Giorgio tem 68
anos e é motorista de taxi a 45. Giorgio nunca se casou, não tem parentes e
vive sozinho. Seus amigos são outros motoristas de taxi, mecânicos, balconistas
de bares, o jornaleiro e uns poucos clientes habituais. Nunca teve um cão, gato
ou plantas; mesmo assim, Giorgio se considera um homem feliz. Leva uma vida
simples e sem novidades; nunca foi ao médico, nunca saiu da província de
Cremona, a cidade dos violinos, terra de Stradivarius.
No pequeno
apartamento herdado dos pais, a decoração é a mesma há quarenta anos. A cozinha
só é usada para fazer café e guardar algumas bolachas. A geladeira foi
desligada por falta de uso quando a mãe – já viúva – morreu. Giorgio come
na rua. Giorgio volta para casa raramente e só para tomar banho, lavar e passar
a roupa, limpar a casa e dormir, mas já ficou mais de um mês sem voltar.
Giorgio troca de
carro a cada três anos e escolhe sempre o mesmo modelo da mesma marca, com
todos os ítens de conforto oferecidos. Giorgio passa o dia e a maioria das
noites dentro do taxi e até instalou uma pequena televisão no painel. Giorgio é
cortêz, sorridente e bom ouvinte. O taxi de Giorgio está sempre limpo e
perfumado.
O corpo de
Giorgio foi se moldando aos poucos. O ombro esquerdo é um pouco mais alto que o
direito e os dois lados do corpo são assimétricos, como consequência do hábito
de Giorgio virar para falar com os clientes. Giorgio desenvolveu um
movimento involuntário: puxa o ombro direito para trás e move o rosto para a
direita, mesmo quando está fora do taxi. Giorgio se sente melhor dentro do
carro e é por isso que acha que o “drive
thru” é melhor invenção do ser humano.
Giorgio se
considera um homem feliz. Vai se adaptando de corpo e alma ao que a vida
reservou para ele, no mundo que conhece bem, dentro da província de Cremona.
Uma cidade cheia de monumentos, museus, ateliers, bares e restaurantes que ele
sabe de cor aonde ficam, mas que jamais visitou. Tudo o que Giorgio precisa é
do universo do taxi dele, de algumas corridas por dia, alguns sanduíches e um
cobertor para o inverno. Giorgio puxa o ombro direito para trás e sorri para o
cliente. É só outra corrida de taxi.
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15 comments:
Vida simples e 'feliz' a do Giorgio,mas sinto uma angustia grande ao imaginar sua vida.será q ele nunca teve sonhos,ambições nesse pequeno mundo em que vive?Vida longa ao GIORGIO! Inté!
acho o Giorgio um homem mais que feliz...faz o que gosta e nao se complica vida...tenho inveja...
tive e tenho uma vida complicada demais...e agora e tarde para fazer como Giorgio,
linda, Allan!
bjos
Uma vida diferente da nossa, que enchemos nossas casas de coisas, nossa vida de coisas, nossa cabeça de coisas...o Giorgio esse tem um número muito limitado de coisas. Talvez seja melhor, sei lá!
Adoro suas crônicas! Essa é tocante... pode ser história real!
Parabéns e felicidades do companheiro Paulo Silva taxista Taxi In Rio Exclusive Cab Drive Service
Twitter @taxidorj
www.taxiinrio.com.br
Veja no YouTube o vídeo Taxi In Rio.
Me pego pensando sobre a vida do Giorgio e ouso perguntar-me se pra ele "isso" basta. Desaforo meu! Cada um sabe da sua felicidade e do que, onde e como fazer para conquistá-la.
A felicidade vem de dentro independente do que a vida nos ofereça
Dani Bispo
Nossa!! Como vc escreve bem! Meus parabéns! Sou sua mais nova seguidora.
priscilaitaly.blogspot.it
Achei Giorgio solitário.
Feliz com sua vida, mas solitário... E mesmo assim, sempre pronto a dar o melhor de si para quem encontro no caminho.
Belo texto.
Abraços e linda tarde.
Allan,
Assim como Giorgio, muitos motoristas andam por todos os cantos de uma cidade sem realmente conhece-las. Conhecem as vias, seus nomes, mas não o que há de importante nelas.
Quando ao corpo, já reparei em muitos motoristas que acabam se "moldando" e acomodando tambem.
Beijos
Bom final de semana.
Pareceu-me que a rotina dele é triste e sua vida limitada e vazia; no entanto, se ele mesmo se considera uma pessoa feliz, então, tudo está certo.
Abraço, garoto
Tem gente que precisa de pouco pra viver. Para a gente parece um pouco limitado, mas é uma vida boa, por isso ele não se mexe, pq não se incomoda.
Kisu!
Adorei a estoria. Deus me livre essa vida, mas que descricao bacana!
meu bom amigo parabens pela maneira como escreve...mas nao ficou claro sua opiniao sobre esse cuitado do Giorgio figura quase deploravel de uma vida sem sentido. Como muitos mesmo que sem taxi e com BMW na garagem. Mundo pequeno rondando essas cabecinhas...
abraços
Caro Walter,
Muito obrigado pelo elogio.
Sou um observador (neste caso) e apenas relato o mundo do Giorgio. Cabe ao leitor sentir e tomar posições. Se a minha carta fez refletir, já fico feliz.
Abraços.
:)
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