades são outras.
Nem do constrangimento pelas mortes de operários durante a construção de
estádios, da falta de preparação para organizar um evento mundial (viram os chilenos
que invadiram o Maracanã? – felizmente estavam armados apenas de paixão pelo
futebol), ou das obras superfaturadas e incabadas. Estou frustrado é com as
novas regras que desincentivam a participação popular. O padrão FIFA é cinza,
morno, apático.
Apostaria o dinheiro da reforma do Maracanã –
se o tivesse – que nenhum dirigente da entidade jamais assistiu a uma partida
de futebol da geral. Sim, o velho Maraca e os outros estádios precisavam de reforma,
mas descaracterizá-los daquele modo é extinguir anos de história de milhões de
torcedores. Os novos estádios e aqueles reformados para a Copa são tristes. São,
digamos assim, “padrão FIFA”. Alguém da federação já
tentou correr numa arquibancada com cadeiras? Não dá certo, é perigoso. A geral
permite (permitia) uma evacuação mais rápida. Além disso, as próprias cadeiras
podem ser usadas numa briga entre torcidas (acontece aqui onde vivo hoje). A
manutenção da geral evitaria ter de reduzir o número de assentos para deixar os
corredores de evacuação.
Ainda estamos na primeira fase e a média de
gols tem surpreendido. As seleções menores cresceram e as zebras frequentam os
gramados com naturalidade, o que deixa o torneio muito divertido. Apesar disso,
tenho visto cadeiras vazias até mesmo em partidas do Brasil (oi? Numa copa no
Brasil?). Era praxe as grandes potências do futebol enviarem dois árbritos para
as copas, mas uma estratégia de marketing decidiu flertar com países sem a
cultura do futebol, levando juízes menos experientes com consequentes desastres.
Numa copa não deveriam estar os melhores? Nenhuma declaração de dirigentes vai pacificar
a revolta dos injustiçados.
Apesar da melhoria da qualidade técnica dos
times, o espetáculo deixou de fora parte dele. Torcida faz barulho, canta,
sacode bandeira, faz coreografia, participa. Obrigar torcedores de futebol a
permanecerem sentados durante uma copa do mundo é não entender nada de emoção.
Nem de futebol. É burrice. Impor regras inibidoras aos torcedores vai acabar
afastando de vez o público dos estádios. O espetáculo perdeu a graça, como
churrasco de filé. A entidade máxima do futebol mundial adiantou o processo de
extinção do tatu-bola, pois o Fuleco, mascote oficial, não apareceu nem na
abertura nem em qualquer outro lugar. A única imagem que vi dele foi na chegada
de Zlatan Ibraimovich no Brasil, um jogador que não participa do torneio. Tudo
porque a entidade está travando uma queda de braço pelo preço a ser pago? Que
vergonha!
Pessoalmente tenho uma imagem muito negativa da
FIFA. Essa copa está conseguindo o que parecia impossível: piorar a reputação
dos dirigentes, com um terrível cheiro de corrupção no ar (e no mar, na terra, no fogo...) e muita burrice. Coisas do meu subconsciente, que os patrocinadores – atuais e
futuros – deveriam levar em consideração. Já imaginaram se clubes e jogadores
decidissem fundar uma nova associação mundial do esporte, excluindo qualquer
ligação com a FIFA? Já pensaram se os torcedores começassem a boicotar os
patrocinadores envolvidos em eventos da FIFA?
Coisas do meu subconsciente. E de quantos mais?
Insatisfeito,
Allan
Post Scriptum
Faltou dizer: A FIFA não demonstra respeito nem conhecimento pelas culturas locais. Uma prova é o hino oficial da Copa. Tentaram fazer algo internacional esquecendo-se (ou não sabendo mesmo) que o Brasil, antes de ser o país do futebol, é o país da música. O resultado é medíocre e ruim. Já pensaram numa música para a Copa composta por Jorge Benjor?
Coisas do meu subconsciente.
.
***
Post Scriptum
Faltou dizer: A FIFA não demonstra respeito nem conhecimento pelas culturas locais. Uma prova é o hino oficial da Copa. Tentaram fazer algo internacional esquecendo-se (ou não sabendo mesmo) que o Brasil, antes de ser o país do futebol, é o país da música. O resultado é medíocre e ruim. Já pensaram numa música para a Copa composta por Jorge Benjor?
Coisas do meu subconsciente.
10 comentários:
Gostei muito do seu texto. Gosto como escreve.
Bom Domingo e um Abraço. D
http://acontarvindodoceu.blogspot.pt
Allan, tenho as mesmas inquietações, os mesmos questionamentos, a mesma decepção. O preço dos ingressos é mais um fator de exclusão para o povão. Há um misto de paixão pelo futebol e revolta pelos "donos" da Copa.
Abraço, garoto
Muito bom seu post. Falou e disse tudo!
Como sempre, otimo texto Allan!
Concordo com cada paragrafo!
Um abraço
:)
Sei lá, sabe, esse lado negro tem em toda "entidade" e pessoas com poder, é incrível!
Olá! Tudo bem?
Nossa, muuuuito bom o seu post! Falou com a propriedade de um apaixonado pela arte do futebol! Não apenas do talento do jogo em si, mas de toda uma situação de comoção nacional que ele gera... A FIFA e os patrocinadores deveriam ler isso agora, ainda que eles não se importem (mas deveriam...), pois o que vc escreveu é a voz de quem faz a Copa do Mundo realmente acontecer: os povos que vibram com o esporte (e que também são consumidores)!
Beijos,
M.
CaseiComOMundo.blogspot.com.br
Olá Allan,
Adorei seu texto. Concordo com tudo que você disse e lamento pelas mudanças que descaracterizaram anos de história.
Meu marido disse isso sobre o maracanã e mesmo achando interessante a modernização, lamentou alguns pontos que você citou.
O Brasil se curvou para a FIFA. Logo de imediato já era previsto algo diferente, fora do nosso contexto. Falo isso pela abertura da Copa que foi um fiasco. Longe da criatividade do povo brasileiro.
Infelizmente os oportunistas levantaram mais uma vez a bandeira e saíram lucrando deixando erros na organização de um evento tão importante para o país.
Ah!!! Acho que estou querendo morar na Itália. (rsrs)
Bons fluidos.
Oi, Allan!
Sempre gostei de futebol, mas o que a Fifa está impondo me faz desgostosa e unido à ela estão as peças de marketing que fazem os jogadores sentirem-se astros e as propagandas de cerveja que colocam as mulheres também como produto. Pior que isso, é o grau de prostituição que invadiu as cidades onde os jogos são realizados.
A presidente diz que nos estádios as crianças estão presentes e que os pais deveriam se envergonhar de vê-las participar do tal xingamento. Mas e a bebida alcoólica consumida em lugar frequentado por menores de idade, também não é mal exemplo? Pois o xingamento foi errado e deveriam ter mandado a presidenta ir tomar cerveja...
Da copa, o mais revoltante pra mim foi o que fizeram com o maracanã. A copa no Brasil acabará e com ela uma história foi modificada.
Você já viu esse vídeo?
Beijus,
Nossos subconscientes estão em sintonia :)
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