Thursday, August 30, 2012

A crise da moral italiana


Até alguns meses atrás, as licenças para bares na Itália eram emitidas pelos órgãos públicos tendo como base o número de habitantes de uma zona. Quem desejasse abrir um era obrigado a comprar a licença de quem possuísse um bar, ou esperar por anos – e às vezes por séculos – que a densidade demográfica mudasse. Com a liberalização da economia, essa exigência caiu. Aquele pedaço de papel que valia ouro transformou-se num simples alvará.

Muita gente que sonhava em abrir um bar e ficar rico, nem se deu conta que a concorrência deixou de ser protegida para tornar-se selvagem. E muita gente abriu um bar. E a crise chegou. E muitos bares estão à venda ou simplesmente fecharam, levando para o ralo dos bancos a poupança de muitas vidas.

Para chegar no fim do mês, com a crise devorando empresas e empregos, os sem-emprego e os sem-bar começaram a vender o pouco ouro que haviam nas gavetas, herdado das avós, criando espaço para um outro filão: as bocas de ouro. Milhares de lojas e franquias que anunciam “compro ouro” florescem a cada dia como os girassóis da Toscana florescem no verão. Assim como as casas de apostas – porque sonhar é preciso – e as casas de massagem tailandesa, que livram do stress e das frustrações por alguns minutos. As velhas joias de família estão se exaurindo enquanto as bocas de ouro aumentam; a falta de dinheiro causa muito stress e lotam as casas de massagem; a esperança se renova a cada minuto nas casas de apostas. O número de assaltos também aumentou, o que pode explicar a prosperidade das bocas de ouro, que sustentam as casas de massagem e as de apostas.

Com a política transformada em profissão – e, muitas vezes, num grande negócio – o exemplo surte efeito naquela que sempre foi a base dessa sociedade: a família italiana. Resta a saber se a casa da avó está mais apta para uma casa de apostas ou boca de ouro. Se for uma avó italiana.
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9 comments:

Menina no Sotão said...

É meu caro, sinceramente está dificil a situação. Confesso que minha última visita a Gênova deixou-me alarmada. Saudades de tempos outros... Mas tudo passa, é o que dizem. Resta saber o que será de nós depois que tudo isso passar...
bacio

myra said...

quem qdo vai passar...e o que vai ficar..pena...
abraços tristes

Meiroca said...

Infelizmente o momento esta dificil...

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ said...

Allan, sempre se falou em crise e os grandes países sempre a viveram.

Eu, nao me lembro de uma crise tao forte como esta que o mundo inteiro está a passar.

Mas com fé vamos conseguir. Nossos avós conseguiram, por que nao nós?


Boa semana

peri s.c. said...

" Compro ouro ", lotéricas, massagens, assaltos, o mundo vai virar um imenso Brasil. Mas falta ainda o roubo de carros para desmanchá-los , os sequestros-relâmpagos e as explosões de caixas-automáticas de bancos ( essa tecnologia já estamos exportando para Portugal ... ).

Anonymous said...

Oi Allan,

Avisa ao Peri aí de cima que aqui na Itália já temos tudo isso sim, afinal, os políticos fazem escola e a máfia é invenção italiana. Kkkkkk!

Maíra

Nennafalchi said...

A coisa na Itália tá feia mesmo, tá faltando $ até pra pizza. Só vendo de perto pra crer. :(

Anonymous said...

tá maus, tio?

pedroluis

cucchiaiopieno.com.br said...

Caro Allan
Por aqui também tenho visto muitos bares fechados e realmente tenho visto essas "bocas de ouro", mas não tinha ligado lé com cré!!!
Por aqui fala-se apenas em crise e nota-se, principalmente agora no verão, pois quando vou a praia os "ombrelloni" estão vazios, bem diferente de quando vim morar aqui há 5 anos atrás:(
Sai de férias, comprei a minha sombrinha e fui para a "spiaggia libera" em vez de pagar um mínimo de 20 euros ao dia e foram as melhores férias da minha vida! Na próxima vez vou comprar também a bolsa térmica - hehehehe! Os tempos são outros:)
Léia