Ele chegou na quinta-feira, pouco antes do
meio-dia. Cresceu treze anos. Sorriso aberto, abraço afetuoso de saudade
acumulada e lembranças esquecidas. Almoço com a Luiza, cochilo no sofá e depois
demos uma longa volta pelo centro. “Muito bonita, essa cidade. Gostei.”
Esticamos até o mercadinho, que ele gosta de panetone. Esticamos mais um pouco
que ele tinha que provar a focaccia di Recco. “Nossa, que delícia!”. Espontâneo
como um primo, feliz como a juventude.
Contou de parentes e de lugares que conhecemos.
Espiou como se faz massa com abobrinha, comeu e gostou. Tomou cerveja: “Recusar
cerveja é falta de educação. Não oferecer, também.” Contou de gente e lugares
que conheceu. Descobriu a capacidade de se adaptar, de tolerar e de bater forte
na hora certa. Cresce e amadurece sem deixar de sorrir. Tomou vinho, olhamos
fotos. Espiou a receita de massa com limão, comeu e gostou. Elogiou o meu
feijão: a abastinência de cinco meses da popular leguminosa pode ter
influenciado no julgamento, porém, o código de sobrevivência da minha
autoestima confirmou a sinceridade dele. Fiquei com o elogio.
Me entusiasmo com quem – como eu – já acorda de
bom humor. Com o canto do olho notei intuitivamente o clarão na janela, um
segundo Big Bang, quando ele e as duas primas reuniram as personalidades
solares em volta da mesa (por que será que família combina com cozinha?).
Fotos, passeios, receitas, planos. O futuro geólogo vai mineirar o mundo. Ou
ficar rico fazendo biscoitos. ...Se sobreviver a tantas noitadas e noites
insones em aroportos e rodoviárias.
Vai, Danilo, exporta teu sorriso por esse mundo
adentro. Mas volte, que primo que é primo sempre volta. Volte para novas
receitas, para nos fazer provar as tuas, contar dos planos realizados, provocar
outros big bangs, elogiar a nossa comida, conhecer novos vinhos e lugares,
deliciar-se com novas descobertas e cochilar no sofá. E traga biscoitos.
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16 comments:
Allan, que jeito bacana e lírico de descrever a passagem de alguém querido em tua casa! Fiquei pensando no fato de cozinha ser lugar de reunir a família. Infelizmente, a maioria dos apartamentos não têm espaço na cozinha. A sala, com tevê, rouba estes momentos tão singulares. Observo que, na casa de mamãe, as visitas vão direto pra cozinha, enorme. Lá, realmente, é o coração da casa.
Quem sabe não é a hora de desligar a tevê e tornar a sala o coração da casa... Valeu a reflexão!
Ótimo domingo!
Abraço, garoto
que beleza este teu primo, um sol!!!e voce e um mestre em faze-lo provar todas estas coisas gostosas! tenho saudades!!!!!!!!!
um beijoa
Rever familiares, principalmente aqueles que não víamos desde pequenos, é uma experiência única!
Gosto de pessoas que sabem elogiar e se adaptam com facilidade.
Que delicia de texto Allan! Fiquei pensando em mil manieras de agradecer, mas nada que eu diga vai bater esse texto que você escreveu. Muito obrigado a vocês por esses três dias (que passaram voando) e por todos os ótimos momentos juntos! Foi uma delicia re-conhecer vocês, que delicia de familia!! Ja deixaram saudades!! Volto assim que possível, e trago biscoitos!!
Muitos abraços a todos!!
Denise, a cozinha é o útero da família. Precisamos recuperar o hábito de encontrar também os amigos na cozinha. :)
Myra, como receber alguém querido sem fazer provar os nossos segredos? :)
Bruxa, gosto de receber os amigos, também. Receber gente em casa é viver. :)
Danilo, esperamos a sua volta. :)
Família, combina com carinho e cozinhar é um gesto de carinho, logo comer é algo para se fazer com quem se gosta. Tem tudo a ver. : ) Uma delicia te ouvir falar desta visita...
Melhor que a visita, deve ser o anfitrião, para ter até poetizado a estadia. Bonito!
Oi Allan, fiquei muito contente com sua visita lá no blog. Obrigada por nos explicar o que significa "in brodo". Nada como aprender com alguém que vive na Itália. Grande abraço, Cintia de Estocolmo
Fiquei pensando no que comentar sobre como é bom ter uma visita assim e um anfitrião desses, mas eu queria mesmo dizer que vc escreve muitíssimo bem. Belo texto.
Beijo
tio,
se eu for aí vc faz gutiguti ni mim também?
pedro luis
Dayanne, Cozinhar em família é mais gostoso. :)
Asulo-online, valeu a visita e o elogio! O anfitrião depende sempre da visita. ;)
Cíntia, espero te ver mais vezes por aqui. Obrigado pelo link. :)
Paula, obrigado pela gentileza. Os meus leitores e leitoras é que são especiais. :)
Pedro Luis, eu não tenho um sobrinho com o seu nome. :P
Pelas tuas descrições o Danilo é o tipo de pessoa que vale muito a pena ter por perto!
Visita como ele é bom demais!
Um abraço
Léia
Léia, o Danilo é um daqueles primos (das meninas) que fez com que se criasse a frase "primo é um irmão que escolhemos".
:)
Allan, lindo, lindo seu texto.
Você já leu "O arroz de Palma"? Ocorreu-me, pelo que vc falou de cozinha/família/aconchego que poderá gostar do livro. O autor é Francisco Azevedo e a história começa em Portugal.
Abraço!
Se um dia a gente se conhecer pessoalmente, quero uma descrição dessa auhauahau
Kisu!
Família e cozinha... os prazeres inerentes à vida.
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