Peguei
o primeiro trem pra Roma, cheguei q’a tarde acabava. Dali pra Ostia foi um
pulo. Antes que o sol deitasse, batia na porta da casa de meu irmão. Mimmo nem
se assustou quando abriu a porta, disse que sabia que cedo ou tarde eu tinha
que sair da toca. A família me arrecebeu como se deve, com alegria e acolhença.
Mimmo mostrou a casa, trouxe u’a toalha de banho, mostrou onde que eu ia
dormir, que era no cômodo que ele usava como escritório, aonde que tinha um
sofá-cama. Dia seguinte fomo até aonde que tavam construindo o porto turístico
de Ostia. Mimmo conversou com um amigo dele que tinha essa empreiteira que
fazia u’a parte das obra. O cidadão era amigo mesmo: me ofereceu trabalho e
moradia sem fazer pergunta. A morada era num container ajeitado, tinha até
ar-condicionado, televisão. Mimmo me abraçou forte, deu um pouco de dinheiro,
disse pra ir passar os domingo com ele, pra procurar por ele sempre que
precisava.
Os
trabalho precisava de quatro ano, que niguém tinha interesse que ficava pronto
logo. Fazia tudo o que dizia sem resmungar, o chefe era muito contente de mim.
Virei o homem de confiança dele. Mimmo sempre passava pra trazer alguma coisa:
tabaco, roupa, comida. Eu num precisava de nadica, mas apreciava que ele se
preocupava comigo. Nos dias de domingo ia almoçar com ele mais a família,
escutava as notícia do pai, da mãe, das coisa como andava em Nápoles. Os Della
Smorfia tinha exterminado toda a família dos Peperoncini, os agregado, até um
juiz. Mandaro caçar um que tinha fugido pra França, sumiro com tudo, num rinha
sobrado ninguém. Os Della Smorfia tinha virado u’a família poderosa. A faida
tinha acabado, ninguém falava mais.
Quando
a parte da obra do empreiteiro em Ostia findou, ele perguntou se eu queria ir
pra Lampedusa, na Sicília. Eu nem imaginava aonde que ficava, pensava que a
Sicília era u’a ilha só, até que ele explicou que Lampedusa é u’a ilha no meio
do mar, mais perto da Tunísia que da Itália, mas que era lá que ele tinha que
começar outra obra, um novo centro de acolhença pros deseperado que se
aventurava no mar, pra fugir da vida difícil no norte da África. O destino me
apontava Lampedusa. E Lampedusa seja.
A
primeira viagem de avião me deixou com u’a vontade louca de num arrepetir a
experiência mais nunca. Lampedusa parecia u’a pérola no meio do mar, u’a luz
pros desinfeliz. A gente de lá era acostumada com gente de fora, mas reclamava
muito dos político que fazia nadica de nada pela emergência dos imigrante, que
a ilha tinha que enfrentar praticamente sozinha o problema, que o dinheiro
nunca bastava.
Como
em Ostia, eu morava no container. O alojamento dos operário formava u’a fila de
container onde que dormia oito em cada container. O meu era separado, ficava do
lado do escritório. Eu que comandava quando o chefe num tava. Os operário me
respeitava, eu tratava todo mundo com autoridade, mas com respeito. Comigo
tinha quizomba não, estávamo todos lá pra trabalhar e sustentar a família no
continente. Vez em quando o chefe esticava o fim de semana, ficava a semana
inteira resolvendo as coisa em Roma; vez em quando a mulher do refeitório
passava a noite no meu container; vez em quando eu tinha que despachar alguém
depressa deprecíssima pro continente; vez em quando a praia acolhia os corpo
dos imigrante meno afortunado.
Já
tinha pra mais de dois ano que eu tava em Lampedusa que a mãe adoeceu. O chefe
me deu a paga, todo o dinheiro que ele me tinha guardado, u’a passagem de avião
pra Salerno, que chegar direto em Nápoles era arriscado. Desejou boa sorte,
disse que se eu queria voltar, o meu lugar tava garantido. O destino voava
comigo pra onde que eu num esperava voltar tão cedo, mas a gente num comanda o
próprio destino, só obedece.Cheguei no aeroporto de Pontecagnano que as perna
tremia. O tio Ludovico me esperava e seguimo viagem rumo a Nápoles. Paramo na
casa de um seu parente em Nocera Inferiore, pra esperar a noite anoitecer. Tava
cansado daquela vida de jurado de morte, queria ser jurado de vida outra vez,
mas na vida a gente aprende a se conformar. E jurado seja.
Continua...
Continua...
7 comments:
Este Romeu num tem Julieta não, moço?
Abraço, garoto
Ge, o último capítulo já, já chega.
Denise, o Salvatore é um exemplar típico da raça (humana, masculina, jovem... escolha). Giulietta é que não falta. :)
Imagino que sim, Allan. Mas refiro-me à uma menina da família rival, tal qual a clássica história, hehe.
Abraço, garoto
E que não se conforme pra ver! ra ra
Talvez se ele se sentisse um "jurado de vida", o destino seria outro, ele teria forcas e um novo projeto de vida seria traçado. Mas algumas vezes somos apenas levados pelo vento...
Adoro a expressão idiomática da sua redação.
Hoje teu post me fez voltar para uma realidade já bem esquecida por mim, o dos extermínios da máfia! Esquecido, pois onde vivo não se escuta falar muito disso, mas é uma dura realidade!
Outra dura realidade que com o dia dia acabamos por esquecer é o descaso para com aqueles imigrantes que vivem pior do que animais naqueles centros de acolhença!
Somos muito fortunados com a vida que temos!
Voltando ao fascinante Salvatore... espero que ele seja realmente jurado de vida!
Aguardo o próximo capítulo:)
Bjim
Léia
Denise, A vida do salvatore está mais para Andrea Camilleri que para Sheakspeare. :)
Cris (Casulo-online), o problema é se conformar, acreditar que tudo está escrito e não tentar mudar. Acho que o Savio é do tipo que se conforma. Ou não? :)
Léia, vivemos longe de muitas realidades e devemos agradecer por isso. O Salvatore, não. :)
Inevitável pensar que ele se acomodou. O que faz o medo, não?
Enquanto isso, pelo menos não se meteu em encrencas.
Como será o desfecho?
Abraço.
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